2 – AMADURECIMENTO HUMANO E
ESPIRITUAL NA VIDA RELIGIOSA
PROCESSO
DE AMADURECIMENTO
A
maturidade afectiva vai sendo adquirida em um processo longo e paulatino, através
das diferentes etapas da vida, é um caminho. Trata-se do autoconhecimento e controle
dos próprios afectos, de uma maneira livre e constante. É a capacidade de amar intensamente
e se deixar amar por Deus e pelos outros. Alguns elementos importantes neste processo
para a maturidade pessoal são: atingir um
sentido sadio de identidade pessoal, sentido de intimidade e sentido de transcendência
pessoal.
Em
cada uma das etapas da vida, a pessoa
vive a maturidade afectiva de uma maneira específica e, conforme vai avançando neste
processo vital, também está chamada a se identificar com os sentimentos de Cristo,
através de um sentido de identidade, de intimidade e de transcendência.
Sentido de identidade pessoal:
quando se é capaz de responder à pergunta “Quem sou?”, e através de uma adequada
auto-estima, que – por sua vez – implica um autoconhecimento de aspectos positivos
e negativos da personalidade, assim como auto-valorização, auto-confiança, auto-controle
e auto-afirmação.
Sentido de intimidade pessoal:
é a capacidade de se relacionar, de maneira íntima, com as demais pessoas, de dar
e de receber afecto, assim como de viver relacionamentos amistosos com distinto
grau de profundidade no equilíbrio e na harmonia.
– gerir as emoções.
Sentido de transcendência
pessoal: quando se é capaz de responder à pergunta
“Para que existo?”. Trata-se de encontrar um sentido para a própria existência.
Portanto,
a pessoa madura é aquela que possui:
•Verdadeiro
conhecimento de si mesma.
•Aceitação
de si e das outras pessoas.
•Reconhecimento de qualidades e aptidões, assim
como das próprias limitações.
•Reconhecimento
de emoções e sentimentos.
•Capacidade
de amar e ser amada.
•Independência
nas relações pessoais.
•Capacidade
de criar relacionamentos amistosos e profundos
• Autocontrole.
1-FASE DA INTIMIDADE X ISOLAMENTO
( 20-35 ANOS).
Toda pessoa precisa
encontrar o significado de sua existência, porque – de outro modo – viverá um vazio
existencial que a leva a experimentar uma sensação de desespero e de insatisfação
em sua vida pessoal.
Para
Erikson o jovem adulto passa pela fase da Intimidade X Isolamento, onde deseja um
relacionamento afectivo íntimo, duradouro e continuo, através de relações profundas,
buscando, também nessa fase, a construção de uma carreira profissional que lhe dê
estabilidade e boa condição financeira.
MATURIDADE HUMANA
E VIDA RELIGIOSA
Etapas em que se
identifica a ação madura do ser humano
No caminho formativo da vida consagrada,
cada pessoa é uma pessoa, como o escopo de, neste exercício, rever e ressignificar
valores da vida em prol do amadurecimento e da correcção das atitudes através da
aprendizagem com o passado, levando sempre o indivíduo a uma nova percepção de si.
Esta nova percepção, que deveria resultar num homem novo, como fala Paulo, está,
no processo formativo, directamente relacionado à dimensão humana do formando e
que deve estar sempre presente à compreensão do formador. Querer fazer de um homem
um santo desconsiderando sua intrínseca humanidade é no mínimo bobagem. Daí a necessidade
de se resgatar a história do vocacionado (a).
Esta retomada da própria história deveria
fazer com que “a própria vida se torne como uma contínua descoberta do sentido da
presença e da acção de Deus nela. E é exactamente dessas descobertas que emerge
uma certa maneira de conceber a maturidade da própria humanidade” (CENCINI, 2002).
Nesta perspectiva, há quatro pontos ou etapas em que se identifica a acção madura
do homem:
1 – Da sinceridade à verdade: 2- Força na
fraqueza: 3 – Liberdade de projectar-se:
4 – Entrega da vida:
Vou
aprofundar a 2ª etapa, força na fraqueza, como etapa central deste estudo.
2 – Força
na fraqueza: neste ponto Amadeo toca numa ferida constante em muitos processos
formativos, a idéia de maturidade como inabalabilidade. A maturidade considerada
como um escudo inabalável, forte e perene. Ferida essa sempre remexida tanto por
formandos como por formadores. O autor explica que existem jovens que atravessaram
todas as fases formativas sem a ajuda de ninguém ou sem permitir que os ajudassem
a decifrar sua própria inconsistência, e que, em muitos casos, depois da profissão
perpétua e da ordenação, a crise explodiu pontualmente ou até com mais frequência. (CENCINI, 2002 p. 144).
A valorização dos momentos de fraqueza nos
ensinam a conviver com diversas situações de fraqueza dos outros e nos ensinam a
humildade do rezar. “A sensação sofrida de vulnerabilidade e impotência coloca quem
crê de joelhos diante de Deus, faz com que busque a ajuda e a força que não encontra
dentro de si (...)” (CENCINI, 2002 p. 145).
Neste processo de
amadurecimento o que importa é
a necessidade de fazer cada vez mas consciente
nossa motivação primária, amar a Deus de todo coração . É um processo
duplo de amar a Deus e ser profundamente amados por Ele. E saber que Ele vem ao
nosso encontro sempre, e em resposta dirigimos o nosso amor a Ele. A pessoa que
opta pela vida religiosa cria uma busca constante de colocar a Deus no centro de
toda a sua capacidade de amar, e todas as demais pessoas, compromissos e coisas
integradas nesse amor.
Idade é =maturidade?
Existe uma idade biológica e uma idade espiritual
que não se correspondem necessariamente.
Há pessoas jovens que espiritualmente são
adultos em Cristo, e há pessoas adultas que espiritualmente, são ainda crianças.
A vida espiritual normalmente não segue uma
línea recta, mas sim ondulada. Ou seja, os esquemas do crescimento espiritual não
são totalmente rígidos. Além disso, sabemos que a vida espiritual está sempre aberta
ao extra-ordinário, já que o Espírito Santo sopra onde quer (João 3,8).
É muito importante, nos recorda a Conferência
de Aparecida, a dimensão formativa que funda o ser cristão na experiência de Deus
manifestado em Jesus e que o conduz pelo Espírito através dos cominhos de profundo
amadurecimento ( Aparecida, n.280b).
Todos
deveríamos deixar-nos plasmar dia a dia pelo Espírito Santo até chegar a ser “homens
e mulheres perfeitos, na medida da plenitude de Cristo” ( Ef 4,13).
A nossa tarefa como formadores é ser instrumento
nas mãos de Deus para ajudar as pessoas, a nós confiadas, a olhar para Cristo, deixar-se
transformar pelo seu amor incondicional (fazer experiência) até chegar a essa plena
transfiguração que se realizará completamente
na ressurreição. Entretanto temos a tarefa apaixonante de acompanhar os formandos
neste caminho onde Cristo se revela como doador do amor e ao mesmo tempo como mendigo
de amor.
O que mais dói para Deus è a falta de confiança
no seu amor. Não confiar nele. É muito importante tirar as idéias falsas de Deus
que a pessoa carrega. O coração de Deus é infinito, não podemos projetar a pequenez
do nosso coração limitado, julgar com a nossa corta medida de amor. Deus ama a cada
pessoa indistintamente e incondicionalmente
(cf Isaias 49,15).
Experimentar
esse amor, pleno e incondicional levará a pessoa a sentir que é amada como ser único
e irrepetível, sem depender de suas qualidades ou defeitos. O amor de Deus é o único
que nos liberta totalmente. Viver no seu amor será a nossa eterna felicidade. (Jer
31,3)
Um
novo jeito de relacionar-se
Jesus inaugura um novo jeito de se relacionar
com seus discípulos. Um modo próprio de expressar afecto, de estabelecer relações
e de gozar da companhia e do amor dos outros, procurando a sua companhia e deixando-se
encontrar.
Jesus nos manda amar- nos uns aos outros
( Jo 15,2), amando a cada um com a mesma benevolência de Deus.
Assim a pessoa se vai libertando progressivamente
da necessidade de colocar-se no centro de todos e aprende a centrar todo afecto em Deus, tendo a certeza de
ser amado como ser único, e de poder e dever amar. De tal modo que há certeza que
amor recebido torna-se amor doado. De graça recebeste de graça deves dar ( Mt 10,8).
Não importa onde estamos nem o que fazemos,
mas a mente sempre olhando para a vontade de Deus. Esta é a grande diferença entre
a vida consagrada e o trabalhador numa obra social. A pessoa consagrada vive completamente
entregue ao coração de Cristo, de tal forma que tudo contribui para se tornar Aquele
que ama e procura Jesus. O amor, a misericórdia, a bondade, a compaixão, a verdade,
vão transformando a pessoa até chegar a plena estatura de Cristo. “É o Deus que
carrega em seu coração e que encontra em
suas orações, nas pessoas e na transubstanciação do planeta no reino de Deus que
impulsiona a sua vida”.
A gratidão
e alegria de viver por estar em comunhão com a Fonte da Vida, ajudarão a viver em
intima comunhão com Cristo e a ter o momento da nossa plena comunhão com Ele.
Conclusão
A maturidade espiritual
e a maturidade humana estão intimamente ligadas. Não há amadurecimento espiritual
sem amadurecimento humano.
A nossa vida é um
caminho no qual podemos, em cada etapa, ter certeza de que Deus caminha connosco,
e de que seu amor nos envolve e nos acompanha. Quando nos abrimos ao Espírito de
Deus, Ele penetra as nossas estruturas e opera em nós uma continua transformação
chegando a “plena estatura de Cristo”, meta do nosso amadurecimento humano e espiritual.
Chegaremos
assim a ser pessoas transparentes ao amor divino que quer transformar o mundo através
de nós. Pessoas amorosas, pacificas, alegres, apaixonadas, que fazem da sua vida
uma contínua doação, que sabem de suas fraquezas, mas confiam unicamente em Deus,
pelo qual são continuamente modeladas.
Referência bibliográfica
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Disponível http://pt.almas.com.mx/almaspt/artman2/publish/Elementos_da_maturidade_afetiva_na_vida_consagrada2.php
Acesso em 27 mar,2011
BIBLIA
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CENCINI,
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Acesso em 27 mar. 2011
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