Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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sábado, 5 de janeiro de 2019


Alguns Pilares da Espiritualidade proposta por Jesus

O capítulo 23 do evangelho de Mateus é o momento mais corajoso, duro e instrutivo quanto a espiritualidade de todo o Novo Testamento. Ninguém que conheço teria o peito que Jesus teve de no ninho das cobras chama-las de caso perdido. Aqueles homens chamados de fariseus eram inteligentes, bem sucedidos e respeitados na sociedade a que pertenciam. O que Jesus fez não tinha nada a ver com “bater em cachorro morto”. Era o amor selvagem de Deus que tomava a forma de um rebelde divinamente fragilizado em sua humanidade. Desafio você a ler o texto bíblico juntamente com o texto do blog. É possível perceber quatro pilares da espiritualidade segundo Jesus em sua acusação aos fariseus:
1. Encontro pessoal com Deus. A verdade na questão da espiritualidade é algo que se experimenta. Muitas pessoas já fizeram classe de catecúmenos, mas jamais tiveram um encontro pessoal com Deus. Alguns teólogos que conhecem as línguas originais tem contato com a palavra, mas não com a Palavra. Outros gostam muito de discutir sobre os mais variados temas polêmicos em blogs e afins, mas não estão determinados a buscar a Deus em oração. E outro são capazes de participarem de eventos emocionantes mas não de correr riscos pela fé que professam. A partir daí é possível divisar se temos ou não temos esse encontro. Assim é que um templo, ou um nascimento cristão não pode me dar essa experiência. Ela só acontece quando decido me mover em fé diante da Palavra de Deus a mim. Só conheci ao Deus Provedor quando aceitei correr riscos e abrir mão da minha segurança. Foi dessa forma que agora sei que “no monte do Senhor se proverá”.  A fé não é um credo apenas, mas uma consciência da presença de Deus que se move. Já ouvi dizer que o quinto evangelho é escrito com a vida, com a nossa vida. Ou não.
2. Viver sob princípios, não sob regras. Tem muita gente que acha que a vida da graça é a vida do “oba oba” e que não tem nenhum compromisso com a atitude e a ética. Como disse Dallas Willard: “Graça é o oposto de mérito, não de esforço.”  O que acabou levando a essa situação é que gostamos de substituir os princípios pelas regras. Quando instituímos regras temos a possibilidade de controlar as pessoas, e driblar os princípios que não gostamos do evangelho. Quando ensinamos princípios,  as pessoas são livres para exercerem sua responsabilidade diante de Deus. Quando falamos de regras, impomos nossa interpretação pessoal de algum princípio. Vou usar um exemplo corriqueiro. O  princípio é sermos puros em todas as coisas. Todos na comunidade cristã concordam com o princípio. Então alguém inventa uma regra que a seu ver aplica esse princípio: a maneira de vestir. Então se decreta que todos querem ser puros devem vir para a igreja com cabelo cortado como militar (homens) e saia abaixo do joelho (mulheres). Então aqui se impõe uma interpretação pessoal do princípio sobre todos. E então começam os problemas. O primeiro deles é o espírito de condenação mútua que se estabelece na comunidade. Os que não gostam da imposição, começam a vigiar os demais e uma cobrança em outras áreas começam a surgir: a blusa da irmã está decotada demais, a gestante que dá de mamar para o bebê deveria encobrir mais o seio e então um estado de guerra se estabelece roubando a vivência de amor que deveria ser a tônica dos relacionamentos. Além disso, quem quer desobedecer encontra sempre formas de desobedecer. Não existe comunidade a prova de pecado. Então uma das mulheres da comunidade vem com a saia abaixo do joelho, mas com um rasgo na lateral que é possível ver toda a perna!  Se instalam então dois movimentos essencialmente nocivos na comunidade: o espírito condenador e a busca por transgredir aquilo que foi imposto. Tudo isso deveria nos levar a repudiar qualquer tipo de espiritualidade que se baseia essencialmente em regras. Mas talvez você pergunte: Não podemos ter regras? Sim, desde que elas produzam vida e não morte. E isso cada um de nós tem que avaliar constantemente. Pois como disse John Stott, crer é também pensar.
3. Simplicidade.  Falando claro: jamais deveríamos buscar qualquer tipo de título dentro da comunidade cristã.  Jamais deveríamos nos impressionar com os títulos de outra pessoa. Nosso estilo de  vida deve  ter a marca da acessibilidade. Um servo não impressiona. Um servo, serve. Quanto maior a hierarquização da igreja, tanto mais ela se torna uma máquina política. “Não é de personalidades brilhantes que uma comunidade precisa, mas de fiéis servidores de Jesus e dos irmãos” escreveu com propriedade Dietrich Bonhoeffer.
4. Transparência. Realizamos um congresso de jovens a algumas semanas e um dos tópicos foi sobre vícios. Em uma palestra inspirada, minha esposa expôs o fato de que todos nós carregamos um pendor para algum tipo de vício. Todos. Logo após fizemos grupos de estudo nos quais a principal atividade era confessar qual vício nós precisávamos lutar. Foi uma grande dificuldade para todos romper com aquilo que  sabemos se instalou na maioria das igrejas:  a aparência de santidade. A maioria de nós vive preso a comportamentos viciosos e pecaminosos porque não temos espaço para abrirmos nosso coração em nossas comunidades  sem que as pessoas saiam divulgando ou assumindo uma pose superior. Como um grupo de viciados, deveríamos ser capazes de nos solidarizarmos mutuamente e assumirmos nossa necessidade de ajuda. Na verdade, o que deveríamos disciplinar para o bem da igreja, é a atitude superior e a fofoca maldosa. Precisamos honrar a transparência, proteger quem abre o coração, em lugar de expor, condenar e bater em quem já está quebrado. A transparência mútua fará com que a comunidade viva unicamente do perdão dos pecados por Jesus.
Portanto, você que tem sofrido com a igreja. Procure comunidades que em um nível ou outro expressem como pilares de sua espiritualidade, aqueles que são os pilares de Jesus. E você que é líder, caminhe nessa direção com coragem, importando-se mais com a opinião de Deus e menos com a de seus pares.
Kaquinda Dias


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