Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Mensagem do Papa Francisco

 

Dia Mundial da Paz 2022: "Educação, trabalho, diálogo entre as gerações"

Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura

1. «Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz» (Is 52, 7)!

Estas palavras do profeta Isaías manifestam a consolação, o suspiro de alívio dum povo exilado, extenuado pelas violências e os abusos, exposto à infâmia e à morte. Sobre esse povo, assim se interrogava o profeta Baruc: «Por que estás tu em terra inimiga, envelhecendo num país estrangeiro? Contaminaste-te com os mortos, foste contado com os que descem ao Hades» (3,10-11). Para aquela gente, a chegada do mensageiro de paz significava a esperança dum renascimento dos escombros da história, o início dum futuro luminoso.

Ainda hoje o caminho da paz – o novo nome desta, segundo São Paulo VI, é desenvolvimento integral [1] – permanece, infelizmente, arredio da vida real de tantos homens e mulheres e consequentemente da família humana, que nos aparece agora totalmente interligada. Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que ganham espaço doenças de proporções pandémicas, pioram os efeitos das alterações climáticas e da degradação ambiental, agrava-se o drama da fome e da sede e continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo do que na partilha solidária. Como nos tempos dos antigos profetas, continua também hoje a elevar-se  o clamor dos pobres e da terra [2] para implorar justiça e paz.

Em cada época, a paz é conjuntamente dádiva do Alto e fruto dum empenho compartilhado. De facto, há uma «arquitectura» da paz, onde intervêm as várias instituições da sociedade, e existe um «artesanato» da paz, que nos envolve pessoalmente a cada um de nós [3]. Todos podem colaborar para construir um mundo mais pacífico partindo do próprio coração e das relações em família, passando pela sociedade e o meio ambiente, até chegar às relações entre os povos e entre os Estados.

Quero propor, aqui, três caminhos para a construção duma paz duradoura. Primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projectos compartilhados. Depois, a educação, como factor de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim,  o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social» [4], sem o qual se revela inconsistente todo o projecto de paz.

2. Dialogar entre gerações para construir a paz

Num mundo ainda fustigado pela pandemia, que tem causado tantos problemas, «alguns tentam fugir da realidade, refugiando-se em mundos privados, enquanto outros a enfrentam com violência destrutiva, mas, entre a indiferença egoísta e o protesto violento há uma opção sempre possível: o diálogo, [concretamente] o diálogo entre as gerações» [5].

Todo o diálogo sincero, mesmo sem excluir uma justa e positiva dialética, exige sempre uma confiança de base entre os interlocutores. Devemos voltar a recuperar esta confiança recíproca. A crise sanitária atual fez crescer, em todos, o sentido da solidão e o isolar-se em si mesmos. Às solidões dos idosos veio juntar-se, nos jovens, o sentido de impotência e a falta duma noção compartilhada de futuro. Esta crise é sem dúvida aflitiva, mas nela é possível expressar-se também o melhor das pessoas. De facto, precisamente durante a pandemia, constatamos nos quatro cantos do mundo generosos testemunhos de compaixão, partilha, solidariedade.

Dialogar significa ouvir-se um ao outro, confrontar posições, pôr-se de acordo e caminhar juntos. Favorecer tudo isto entre as gerações significa amanhar o terreno duro e estéril do conflito e do descarte para nele se cultivar as sementes duma paz duradoura e compartilhada.

Enquanto o progresso tecnológico e económico frequentemente dividiu as gerações, as crises contemporâneas revelam a urgência da sua aliança. Se os jovens precisam da experiência existencial, sapiencial e espiritual dos idosos, também estes precisam do apoio, carinho, criatividade e dinamismo dos jovens.

Os grandes desafios sociais e os processos de pacificação não podem prescindir do diálogo entre os guardiões da memória – os idosos – e aqueles que fazem avançar a história – os jovens –; tal como não é possível prescindir da disponibilidade de cada um dar espaço ao outro, nem pretender ocupar inteiramente a cena preocupando-se com os seus interesses imediatos como se não houvesse passado nem futuro. A crise global que vivemos mostra-nos, no encontro e no diálogo entre as gerações, a força motora duma política sã, que não se contenta em administrar o existente «com remendos ou soluções rápidas» [6], mas presta-se, como forma eminente de amor pelo outro, [7] à busca de projectos compartilhados e sustentáveis.

Se soubermos, nas dificuldades, praticar este diálogo intergeracional, «poderemos estar bem enraizados no presente e, daqui, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças. Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros» [8]. Sem as raízes, como poderiam as árvores crescer e dar fruto?

É suficiente pensar no cuidado da nossa casa comum, já que o próprio meio ambiente «é um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração seguinte» [9]. Por isso, devem ser apreciados e encorajados os numerosos jovens que se empenham por um mundo mais justo e atento à tutela da criação, confiada à nossa custódia. Fazem-no num misto de inquietude e entusiasmo, mas sobretudo com sentido de responsabilidade perante a urgente mudança de rumo [10], que nos é imposta pelas dificuldades surgidas da atual crise ética e sócio-ambiental [11].

Por outro lado, a oportunidade de construir, juntos, percursos de paz não pode prescindir da educação e do trabalho, lugares e contextos privilegiados do diálogo intergeracional: enquanto a educação fornece a gramática do diálogo entre as gerações, na experiência do trabalho encontram-se a colaborar homens e mulheres de diferentes gerações, trocando entre si conhecimentos, experiências e competências em vista do bem comum.

3. A instrução e a educação como motores da paz

Nos últimos anos, diminuiu sensivelmente a nível mundial o orçamento para a instrução e a educação, vistas mais como despesas do que como investimentos; e, todavia, constituem os vetores primários dum desenvolvimento humano integral: tornam a pessoa mais livre e responsável, sendo indispensáveis para a defesa e promoção da paz. Por outras palavras, instrução e educação são os alicerces duma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso.

Ao contrário, aumentaram as despesas militares, ultrapassando o nível registado no termo da «guerra fria», e parecem destinadas a crescer de maneira exorbitante [12].

Por conseguinte é oportuno e urgente que os detentores das responsabilidades governamentais elaborem políticas económicas que prevejam uma inversão na correlação entre os investimentos públicos na educação e os fundos para armamentos. Aliás a busca dum real processo de desarmamento internacional só pode trazer grandes benefícios ao desenvolvimento dos povos e nações, libertando recursos financeiros para ser utilizados de forma mais apropriada na saúde, na escola, nas infra-estruturas, no cuidado do território, etc.

Faço votos de que o investimento na educação seja acompanhado por um empenho mais consistente na promoção da cultura do cuidado [13]. Perante a fragmentação da sociedade e a inércia das instituições, esta cultura do cuidado pode-se tornar a linguagem comum que abate as barreiras e constrói pontes. «Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura económica e a cultura da família, e a cultura dos meios de comunicação» [14]. É necessário, portanto, forjar um novo paradigma cultural, através de «um pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras» [15]. Um pacto que promova a educação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente [16].

Investir na instrução e educação das novas gerações é a estrada mestra que as leva, mediante uma específica preparação, a ocupar com proveito um justo lugar no mundo do trabalho [17].

4. Promover e assegurar o trabalho constrói a paz

O trabalho é um factor indispensável para construir e preservar a paz. Aquele constitui expressão da pessoa e dos seus dotes, mas também compromisso, esforço, colaboração com outros, porque se trabalha sempre com ou para alguém. Nesta perspectiva acentuadamente social, o trabalho é o lugar onde aprendemos a dar a nossa contribuição para um mundo mais habitável e belo.

A pandemia Covid-19 agravou a situação do mundo do trabalho, que já antes se defrontava com variados desafios. Faliram milhões de actividades económicas e produtivas; os trabalhadores precários estão cada vez mais vulneráveis; muitos daqueles que desempenham serviços essenciais são ainda menos visíveis à consciência pública e política; a instrução à distância gerou, em muitos casos, um retrocesso na aprendizagem e nos percursos escolásticos. Além disso, os jovens que assomam ao mercado profissional e os adultos precipitados no desemprego enfrentam hoje perspectivas dramáticas.

Particularmente devastador foi o impacto da crise na economia informal, que muitas vezes envolve os trabalhadores migrantes. Muitos deles – como se não existissem – não são reconhecidos pelas leis nacionais; vivem em condições muito precárias para eles mesmos e suas famílias, expostos a várias formas de escravidão e desprovidos dum sistema de previdência que os proteja. Mais, atualmente apenas um terço da população mundial em idade laboral goza dum sistema de protecção social ou usufrui dele apenas de forma limitada. Em muitos países, crescem a violência e a criminalidade organizada, sufocando a liberdade e a dignidade das pessoas, envenenando a economia e impedindo que se desenvolva o bem comum. A resposta a esta situação só pode passar por uma ampliação das oportunidades de trabalho digno.

Com efeito o trabalho é a base sobre a qual se há-de construir a justiça e a solidariedade em cada comunidade. Por isso, «não se deve procurar que o progresso tecnológico substitua cada vez mais o trabalho humano: procedendo assim, a humanidade prejudicar-se-ia a si mesma. O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal» [18]. Temos de unir as ideias e os esforços para criar as condições e inventar soluções a fim de que cada ser humano em idade produtiva tenha a possibilidade, com o seu trabalho, de contribuir para a vida da família e da sociedade.

Como é urgente promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação! É necessário garantir e apoiar a liberdade das iniciativas empresariais e, ao mesmo tempo, fazer crescer uma renovada responsabilidade social para que o lucro não seja o único critério-guia.

Nesta perspectiva, devem ser estimuladas, acolhidas e sustentadas as iniciativas, a todos os níveis, que solicitam as empresas a respeitar os direitos humanos fundamentais de trabalhadoras e trabalhadores, sensibilizando nesse sentido não só as instituições, mas também os consumidores, a sociedade civil e as realidades empresariais. Estas, quanto mais cientes estão da sua função social, tanto mais se tornam lugares onde se cultiva a dignidade humana, participando por sua vez na construção da paz. Sobre este aspecto, é chamada a desempenhar um papel activo a política, promovendo um justo equilíbrio entre a liberdade económica e a justiça social. E todos aqueles que intervêm neste campo, a começar pelos trabalhadores e empresários católicos, podem encontrar orientações seguras na doutrina social da Igreja.

Queridos irmãos e irmãs! Enquanto procuramos unir os esforços para sair da pandemia, quero renovar os meus agradecimentos a quantos se empenharam e continuam a dedicar-se, com generosidade e responsabilidade, para garantir a instrução, a segurança e tutela dos direitos, fornecer os cuidados médicos, facilitar o encontro entre familiares e doentes, garantir apoio económico às pessoas necessitadas ou desempregadas. E asseguro, na minha oração, a lembrança de todas as vítimas e suas famílias.

Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho. Com coragem e criatividade. Oxalá sejam cada vez mais numerosas as pessoas que, sem fazer rumor, com humildade e tenacidade, se tornam dia a dia artesãs de paz. E que sempre as preceda e acompanhe a bênção do Deus da paz!

Vaticano, 8 de Dezembro de 2021.

[1] Cf. Carta enc.  Populorum progressio (26/III/1967), 76-80.

[2] Cf. Francisco, Carta enc. Laudato si’ (24/V/2015), 49.

[3] Cf. Francisco, Carta enc.  Fratelli tutti (03/X/2020), 231.

[4] Ibid., 218.

[5] Ibid., 199.

[6] Ibid., 179.

[7] Cf.  ibid., 180.

[8] Francisco, Exort. ap. pós-sinodal  Christus vivit (25/III/2019), 199.

[9] Francisco, Carta enc.  Laudato si’ (24/V/2015), 159.

[10] Cf.  ibid.163202.

[11] Cf.  ibid., 139.

[12] Cf. Francisco,  Mensagem aos participantes no IV Fórum de Paris sobre a Paz (11-13/XI/2021).

[13] Cf. Carta enc.  Laudato si’ (24/V/2015), 231; Francisco,  Mensagem para o LIV Dia Mundial da Paz. A cultura do cuidado como percurso de paz (08/XII/2020).

[14] Carta enc.  Fratelli tutti (03/X/2020), 199.

[15] Francisco,  Mensagem-vídeo por ocasião do Encontro «Global Compact on Education. Together to look Beyond» (15/X/2020).

[16] Cf. Francisco,  Mensagem-vídeo por ocasião do «High Level Virtual Climate Ambition Summit» (13/XII/2020).

[17] Cf. São João Paulo II, Carta enc.  Laborem exercens (14/IX/1981), 18.

[18] Carta enc.  Laudato si’ (24/V/2015), 128.

 

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

 

 

 

Caixa de texto:   O AMBOIM

     BOLETIM PAROQUIAL DA GABELA

     Série IV – Ano II – N.º 4 – Janeiro - Março 2022

 

 

Quaresma e sua Espiritualidade

A dupla índole do tempo Quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do baptismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério Pascal. Por isso: a) utilizem-se com mais abundância os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal; seguindo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior; b) o mesmo diga-se dos elementos penitenciais (SC 109)

“Entesoura no céu aquele que dá a Cristo; dá a Cristo o que distribui ao pobre” (Santo António de Pádua)

A penitência pública ao longo da Quaresma caiu em desuso, mas ficou no espírito dos fiéis a necessidade de se prepararem ao longo de 40 dias de penitência para a Solenidade da Páscoa. Por sua vez, o catecumenado que, durante séculos, teve na Quaresma a fase de preparação imediata para os sacramentos da Iniciação Cristã na noite Santa da Vigília Pascal, também caiu em desuso (excepto entre as populações a quem o cristianismo era anunciado pela primeira vez), mas foi restaurado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), dado o número crescente de adultos que pedem para entrar no caminho catecumenal, em vista de receber o Baptismo, a Crisma e a Eucaristia.

Assim, a “eleição” dos catecúmenos para a fase da “iluminação” passou a fazer-se no I Domingo da Quaresma, entrando os “eleitos” em clima de recolhimento e preparação espiritual mais intensa, marcado nas últimas semanas pelos “escrutínios” com as “tradições” (entregas) do Símbolo da Fé (Credo) e da Oração Dominical (Pai-Nosso), que eles acabam por fazer seus, proclamando-os solenemente na liturgia dominical durante a Quaresma.

Contudo, havendo ou não catecúmenos, os fiéis são convidados a viver a Quaresma em espírito “catecumenal”, preparando-se para a renovação das promessas do Baptismo na Vigília Pascal, em que todos nós iniciados na fé, iremos proclamar solenemente nosso compromisso de vivermos com fidelidade nosso ser cristão. Durante os domingos da Quaresma somos pela liturgia quaresmal, convidados a reconhecer nossos pecados (Baptismo com suas renúncias, nosso Crisma vivendo como homens e mulheres pentecostais e a testemunharmos ao mundo a salvação de Cristo que nos é dado com o dom da Eucaristia) para experimentar a misericórdia de Deus.

No Tempo Quaresmal fazemos a experiência de reconhecer nossos pecados recorrendo às tradicionais práticas do jejum, da esmola e da oração, entendendo-as num sentido amplo de ascese cristã (luta contra as más inclinações, seduções mundanas e tentações, e exercício das virtudes cristãs), de caridade fraterna (pela prática das obras de misericórdia) e de intimidade com Deus (escutando a palavra de Deus e dando-se às várias formas de oração). Eis as práticas quaresmais:

  • Penitência - a Quaresma é um tempo forte de penitência. A atitude espiritual expressa por esta palavra, tantas vezes na boca dos profetas e de Jesus Cristo, é suscitada pela consciência do pecado. Começa por ser arrependimento pelo mal praticado e sincera dor do pecado; logicamente leva ao desejo de expiação e de reparação, para repor a justiça lesada, e de reconciliação com Deus e com os irmãos ofendidos; chega finalmente à emenda de vida e mais ainda à conversão cristã, que é muito mais que uma conversão moral, para ser uma passagem à fé e à caridade sobrenaturais, com tudo o que implica de mudança de mentalidade, sensibilidade e maneira de amar.
  • Jejum e esmola - para assegurar expressão comunitária à prática penitencial, sobretudo no tempo da Quaresma, a Igreja mantém o jejum e a abstinência tradicionais. Embora estas duas práticas digam hoje pouco à sensibilidade dos fiéis, mantêm-se em vigor, com variantes de país para país.

KD

Caixa de texto:  Sínodo da sinodalidade

A Igreja peregrina de Deus em Cristo, é sempre convocada em sínodo. Caminho, de encontro e de escuta dos desígnios de Deus, no Espírito Santo para a sua Igreja. Logo no primeiro milénio, caminhar juntos, ou seja, a sinodalidade, era o meio ou maneira fiável e habitual de proceder da Igreja, Povo convocado unido na unidade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Os padres da Igreja, tudo fizeram para manter a unidade eclesial de todas as Igrejas espalhadas pelo mundo, foi assim que Santo Agostinho escreveu conconrdissima fidei conspiratio, ou seja, acordo na fé entre os baptizados. É aqui que se justifica a prática sinodal a todos os níveis da vida da Igreja: local, provincial, ou regional, e universal, que encontrou a sua mais excelsa manifestação no concílio ecuménico do Vaticano II (1962-1965), convocado no dia 25 de Dezembro através da Bula papal Humanae Salutis, de Papa João XXIII. Foi neste horizonte eclesial, inspirado no princípio da participação de todos na vida da Igreja que São João Crisóstomo afirma: Igreja e sínodo são sinónimos.

Essa atitude essa maneira de pensar sempre sustentou a Igreja desde o primeiro milénio, Idade média onde a Igreja evidenciou em maior medida a função hierárquica, como na idade moderna é bem patente a celebração dos sínodos diocesanos e regionais, assim como os concílios ecuménicos, sobretudo quando se trata de definir verdades da fé (dogmáticas), os Papas consultam sempre os Bispos para conhecer a vivência da fé de toda a Igreja recorrendo à autoridade do Sensus Fidei de todo o Povo de Deus.

O II Concílio do Vaticano, põe em evidência: aprove a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constitui-os num povo que O conhecesse na verdade e O servir santamente (Lumen Gentium 32). O caminho sinodal actual (2021-2023) intitulado: “para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, diferentemente dos outros sínodos anteriores, começa nas Igrejas locais para a Igreja de Roma. Nas Igrejas locais o Papa Francisco recomenda a participação e envolvimento de todos os fiéis da Igreja, cada um possa expressar-se segundo inspiração do Espírito Santo, deu abertura nos dias 09 e 10 de Outubro 2021, em Roma, aos 17 do mês de Outubro do mesmo ano, deu-se início com a abertura sinodal em todas as Igrejas particulares. Uma etapa fundamental será a celebração da XVI, Assembleia Geral Ordinária do sínodo dos Bispos em Outubro de 2023 em Roma.

O Papa Francisco convida toda a Igreja a interrogar-se sobre um tema decisivo da sua vida, natureza e da sua missão. Pois o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio. Nossa Igreja. Que no fundo é actualização e vivencia do itinerário do II Concílio do Vaticano. Este sínodo é um dom uma graça, mas também uma grande responsabilidade, pois, caminhar lado a lado reflectindo em conjunto sobre o caminho percorrido, e descobrir os pontos que nos vão ajudar a vivermos a comunhão, e a participação de todos e a abertura à missão, não é fácil. Mas é o caminho para a Igreja viver a sua natureza missionária.  

Comunhão: “Estamos espalhados por toda a diocese, mas Deus une-nos como um só. O objectivo não é sermos todos iguais, mas caminhar juntos, partilhando um caminho comum e abraçando a nossa diversidade. Pois, a comunhão que Deus constrói no meio de nós é mais forte do que qualquer divisão; No meio das nossas muitas diferenças, estamos unidos no nosso baptismo comum, como membros do Corpo de Cristo.

Participação: os fiéis leigos devem ter um papel vital na liturgia (Redemptionis Sacramentum, 36). Deveria também fazer-se um esforço para incluir aqueles que por vezes são excluídos, incluindo membros de outras confissões cristãs e de outras religiões, as pessoas em situação de pobreza e marginalização, as pessoas que vivem com uma deficiência, os jovens, as mulheres.

Missão: pode pôr-se em relevo os muitos dons e carismas do povo de Deus na diocese: Cada cristão tem um papel vital a desempenhar na missão da Igreja; Todos os baptizados são pedras vivas na edificação do Corpo de Cristo; Ninguém é excluído da alegria do Evangelho; “Os leigos têm uma missão especial no testemunho do Evangelho em todos os âmbitos da sociedade humana; Como discípulos de Jesus, somos fermento no meio da humanidade para que o Reino de até aos confins do mundo. Portanto, é um mandato recebido em comum: Ide por todo o mundo anunciai a Boa Notícia a toda a criatura ( Mc 16, 15).

Sugestões práticas para a Celebração do Sínodo nas Comunidades e Zonas da nossa Paróquia.

Para realçar a importância do Espírito Santo, o papel central do Pentecostes na vida da Igreja e o aspecto pneumatológico do processo sinodal, sugere-se que a liturgia, as celebrações se inspirem na Vigília de Pentecostes. Pode celebrar-se a Missa votiva do Espírito Santo, nas orações pode invocar-se o Espírito Santo mediante o cântico Veni Creator Spiritus. (Vinde Espírito Santo)

Podem observar-se momentos de oração comunitária ou de silêncio comum como formas úteis de se estar juntos atentos à voz do Espírito Santo.

Pode utilizar-se uma imagem ou um ícone da Tradição para acompanhar o caminho bienal do Processo Sinodal (por exemplo, a descida do Espírito Santo no Pentecostes, Jesus acompanhando os discípulos no caminho de Emaús).

Pode usar-se imagens e acções simbólicas para mostrar a unidade na diversidade do Corpo Místico de Cristo. O ponto principal do Sínodo é o caminhar juntos, envolvendo todos os fiéis e todos os ministérios da Igreja.

Quando for Missas e Orações.

Formulário I. Pela Santa Igreja

Formulário Pela Igreja local 

Formulário V. Para um concílio ou um sínodo

Oração Universal

Introdução do Sacerdote

Irmãos e irmãs:

Aguardando ansiosamente a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, supliquemos com renovado fervor a sua misericórdia para que Ele, que veio ao mundo para trazer a Boa Nova aos pobres e curar os corações atribulados, também no nosso tempo traga a salvação a todos os necessitados.

1. Pela Santa Igreja de Deus, para que seja luz das nações e sacramento universal de salvação, caminhando com todos os povos para o Reino de Deus, oremos.

2. Pelo Papa Francisco, pelo nosso (Administrador Apostólico) N, nosso Bispo e por todo o santo Povo de Deus da nossa Diocese de Sumbe para que a celebração deste Sínodo nos ajude a discernir a vontade de Deus e a realizá-la corajosamente, oremos.

3. Por todas as autoridades civis e públicas, para que procurem sempre o bem comum, agindo com justiça e honestidade, oremos.

4. Pelos doentes, as pessoas e os que vivem sós, os oprimidos e todos os que sofrem, para que nunca sejam abandonados, mas antes protegidos e cuidados como rostos de Cristo num mundo sofredor, oremos.

5. Por nós próprios, aqui reunidos, para que este Processo Sinodal nos conduza a uma comunhão cada vez mais profunda na Igreja, favoreça a nossa participação nela e nos torne capazes de partir em missão, oremos.

Sacerdote/orientador

Senhor nosso Deus, nosso refúgio e fortaleza, fonte da verdadeira devoção atendei a oração da vossa Igreja, e dai-nos a graça de receber o que vos pedimos com fé. Por Cristo, nosso Senhor..

Diác. Luciano Simão

 

 NOTÍCIAS DA IGREJA E DO MUNDO

1 – Colômbia. Cinco milhões de atingidos pelo vírus mais letal e longevo que existe: a fome - "A Colômbia tem uma situação de pobreza muito complexa, há um grande número de pessoas, milhões, que comem uma vez por dia, muitas delas perderam seus empregos, outras estão em condições de extrema vulnerabilidade". A Pastoral Social e o Banco de alimentos estão acudindo.

2 - Afeganistão - O sistema de saúde no Afeganistão, que depende da ajuda humanitária, está à beira do colapso e muitas crianças gravemente subnutridas não têm acesso aos cuidados especializados que necessitam para sobreviver. A denúncia vem da organização Save the Children, que aponta que até mesmo o tratamento de alguns casos críticos foi interrompido por causa da crise. Aumenta cada vez mais o número de crianças no Afeganistão que não têm o suficiente para comer. Segundo o Save the Children teve um aumento de 3, 3 milhões de crianças que passam fome

3 - O doloroso Natal de silêncio em Mianmar - Enquanto o país asiático é abalado por assassinatos, violência e constantes actos de guerrilha, os bispos pedem que sejam evitadas as manifestações sociais e festas de rua. Presentes e jantares também deveriam ser evitados. Os religiosos de Mianmar sugerem que sejam feitos gestos concretos de caridade durante o período do Natal.

4 - Haiti: os missionários sequestrados escaparam e não libertados - 12 missionários sequestrados pelo grupo haitiano "400 Mawozo" foram salvos. Foi durante uma fuga ousada, à noite, após dois meses de cativeiro nas mãos de um grupo violento que os tinha sequestrado durante um ataque armado ao orfanato onde trabalhavam.

5 - Chile. Bispos ao novo presidente Boric: "o país lhe confia uma grande missão" - Os bispos saúdam o novo presidente Boric, eleito a 19 de Dezembro. "A Igreja chilena quer continuar contribuindo, a partir de sua missão particular, para a construção de uma humanidade mais justa e fraterna, onde sobretudo os pobres e os que sofrem sejam respeitados em sua dignidade. Conte com nosso apoio e nossas orações e com a contribuição de nossa ação pastoral” – afirmam os Bispos.

6 - Tufão Rai mata mais de 370 nas Filipinas - Passa de 370 o número de mortos após a passagem do tufão Rai nas Filipinas. O secretário da Defesa Nacional Delfin Lorenzana - também responsável pela agência de desastres naturais - informou que as mortes são sobretudo devido à queda de árvores, desabamentos e inundações. Além disso, mais de 480 mil pessoas foram deslocadas e tiveram que deixar suas casas depois que o tufão devastou parte do arquipélago.

7 – Vaticano: O primeiro-ministro israelense nos Emirados Árabes Unidos - Pela primeira vez, um primeiro-ministro do Estado judaico visitou o país do Golfo. Naftali Bennet. Chegou a Abu Dhabi no dia 13 de Dezembro para se encontrar com o príncipe Mohammed bin Zayed al Nahyan. Já se passou mais de um ano desde a assinatura dos chamados "Acordos de Abraão" para a normalização das relações do Estado judeu com os Emirados Árabes e Bahrein. No dia da sua visita a Abu Dhabi, o primeiro-ministro israelita Bennett disse que estes acordos, alcançados com o patrocínio dos Estados Unidos, estabeleceram uma "nova, profunda e sólida estrutura para as relações na região".

8 – Vaticano: Norte dos Camarões abalado pela violência intercomunitária - Dezenas de milhares de pessoas fugiram para Chade, depois que eclodiram confrontos entre fazendeiros e agricultores por causa dos recursos hídricos. As mudanças climáticas quase acabaram com a água da região.  Pelo menos 22 mortos, 30 feridos e 30 mil deslocados, é o saldo da violência comunitária que está abalando o norte dos Camarões desde Dezembro de 2021.

9 - ONU: encontro entre o Comité da Fraternidade Humana e o secretário Guterres - Uma delegação do Comitê Superior da Fraternidade Humana (Higher Committee of Human Fraternity) encontrou-se, no dia 7 de Dezembro, com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na sede da ONU em Nova Iorque, para discutir novas formas e estratégias para melhorar a cooperação na promoção da fraternidade humana. No início do encontro, o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, cardeal Miguel Ayuso Guixot, presidente do Comité, lembrou a missão especial do Comité Superior, destinada a promover o bem de toda a humanidade, especialmente dos jovens.

10 - Desenvolvimento Humano, o Papa confia a Czerny, “ad interim”, gestão do dicastério - O Papa muda a estrutura do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, instituído em Agosto de 2016, e operando desde Janeiro de 2017, como "resultado da fusão de quatro Pontifícios Conselhos pré-existentes". Após "os resultados da visita de avaliação" realizada no segundo semestre de 2020, "os superiores do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral colocaram seu mandato nas mãos do Sumo Pontífice", que "agradece sinceramente" ao cardeal Peter K. Appiah Turkson e seus colaboradores pelo serviço realizado. O comunicado conclui-se ressaltando que "enquanto se aguarda a nomeação da nova direcção", o Papa confia "ad interim a gestão ordinária do mesmo Dicastério a partir de 1 de Janeiro de 2022 ao cardeal Michael Czerny SJ como Prefeito e Irmã Alessandra Smerilli FMA como Secretária".

11 - Novas disposições anti-Covid para a entrada no Vaticano e nos escritórios da Cúria Romana - A partir desta quinta-feira (23 de Dezembro), só é permitida a entrada nos escritórios da Cúria àqueles que possuam um certificado que ateste a vacinação ou recuperação da SRA-Cov-2. Um novo decreto geral, assinado pelo cardeal secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, estabelece novas regras "tendo em conta a continuação e o agravamento da actual emergência sanitária e a necessidade de adoptar medidas adequadas para combater e assegurar o desenvolvimento de modo seguro das actividades".

12 - Médicos Sem Fronteiras: 50 anos de assistência sanitária nos lugares mais difíceis - Milhares de pessoas em todo o mundo que são afectadas por conflitos, epidemias e desastres naturais, recebem tratamento e cuidados de saúde da organização privada sem fins lucrativos Médicos Sem Fronteira (MSF). A associação que está presente em 88 países e completou 50 anos a 23 de Dezembro de 2021, oferece assistência médica a populações em perigo e a vítimas de desastres naturais ou guerras, independentemente de etnia, religião ou crença política. Apenas em 2020, a Médicos Sem Fronteiras envolveu 65 mil agentes, realizou cerca de 10 milhões de consultas ambulatoriais, atendeu mais de 112 mil consultas da Covid-19 e hospitalizou cerca de 877 mil pacientes. A organização não-governamental (ONG) foi criada na França em 22 de Dezembro de 1971 por iniciativa de um grupo de médicos e jornalistas, com o objectivo de prestar assistência médica de emergência de forma rápida, eficaz e imparcial.

13 - Sudão. Má nutrição afecta milhares de crianças enquanto piora a situação no País - Estima-se que no Sudão, em 2022 cerca de 14,3 milhões de pessoas vão precisar de assistência humanitária, o número mais alto em dez anos – é o alarme lançado pela Save the Children, a Organização que há mais de 100 anos luta para salvar meninas e meninos em situação de risco e garantir-lhes um futuro.

KD

NOTÍCIAS DA NOSSA PARÓQUIA

1 – Nos meses de Novembro e Dezembro de 2021 tivemos Vários eventos que mobilizaram toda a comunidade paroquial:

- No dia 28 de Novembro vivemos a alegria da Missa Nova do Pe. Agnaldo, Ordenado a 30 de Outubro de 2021.

- 4 de Dezembro aconteceu a avaliação anual da pastoral baseada na programação pastoral de 2021.

- 11 de Dezembro houve retiro espiritual para catequistas em todas as Zonas da paróquia.

- 18 de Dezembro – Retiro para as famílias das 4 zonas da cidade e Baptismo das crianças na Igreja Matriz.

- No dia 23 de Dezembro (na Rainha) e 24 de Dezembro (S. Francisco) Celebração de Natal para as crianças.

- Em 2020 Os Missionários da Boa Nova Celebraram 50 anos de presença em Angola. A comemoração será durante este ano de 2022. Rezemos pelos Missionários.

KD

AO RITMO DA LITURGIA

9 de Janeiro – Baptismo de Jesus - No baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Jesus fez-se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado, empenhou-se em promover-nos para que pudéssemos chegar à vida plena. A primeira leitura (Is 42,1-4.6-7) anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim... Animado pelo Espírito de Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus. No Evangelho (Lc 3,15-16.21-22), aparece-nos a concretização da promessa profética veiculada pela primeira leitura: Jesus é o Filho/“Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito, e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, ele tornou-se pessoa, identificou-se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude. A segunda leitura (Actos 10,34-38) reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.

16 de Janeiro – II Domingo Comum – O casamento como imagem que exprime de forma privilegiada a relação de amor que Deus (o marido) estabeleceu com o seu Povo (a esposa). A questão fundamental é, portanto, a revelação do amor de Deus. A primeira leitura (Is 62, 1-5) define o amor de Deus como um amor inquebrável e eterno, que continuamente renova a relação e transforma a esposa, sejam quais forem as suas falhas passadas. Nesse amor nunca desmentido, reside a alegria de Deus. O Evangelho (Jo 2,1-11) apresenta, no contexto de um casamento (cenário da “aliança”), um “sinal” que aponta para o essencial do “programa” de Jesus: apresentar aos homens o Pai que os ama, e que com o seu amor os convoca para a alegria e a felicidade plenas. A segunda leitura (1 Cor 12,4-11) fala dos “carismas” – dons, através dos quais continua a manifestar-se o amor de Deus. Como sinais do amor de Deus, eles destinam-se ao bem de todos; não podem servir para uso exclusivo de alguns, mas têm de ser postos ao serviço de todos com simplicidade. É essencial que na comunidade cristã se manifeste, apesar da diversidade de membros e de carismas, o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

23 de Janeiro – III Domingo Comum

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a Palavra de Deus: ela é, verdadeiramente, o centro à volta do qual se constrói a experiência cristã. Essa Palavra não é uma doutrina abstracta, para deleite dos intelectuais; mas é, primordialmente, um anúncio libertador que Deus dirige a todos os homens e que incarna em Jesus e nos cristãos. Na primeira leitura (Ne 8,2-4a.5-6.8-10), exemplifica-se como a Palavra que deve estar no centro da vida comunitária e como ela, uma vez proclamada, é geradora de alegria e de festa. No Evangelho (Lc 1,1-4; 4,14-21), apresenta-se Cristo como a Palavra que se faz pessoa no meio dos homens, a fim de levar a libertação e a esperança às vítimas da opressão, do sofrimento e da miséria. Sugere-se, também, que a comunidade de Jesus é a comunidade que anuncia ao mundo essa Palavra libertadora. A segunda leitura (1 Cor 12,12-30) apresenta a comunidade gerada e alimentada pela Palavra libertadora de Deus: é uma família de irmãos, onde os dons de Deus são repartidos e postos ao serviço do bem comum, numa verdadeira comunhão e solidariedade.

30 de Janeiro – IV Domingo Comum - O tema da liturgia deste domingo convida a reflectir sobre o “caminho do profeta”: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao “profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou contigo para te salvar”. A primeira leitura (Jer 1,4-5.17-19) apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus. O Evangelho (Lc 4,21-30) apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espectacular e não entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a acolhê-la – sejam pagãos ou judeus. A segunda leitura (1Cor 12,31-13,13) parece um tanto desenquadrada desta temática: fala do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a sua missão fará sentido.

6 de Fevereiro – V Domingo Comum - A liturgia deste domingo leva-nos a reflectir sobre a nossa vocação: somos todos chamados por Deus e d’Ele recebemos uma missão para o mundo. Na primeira leitura (Is 6,1-2a.3-6), encontramos a descrição plástica do chamamento de um profeta – Isaías. De uma forma simples e questionadora, apresenta-se o modelo de um homem que é sensível aos apelos de Deus e que tem a coragem de aceitar ser enviado. No Evangelho (Lc 5,1-11), Lucas apresenta um grupo de discípulos que partilharam a barca com Jesus, que acolheram as propostas de Jesus, que souberam reconhecê-l’O como seu “Senhor”, que aceitaram o convite para ser “pescadores de homens” e que deixaram tudo para seguir Jesus… Neste quadro, reconhecemos o caminho que os cristãos são chamados a percorrer. A segunda leitura (1Cor 15,1-11) propõe-nos reflectir sobre a ressurreição: trata-se de uma realidade que deve dar forma à vida do discípulo e levá-lo a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte. Com a sua acção libertadora – que continua a acção de Jesus e que renova os homens e o mundo – o discípulo sabe que está a dar testemunho da ressurreição de Cristo.

13 de Fevereiro – VI Domingo Comum - A Palavra de Deus que nos é proposta neste domingo leva-nos a reflectir sobre o protagonismo que Deus e as suas propostas têm na nossa existência. A primeira leitura (Jer 17,5-8) põe frente a frente a auto-suficiência daqueles que prescindem de Deus e escolhem viver à margem das suas propostas, com a atitude dos que escolhem confiar em Deus e entregar-se nas suas mãos. O profeta Jeremias avisa que prescindir de Deus é percorrer um caminho de morte e renunciar à felicidade e à vida plenas. O Evangelho (Lc 6,17.20-26) proclama “felizes” esses que constroem a sua vida à luz dos valores propostos por Deus e infelizes os que preferem o egoísmo, o orgulho e a autosuficiência. Sugere que os preferidos de Deus são os que vivem na simplicidade, na humildade e na debilidade, mesmo que, à luz dos critérios do mundo, eles sejam desgraçados, marginais, incapazes de fazer ouvir a sua voz diante do trono dos poderosos que presidem aos destinos do mundo. A segunda leitura (1Cor 15,12.16-20), falando da nossa ressurreição – consequência da ressurreição de Cristo –, sugere que a nossa vida não pode ser lida exclusivamente à luz dos critérios deste mundo: ela atinge o seu sentido pleno e total quando, pela ressurreição, desabrocharmos para o Homem Novo. Ora, isso só acontecerá se não nos conformarmos com a lógica deste mundo, mas apontarmos a nossa existência para Deus e para a vida plena que Ele tem para nós.

20 de Fevereiro – VII Domingo Comum - A liturgia deste domingo exige-nos o amor total, o amor sem limites, mesmo para com os nossos inimigos. Convida-nos a pôr de lado a lógica da violência e a substituí-la pela lógica do amor. A primeira leitura (1Sam26,2.7-9.12-13.22-23) apresenta-nos o exemplo concreto de um homem de coração magnânimo (David) que, tendo a possibilidade de eliminar o seu inimigo, escolhe o perdão. O Evangelho (Lc 6,27-38) reforça esta proposta. Exige dos seguidores de Jesus um coração sempre disponível para perdoar, para acolher, para dar a mão, independentemente de quem esteja do outro lado. Não se trata de amar apenas os membros do próprio grupo social, da própria raça, do próprio povo, da própria classe, partido, igreja ou clube de futebol; trata-se de um amor sem discriminações, que nos leve a ver em cada homem – mesmo no inimigo – um nosso irmão. A segunda leitura (1Cor 15,45-49) continua a catequese iniciada há uns domingos atrás sobre a ressurreição. Podemos ligá-la com o tema central da Palavra de Deus deste Domingo – o amor aos inimigos – dizendo que é na lógica do amor que preparamos essa vida plena que Deus nos reserva; e que o amor vivido com radicalidade e sem limitações é um anúncio desse mundo novo que nos espera para além desta terra.

27 de Fevereiro – VIII Domingo Comum - O tema central da liturgia deste domingo convida-nos a reflectir sobre esta questão: aquilo que nos enche o coração e que nós testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos critérios egoístas? O Evangelho (Lc 6,39-45) dá-nos os critérios para discernir o verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união, fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus.
A primeira leitura (Sir 27,5-8), na mesma linha, dá um conselho muito prático, mas muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão ou por atitudes mais ou menos teatrais: deixemo-las falar, pois as palavras revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração. A segunda leitura (1Cor 15,54-58) não tem, aparentemente, muito a ver com esta temática: é a conclusão da catequese de Paulo aos coríntios sobre a ressurreição. No entanto, podemos dizer que viver e testemunhar com verdade, sinceridade e coerência a proposta de Jesus é o caminho necessário para essa vida plena que Deus nos reserva. Do nosso anúncio sincero de Jesus, nasce essa comunidade de Homens Novos que é anúncio do tempo escatológico e da vida que nos espera.

6 de Março – I Domingo da Quaresma - No início da Quaresma, a Palavra de Deus apela a repensar as nossas opções de vida e a tomar consciência dessas “tentações” que nos impedem de renascer para a vida nova, para a vida de Deus. A primeira leitura (Deut 27,4-10) convida-nos a eliminar os falsos deuses em quem às vezes apostamos tudo e a fazer de Deus a nossa referência fundamental. Alerta-nos, na mesma lógica, contra a tentação do orgulho e da auto-suficiência, que nos levam a caminhos de egoísmo e de desumanidade, de desgraça e de morte. O Evangelho (Lc 4,1-13) apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus. Lucas sugere que Jesus recusou radicalmente um caminho de materialismo, de poder, de êxito fácil, pois o plano de Deus não passava pelo egoísmo, mas pela partilha; não passava pelo autoritarismo, mas pelo serviço; não passava por manifestações espectaculares que impressionam as massas, mas por uma proposta de vida plena, apresentada com simplicidade e amor. É claro que é esse caminho que é sugerido aos que seguem Jesus. A segunda leitura (Rom 10,8-13) convida-nos a prescindir de uma atitude arrogante e auto-suficiente em relação à salvação que Deus nos oferece: a salvação não é uma conquista nossa, mas um dom gratuito de Deus. É preciso, pois, “converter-se” a Jesus, isto é, reconhecê-l’O como o “Senhor” e acolher no coração a salvação que, em Jesus, Deus nos propõe.

13 de Março – II Domingo da Quaresma - As leituras deste domingo convidam-nos a reflectir sobre a nossa “transfiguração”, a nossa conversão à vida nova de Deus; nesse sentido, são-nos apresentadas algumas pistas. A primeira leitura (Gen 15,5-12.17-18) apresenta-nos Abraão, o modelo do crente. Com Abraão, somos convidados a “acreditar”, isto é, a uma atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios desse Deus que não falha e é sempre fiel às promessas. A segunda leitura (Filip 3,17-4,1) convida-nos a renunciar a essa atitude de orgulho, de auto-suficiência e de triunfalismo, resultantes do cumprimento de ritos externos; a nossa transfiguração resulta de uma verdadeira conversão do coração, construída dia a dia sob o signo da cruz, isto é, do amor e da entrega da vida. O Evangelho (Lc 9,28b-36) apresenta-nos Jesus, o Filho amado do Pai, cujo êxodo (a morte na cruz) concretiza a nossa libertação. O projecto libertador de Deus em Jesus não se realiza através de esquemas de poder e de triunfo, mas através da entrega da vida e do amor que se dá até à morte. É esse o caminho que nos conduz, a nós também, à transfiguração em Homens Novos.

20 de Março – III Domingo da Quaresma - Nesta terceira etapa da caminhada para a Páscoa somos chamados, mais uma vez, a repensar a nossa existência. O tema fundamental da liturgia de hoje é a “conversão”. Com este tema enlaça-se o da “libertação”: o Deus libertador propõe-nos a transformação em homens novos, livres da escravidão do egoísmo e do pecado, para que em nós se manifeste a vida em plenitude, a vida de Deus. O Evangelho (Lc 13,1-9) contém um convite a uma transformação radical da existência, a uma mudança de mentalidade, a um re-centrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, diz Jesus, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte. A segunda leitura (1Cor 10,1-6.10-12) avisa-nos que o cumprimento de ritos externos e vazios não é importante; o que é importante é a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com Ele numa comunhão íntima. A primeira leitura (Ex 3,1-8a.13-15) fala-nos do Deus que não suporta as injustiças e as arbitrariedades e que está sempre presente naqueles que lutam pela libertação. É esse Deus libertador que exige de nós uma luta permanente contra tudo aquilo que nos escraviza e que impede a manifestação da vida plena.

27 de Março – IV Domingo da Quaresma - A liturgia de hoje convida-nos à descoberta do Deus do amor, empenhado em conduzir-nos a uma vida de comunhão com Ele. O Evangelho (Lc 15,1-3.11-32) apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça dos homens. A segunda leitura (2Cor 5,17-21) convida-nos a acolher a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo. A primeira leitura (Jos 5,9a.10-12), a propósito da circuncisão dos israelitas, convida-nos à conversão, princípio de vida nova na terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado é um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.

3 de Abril - V Domingo da Quaresma - A liturgia de hoje fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à ressurreição. A primeira leitura (Is43,16-21) apresenta-nos o Deus libertador, que acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo para a liberdade. Esse “caminho” é o paradigma dessa outra libertação que Deus nos convida a fazer neste tempo de Quaresma e que nos levará à Terra Prometida onde corre a vida nova. A segunda leitura (Filip 3,8-14) é um desafio a libertar-nos do “lixo” que impede a descoberta do fundamental: a comunhão com Cristo, a identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição. O Evangelho (Jo 8,1-11) diz-nos que, na perspectiva de Deus, não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado; só o amor e a misericórdia geram activamente vida e fazem nascer o homem novo. É esta lógica – a lógica de Deus – que somos convidados a assumir na nossa relação com os irmãos.

KD

Caminhar Juntos

O Papa Francisco impulsiona o Sínodo, o “caminhar juntos” numa Igreja que coloca mulheres e homens do nosso tempo, incluindo pastores e o próprio Sucessor de Pedro, a ‘ouvir’ o Espírito Santo.

De fato, o Sínodo que está acontecendo de Outubro de 2021 até 2023 tem como título: Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, participação e missão.

A sinodalidade representa o caminho pelo qual a Igreja pode ser renovada pela ação do Espírito Santo, ouvindo juntos o que Deus tem a dizer ao seu povo. No entanto, este caminho percorrido juntos não só nos une mais profundamente como Povo de Deus, mas também nos envia a cumprir nossa missão de testemunho profético que abrange toda a família humana, junto com nossas denominações cristãs e outras tradições de fé.

 

KD

 

 

O AMBOIM - Boletim Paroquial da Gabela. Série IV– Ano II – Nº 4 – Janeiro-Março de 2022;  . Propriedade e Edição da Paróquia da Gabela – Tel. (00 244) 236220235

C.P. 95 – ANGOLA; Director: Pároco; Redacção: Equipa Missionária – Com aprovação eclesiástica.