Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Justificação

Justificados pela fé no Filho (Romanos 3.21-26)
Introdução
Os nossos pecados nos separam de Deus (Is 59.2). Imagine essa separação como um abismo. Qual seria a sua profundidade? Antes de responder, lembre não dos nossos pecados, mas de quem ofendemos, um Deus eterno, santo e infinito. Portanto, os efeitos da ofensa são dessas proporções. O abismo de culpa será infinito. Nem toda a justiça do mundo seria capaz de preenchê-lo.
A conclusão de Paulo na primeira parte da sua apresentação do evangelho é que o homem, por si só, está perdido. Porém, agora, o apóstolo passa a apresentar a segunda parte do evangelho, a providência que Deus tomou para termos de novo comunhão com ele. Deus satisfez a sua justiça na pessoa do Filho, portanto, podemos ser justificados pela fé em Cristo. Veja como.
I. Graça: fonte da justificação
Os romanos não encontrariam em si próprios a fonte da justificação. Por isso, deveriam tirar os olhos deles mesmos e se voltarem em outra direção, para outra fonte, a graça de Deus (Rm 2.24).
a. A realidade humana
1.    Culpado – O apóstolo já havia discorrido sobre a situação espiritual do ser humano, gentio ou judeu. Todos estavam debaixo da ira de Deus (Rm 1.18), pois eram igualmente culpados (Rm 1.20; 2.1,23; 3.23).
2.    Incapaz – Outra realidade é a incapacidade que o homem tem de se autojustificar diante de Deus com algum mérito ou justiça própria (Jr 13.23; Is 64.6). Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei (Rm 3.20).
3.    Rebelde – O ser humano não só está em situação de desespero espiritual e sem condições próprias de sair dela, como também, não tem esse desejo (Rm 3.10,11). É pecador condenado, incapaz de se autojustificar, e rebelde.
b. A iniciativa de Deus
Aqui começa a mudança radical. “Ninguém será justificado por obras da lei” (Rm 4.20), mas é possível ser justificado pela graça de Deus (Rm 3.24). Tudo o que o homem não consegue por esforço próprio, Deus lhe concede de graça (Ef 2.8,9). E por que graça?
Primeiro, porque não merecíamos ser salvos, pois éramos todos culpados aos olhos de Deus. Só merecíamos condenação. Mesmo assim, ele resolveu nos salvar. Segundo, essa salvação é de graça, porque Jesus fez o que não poderíamos fazer para adquiri-la. Ele viveu uma vida de perfeição que não poderíamos viver (Mt 3.17; 17.5; Fp 2.8; Hb 4.15) e ainda pagou por uma culpa que não tínhamos condições de pagar (Is 53.5,6). Por último, é graça, porque ele tomou a iniciativa de nos buscar, enquanto desgarrados e fugitivos (Mt 1.21; Lc 19.10). Ele nos encontrou e nos amou primeiro (1Jo 4.10). Não esperou que fôssemos ao seu encontro (nunca faríamos isso), mas nos alcançou como um pastor que busca a sua ovelha perdida (Lc 15.4-6).
II. A obra de Cristo: o fundamento da justificação
Paulo toma emprestado um termo dos tribunais de justiça e descreve a ação de um juiz em absolver um acusado. A justificação é um termo legal que se refere ao ato ou efeito de declarar justa uma pessoa. Mas, em primeiro lugar, isso não significa que o pecador passa a ser essencialmente justo, puro ou sem nenhum pecado. Essa é uma declaração judicial do tribunal de Deus. E como é que um Deus santo, justo e irado contra os pecadores pode olhar para pessoas culpadas e declará-las justas, ou seja, absolvê-las diante do seu tribunal? Não seria contraditório? (Dt 25.1; Pv 17.15) Seria, se as nossas próprias obras fossem a base da nossa justificação. Porém, Deus nos declara justificados com base na obra de Cristo, que pode ser assim descrita:
a. Redenção
Fomos “justificados … mediante a redenção que há em Cristo” (Rm 2.24). Redenção era um termo comercial e no Antigo Testamento era usado para escravos comprados para serem libertados. Dizia-se que esses escravos haviam sido redimidos ou resgatados (Lv 25.47-49). O termo foi também usado com referência ao povo de Israel, “remido” ou “resgatado” do cativeiro, primeiro do Egito (Êx 6.6) e depois na Babilônia (Is 43.1), e em seguida restaurado à sua própria terra. Nós também fomos resgatados (Mc 10.45; Is 53.10), pois Cristo pagou para deixarmos de ser escravos do pecado e sermos seu povo e propriedade (1Co 6.20; 7.23; 1Pe 2.9; Ap 5.9). Logo, tudo o que foi pago, não o foi com o nosso próprio esforço e sim com o sangue de Cristo.
 b. Propiciação
Outro termo usado para se referir a obra de Cristo é propiciação. A nossa justificação foi, “por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação” (Rm 2.24,25). A palavra propiciação significa primariamente “aplacar a ira”. No Tabernáculo do Antigo Testamento, o propiciatório era a tampa da arca da aliança (Êx 37.6-9; Lv 16.1-3, 11-14, 30, 34). Uma vez por ano, o sangue da expiação era aspergido sobre o propiciatório pelo sacerdote. Esse ritual mostrava que a culpa do pecado do povo havia sido expiada e que a ira de Deus havia sido aplacada. No contexto em que Paulo escreveu, o termo propiciação também pode ser entendido como o lugar onde a ira de Deus foi derramada ou aplacada. Em outras palavras, Cristo assumiu o nosso lugar debaixo da ira de Deus, poupando-nos assim de sermos condenados. Ele foi o nosso propiciatório. Logo, Deus pode ser favorável (propício) a nós, porque a sua ira já foi aplacada por Jesus (Hb 2.27; 1Jo 2.2; 4.10).
c. Manifestação
Deus não anulou sua justiça e simplesmente absolveu pecadores culpados. Pelo contrário, ele a manifestou de modo claro. Por meio da morte de Jesus a sua justiça foi satisfeita. Nenhum pecado do seu povo ficou sem condenação. Todas as iniqüidades que nos separavam de Deus e nos faziam seus inimigos foram castigadas em Cristo (Is 53.5; 1Co 11.24). Não houve impunidade. Para Deus nos declarar justificados, as nossas culpas precisavam antes ser pagas. Para que pudéssemos nos apresentar diante de Deus e sermos tratados como inocentes, a nossa dívida precisaria estar quitada. Logo, ainda que não sejamos inocentes e não deixemos de ser pecadores, agora, tão somente por causa da obra de Cristo, Deus nos declara justificados. Essa é a resposta para o pecador que precisa de salvação. Aquilo que ele não pode fazer por si mesmo, que é apresentar uma justiça própria, Deus já manifestou em Jesus. Por isso, Deus não é injusto quando nos recebe como filhos, estende a sua misericórdia e graça até nós, pois a sua justiça já foi manifesta no Filho.
III. A fé: o meio da justificação
Agora passamos de toda a obra que Cristo realizou fora de nós, no tempo e no espaço, para a maneira como nos apropriamos dela e dos seus benefícios. É somente por meio da fé que somos justificados. Paulo a menciona oito vezes em Romanos 3.21-31. Mas a fé não é uma obra em particular no lugar das boas-obras. Também não é um sentimento meritório que nos justifica diante de Deus. A fé é um instrumento por meio do qual desfrutamos de todos os benefícios da obra consumada de Cristo. A própria fé é uma dádiva de Deus (Ef 2.8,9). Ela é nosso estender de mãos vazias para receber o presente da salvação que há somente em Cristo. Mas o que é essa fé? Há um consenso entre os estudiosos da Bíblia que a genuína fé tem três elementos básicos: conhecimento, aceitação ou convicção e compromisso.
 a. Conhecimento
A fé à qual a Bíblia se refere não é uma crença cega ou uma submissão passiva a uma igreja ou grupo religioso. Muitos dizem ter fé em Deus ou em Cristo, mas nada sabem a respeito deles. Muitos se filiam às igrejas só porque a mensagem que ouvem os fazem se sentir melhores, gostam da música ou lá possuem amigos. Nada sabem a respeito do pecado e da salvação. Jesus, em muitos ambientes, é muito mais um símbolo do que o Salvador. Mas temos de saber em quem temos crido, assim como Paulo sabia (2Tm 1.12b). Jesus mesmo disse que a vida eterna era conhecê-lo e conhecer o único Deus verdadeiro (Jo 17.3). Só podemos crer em quem conhecemos. Antes do evangelho chegar ao nosso coração, o seu conteúdo tem de passar pela nossa mente.
b. Aceitação
A fé como conhecimento é o primeiro elemento, porém não é o único. Há também a necessidade de aceitação ou convicção de que a mensagem do evangelho é algo pessoal. Devo não somente conhecer o evangelho, mas crer que ele é verdadeiro. Temos que estar persuadidos das nossas ofensas pessoais a Deus, de que somos particularmente pecadores, e de que Cristo morreu por nós.
Alguns até têm um conhecimento intelectual das doutrinas centrais da Bíblia, mas falam delas como se fossem idéias abstratas ou um sistema filosófico qualquer. Um físico é capaz de se sentir muito mais emocionado e motivado com suas fórmulas matemáticas do que essas pessoas com as verdades eternas de salvação. Devemos não somente confessar, mas crer de todo o nosso coração (Rm 10.9).
c. Compromisso
O terceiro elemento da fé é o compromisso. Tiago, falando da importância do compromisso, disse que os demônios conheciam e criam em Deus (Tg 2.19). Mas devemos nos comprometer com Cristo, obedecendo-o (Jo 14.21,23; 15.10,14), sendo seus discípulos (Mt 28.19,20) e submetendo-nos a ele não somente como Salvador e como Senhor (Mt 6.24). O evangelho envolve mudança de valores, compromisso com reino de Deus e com o seu Rei e o desejo intenso de seguir e obedecer a Jesus.
Essa é a fé da qual a Bíblia fala que é o instrumento dado por Deus para que sejamos justificados. Tudo o que Jesus conquistou na cruz é comunicado a nós por meio da fé. Somos declarados justificados somente pela fé, com base na obra de Cristo somente e como fruto somente da graça de Deus.
Conclusão
O apóstolo passou boa parte da sua carta mostrando porque o homem precisava de salvação. Ele queria convencer tanto os judeus quanto os gentios, de que ambos eram culpados diante de Deus e que nada poderiam fazer para se salvarem. Para isso ele os confrontou com a lei de Deus, seja a lei moral que havia no coração dos gentios e a lei entregue por Moisés, da qual os judeus eram conhecedores. A única conclusão possível foi que todos eram pecadores, portanto culpados e separados da glória de Deus (Rm 3.23).
A solução é a justificação pela fé em Cristo. Tudo o que não tínhamos condição de fazer, ele fez por nós. A sua obra consumada na cruz satisfez a justiça de Deus e desviou de sobre nós a sua ira, levando-a ele mesmo sobre si. Portanto, só podemos chegar a Deus por meio da fé em Jesus, pela qual somos declarados por Deus como justificados.


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