PROPOSTA DE RETIRO
PARA O ADVENTO 2021
Vivência do Advento – rumo ao encontro com Cristo
Na sua riqueza teológica, o Advento considera todo o
mistério da vinda do Senhor na história até o seu desfecho total. Esses eventos
estão interligados mutuamente por diversos mistérios.
O Advento faz memória da dimensão histórica da
salvação: celebra o Deus que age na história, Deus da aliança que age nos
acontecimentos para salvar. O Advento é o tempo, torna-se sacramento do agir de
Deus. Advento é o tempo litúrgico que recorda a história como lugar de actuação
de salvação de Deus.
Nele também se evidencia a dimensão escatológica do
mistério cristão no qual Deus está sempre presente para salvar. Ele ultrapassa
a visão individualista e estática dos novíssimos para uma visão escatológica
dinâmica na qual a história é o lugar do agir de Deus, lugar das promessas,
direccionando para o “dia do Senhor”. Fomos reservados para a salvação, mas
esta herança se revelará somente nos fins dos tempos.
Este tempo também recorda uma verdade essencial: a
conotação missionária. A Igreja actualiza a missão de Cristo ajudando os homens
a perceber o Reino e a interiorizá-lo no seu coração. De modo que nele
[Advento] se aprofunda o significado autêntico da missão.
Por fim, o Advento apresenta o Deus da libertação que
entra nos corações dos homens, o protector da causa dos pobres e oprimidos. A
missão, à luz do advento, suscita esperança dos fracos e humildes e não apoia
os poderosos deste mundo. Ele nos faz compreender o mistério salvífico e ajuda-nos
a empenhar-nos no anúncio e testemunho do Reino de Deus. Na sua dimensão
espiritual, a liturgia do Advento é um convite ao cristão a viver a expectativa
vigilante e alegre do Senhor que vem, a esperança, a conversão e a pobreza.
Portanto, é uma espiritualidade que remete para aquilo que é essencial na
vivência cristã.
O olhar dos cristãos,
no tempo do Advento, se fixa na esperança segura do cumprimento final, a vinda
gloriosa do Senhor: “Maranatha: vem, Senhor Jesus”. Toda a
Igreja anseia por isso e todo o nosso peregrinar nesta terra visa este encontro
glorioso com o Senhor. É um a expectativa vigilante acompanhada do convite à
alegria, porque aquilo que esperamos certamente acontecerá. Deus é fiel!
No Advento, a Igreja
reconhece que o Deus de Jesus Cristo é o Deus da esperança. Este tempo nos
educa para a esperança, libertando-nos das impaciências e do frenesi do futuro programado pelo homem. A Igreja vive
na esperança a sua existência como graça de Cristo e por isso torna-se sinal
concreto de libertação integral do homem, que é ao mesmo tempo, dom e tarefa.
O tempo do Advento suscita a luta contra o torpor e a
negligência, requer prontidão, por isso conversão. O comportamento vigilante do
Senhor que vem, suscita mudança de vida frente aos prazeres e bens terrenos,
exige sobriedade e renúncia aos excessos e a tudo aquilo que desvia o cristão
da vinda do Senhor.
Por fim, a
espiritualidade do Advento se caracteriza pela espiritualidade do pobre que
confia em Deus e se apoia n’Ele. Espiritualidade daqueles que vivem a pobreza
do coração, exigindo uma pobreza efectiva e a renúncia em colocar a confiança
nos bens terrenos.
Espiritualidade do advento
Toda a liturgia do Advento, como dissemos atrás, é
apelo para se viver alguns comportamentos essenciais do cristão: a expectativa
vigilante e alegre, a esperança, a conversão, a pobreza. Somente na vivência
profunda destes elementos, o nascimento de Cristo terá um sentido profundo em
nossa vida e não uma simples lembrança histórica.
1) A expectativa vigilante e alegre caracteriza sempre
o cristão e a Igreja, porque o Deus da revelação e o Deus da promessa, que
manifestou em Cristo toda sua fidelidade ao homem. Em toda a liturgia do
Advento ressoam as promessas de Deus, principalmente pela voz de Isaías, que
reaviva a esperança de Israel.
A esperança da Igreja, portanto a nossa esperança, é a
mesma de Israel, mas já realizada em Cristo. O olhar da comunidade, fixa-se com
esperança mais segura no comprimento final, a vinda gloriosa do Senhor:
“Maranatha: vem, Senhor Jesus”. É o grito e o suspiro de toda Igreja e de cada
um de nós, em seu peregrinar terreno ao encontro definitivo do Senhor.
A expectativa vigilante é acompanhada sempre pelo
convite à alegria. O Advento é tempo de expectativa alegre porque aquilo que se
espera certamente acontecerá. Deus é fiel. A vinda do Salvador cria um clima de
alegria que a liturgia não só relembra, mas quer que seja vivida por cada um de
nós.
2) No Advento, toda a Igreja vive sua grande
esperança. O Deus da revelação de Jesus tem um nome: “Deus da esperança” (Rm
15,13). Não é o único nome do Deus vivo, mas um nome que o identifica como
“Deus para nós e connosco”. Este tempo deve ser para nós, e todos precisamos, um
tempo de grande educação à esperança: uma esperança forte e paciente; uma
esperança que aceita a hora da provação, da perseguição e da lentidão no
desenvolvimento do reino; uma esperança que confia no Senhor e nos liberta das
nossas muitas impaciências.
Esse empenho da Igreja torna-se mais forte e urgente
diante das grandes áreas vazias de esperança, que se registam no mundo contemporâneo,
inclusive em nossa Angola e, quiçá, no Amboim. A geografia do desespero é maior
e mais terrível do que a geografia da fome e é expressão aterradora do avanço
de anti-humanismos destruidores, como a droga e a violência.
3) Advento, tempo de conversão. Não existe
possibilidade de esperança e de alegria sem retornar ao Senhor de todo o
coração, na expectativa da sua volta. A vigilância requer luta contra o torpor
e a negligência; requer prontidão, e portanto, desapego dos prazeres e bens
terrenos, como dissemos (cf. Lc 21,34 ss).
Os comportamentos fundamentais do cristão, exigidos
pelo espírito do Advento, estão intimamente unidos entre si, de modo que não é
possível viver a expectativa, a esperança e a alegria pela vinda do Senhor, sem
uma profunda conversão. Por outro lado, como as tentações da vida presente
antecipam a tribulação escatológica, a vigilância cristã exige um treinamento
diário na luta contra o maligno; exige sobriedade e oração contínua: “sejam
sóbrios e fiquem de prontidão” (1 Pd 5,8-9).
4) Enfim, um comportamento que caracteriza a
espiritualidade do Advento é o do pobre. Não tanto o pobre em sentido económico,
mas o pobre entendido em sentido bíblico: aquele que confia em Deus e apoia-se
totalmente nele. Estes ‘anawîm’, como os chama a bíblia, são os mansos e
humildes, porque as suas disposições fundamentais são a humildade, o temor de
Deus, a fé…
As
Figuras do Advento:
Advento
é o tempo litúrgico em que somos convidados a
escutar as vozes dos protagonistas que nos acompanham no percurso de preparação
ao Natal. Entre tais vozes, provindas dos relatos evangélicos da infância de
Jesus, deparamos-nos com anjos e pastores, profetas e profetizas, soberanos e
gente comum. Aqui centramos a atenção em quatro desses protagonistas: Isaías,
João Batista, Maria e José.
Voz de Isaías. O grande profeta do
Antigo Testamento. São dele muitos poemas sobre a vinda do Messias, quando
todas as pessoas e todas as nações formarão um só povo. Em particular, os que
percorreram os caminhos do êxodo e do deserto, do exílio e da diáspora, terão
acesso ao pão, à paz e à pátria. Porque “o povo que andava nas trevas viu uma
grande luz, e uma luz brilhou para os que habitavam um país tenebroso” (Is
9,1). Dele Jesus extrairá a expressão que representa o programa de sua actividade
evangelizadora: “O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu. Enviou-me para dar a
boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a
libertação aos escravos e por em liberdade os prisioneiros; para proclamar o
ano de graça do Senhor” (Is 61,1-2; citado em Lc 4,18-19). A Boa Nova do
Reino de Deus haverá de ser central em toda a mensagem do profeta itinerante de
Nazaré – uma viga mestre de todo o edifício.
Voz
de João Baptista. O cavalo entre o Antigo e o Novo testamentos, simboliza a
passagem da antiga para a nova aliança. Vem como precursor de Jesus. “Preparai
os caminhos do Senhor”, diz sua voz rude, sisuda e solitária, que clama no
deserto. O baptismo e a conversão,
segundo ele, são a melhor forma de preparar-se para a novidade.
Preparar o Natal e preparar-se para o Natal!
Diferentemente do discurso das
bem-aventuranças ou da linguagem do perdão e da misericórdia do Mestre,
entretanto, João não hesita em esgrimir a palavra como uma verdadeira arma,
para falar do julgamento que se avizinha: “o
machado já está posto na raiz das árvores. E toda a árvore que não der bom
fruto, será cortada e jogada ao fogo” (Lc 3,9). Mas reconhece que “no meio de vós existe alguém que vós não
conheceis e que vem depois de mim. Eu não sou digno de desamarrar a correia de
suas sandálias” (Jo 1,26-27). Ele mesmo apontará o Messias a seus próprios discípulos,
alguns dos quais o deixarão para seguir Jesus.
Voz de Maria. Perturbada pela
inesperada visita do anjo Gabriel e por suas palavras iniciais, igualmente
inesperadas – “Alegra-te, cheia de graça,
o Senhor está contigo” – Maria pede explicação sobre a notícia de que
deverá ser mãe. Depois do diálogo entre ela e o visitante, sua resposta não
deixa dúvidas: “Eis a escrava do Senhor:
faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,26-38). O Senhor Deus, aquele
que havia libertado os escravos das
garras do Faraó, no Egipto, irrompe novamente na história humana.
Dominada
pelos tiranos e prepotentes, as relações socioeconómicas e político-culturais
destilam opressão, miséria e sofrimento. O povo caminha com os olhos baixos e
os ombros vergados sob o peso de um fardo maior que suas forças. Uma vez mais,
Deus vem abrir os horizontes do percurso histórico. Vem apontar distintas
veredas, outras possibilidades, alternativas inovadoras. A jovem de Nazaré,
imediata e inteiramente, dispõe-se a contribuir com o projecto de Deus. “De agora em diante todas as gerações me
chamarão bem-aventurada”, canta Maria, sem orgulho e sem falsa humildade
(Lc 1,48b).
Voz
de José. Nos relatos evangélicos, é uma das personagens que jamais faz
ouvir sua voz. Como Maria, também ele aprendeu a silenciar e a prestar atenção
à voz dos anjos, voz que sussurra no meio do mistério das coisas, das pessoas,
da história, do universo e de Deus. Talvez, como diria Santo
Agostinho, seja a voz que “dentro
de mim sabe mais sobre mim que eu mesmo”. Por isso, José é chamado “homem justo, e não queria denunciar Maria”
(Mt 1,19). Representa a voz de quem não fala, do silêncio pleno de sabedoria.
Porém, será sempre o homem certo, no lugar certo e na hora certa. Voz de quem
se dispõe a agir, voz de quem coloca em prática o projecto de Deus. Descoberto
o segredo do mistério, põe-se logo em movimento e, qual guardião desse grande
tesouro, passa a defender a família das adversidades. Verdadeira personificação
do serviço ao próximo e a Deus.
Vivemos o primeiro advento da época de
Sinodalidade na Igreja. Como afirma o Documento da Comissão Teológica
Internacional sobre a “A Sinodalidade na Vida e na Missão da Igreja (n, 55) “A
sinodalidade exprime o ser sujeito de toda a Igreja e de todos na Igreja. [...]
A vida sinodal testemunha uma Igreja constituída por sujeitos livres e
diversos, unidos entre si em comunhão, que se manifesta de forma dinâmica como
um só sujeito comunitário, o qual apoiando-se sobre a pedra angular que é
Cristo e sobre as colunas que são os Apóstolos, é edificada como tantas pedras
vivas numa uma "casa espiritual" (1 Pd 2,5). O caminho da
sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do
Terceiro Milénio” esse é o empenho programático proposto pelo Papa Francisco.
Sínodo é dimensão constitutiva da Igreja, de modo que “aquilo que o Senhor nos pede, em certo sentido, já está tudo contido na
palavra ‘sínodo”.
Rezemos pelo Sínodo para que o
Espírito Santo dirija o nosso “caminhar juntos” e que acertemos com aquilo que
Deus nos pede.
Gabela, 1 de Dezembro de 2021
KD
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