Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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domingo, 13 de janeiro de 2019

A VIDA RELIGIOSA NUMA COMUNIDADE FRATERNA


VIDA EM FRATERNIDADE E MISSÃO

A arquitectónica de vida em comunidade Fraterna – Condivisão (Rm 12,3-8; Ef 4,1-16)

A comunidade religiosa é o lugar de fraternidade. Mas com a condição de que estejam vivos e operantes os factores que constituem o seu fundamento: carisma, espiritualidade e missão.
O papel decisivo da comunicação.
A fraternidade na comunidade religiosa não é um facto automático, alguma coisa que vem da carne e do sangue ou da afinidade de gostos ou da mentalidade. É um DOM que vem de outra parte e que ao mesmo tempo se constrói pacientemente. É o mistério da origem divina de nossas convivências e do esforço humano necessário para edificá-las. Exactamente a síntese entre estes dois componentes, entre o dom e a tarefa, dá lugar àquela que podemos chamar de arquitectura da comunidade religiosa. Isto é, indica os componentes fundamentais, as estruturas portadoras desta obra divino-humana.
O fundamento da construção: o carisma
Na base de um projecto comum de uma consagração Religiosa há uma idêntica chamada da parte de Deus, idêntica porque ligada a um mesmo carisma, e por isso orientada para um mesmo modo de ser, de rezar, de fazer apostolado, de viver a própria fraternidade… enfim, para a mesma identidade. O carisma religioso é, de facto, a revelação do meu EU, o nome que Deus me deu, aquela especifica semelhança com Deus que eu sou chamado a exprimir e na qual consiste a minha pela realização. – Sentido de pertença.
Pois bem, numa comunidade se condivide o mesmo carisma, a mesma identidade. É exactamente daqui, da condivisão de algo fundamental como a identidade, que nasce a fraternidade.
É o carisma que nos une em comunidade, por um vínculo radical, mais forte do que a carne e o sangue, e tudo mais que se poderia condividir e que nos torna de certo modo semelhantes em nossas comunidades, por aquilo que somos e sobretudo por aquilo que somos chamados a ser.
Por isso, a aprofundada compreensão do CARISMA leva a uma clara visão da própria identidade, em torno da qual é mais fácil criar unidade e comunhão. É isto exactamente porque, em comunidade, se descobre que todos carregamos o mesmo nome, ou somos chamados a exprimir e realizar a idêntica semelhança com Deus (aquela continuidade na componente mística do carisma, e que nos reenvia àquela teofania que está na origem de todo carisma. Numa palavra, o carisma por sua própria natureza, cria comunhão; a fidelidade a ele gera fraternidade.
As paredes da construção: espiritualidade e missão
Se o carisma representa os fundamentos sobre os quais “é construída a comunidade, a espiritualidade e a missão são as paredes que sustentam a construção.
É normalmente aceite que a espiritualidade é um dos eixos da vida religiosa enquanto tal. Talvez não seja tão evidente que o seja também da fraternidade. A espiritualidade aparece, às vezes, como um problema do indivíduo, algo bastante privado. Muitos de nós fomos até habituados a cobrir com certa reserva, ou até com pudor, tudo o que se refere ao nosso relacionamento com Deus. Muitos dos momentos de espiritualidade eram vividos no segredo do próprio quarto, com as portas fechadas. No passado, a formação espiritual se dirigia à pessoa, tomada na sua estrita individualidade. O esforço ascético e toda a aparelhagem espiritual eram destinados à edificação e consolidação da estrutura sobrenatural pessoal.
Tudo isto era feito com boas razões e de boa fé; mas o resultado foi de privar muitas vezes a própria espiritualidade comum da contribuição preciosa de cada membro da comunidade, obscurecendo sempre mais a ligação natural entre espiritualidade e fraternidade.
Dissemos ligação natural porque a espiritualidade, no interior de uma comunidade religiosa, não só tem um novo imediato e intrínseco com a fraternidade, mas é por si mesma comunitária, porque essencialmente ligada ao carisma. Ora, se o carisma indica uma comum identidade, a espiritualidade exprime exactamente o conteúdo desta identidade comum, reconhecendo-o naquela particular experiência de Deus, típica do Instituto, que revela e contém também um correspondente projecto de vida e de realização do EU.
Por isso, a espiritualidade não é somente comum, mas a própria comunidade, e nela os irmãos são o caminho providencial através do qual nos vêm (chega até nós) os bens espirituais. Assim é ainda a comunidade, a fraternidade o lugar teológico e o destinatário último destes bens (eu sou feliz na comunidade é na comunidade que eu sou feliz). Podemos até dizer que, se não é comunitária, não é verdadeira espiritualidade, também porque ninguém pode presumir de possuir e compreender na sua totalidade o dom que vem do Alto e que pede necessariamente a relação com o dom da irmã: os dons de Deus procuram-se entre si e somente encontrando-se revelam toda a sua beleza e a plenitude de seu sentido. Quando, ao contrário, o indivíduo se apropria do dom de Deus, este permanece só e não serve mais para nada…(sonho que se sonha só pode ser uma ilusão, sonho que se sonha muitos é sinal de união, vamos pois, companheiro sonhar ligeiro, sonhar em mutirão) Daqui tiramos uma aplicação importante que diz respeito ao estilo, à modalidade de irmãs em comunidade.
A técnica (engenharia) da construção: a condivisão – Rm 12, 3-8; Ef 4,1-16
Propostas concretas, operativas: “comunicar para crescer juntos”.
Trata-se não de um comunicar qualquer, mas de uma condivisão.
A comunidade religiosa é “participação e testemunho qualificado da Igreja-Mistério, enquanto expressão viva e realização privilegiada de sua peculiar comunhão, da grande koinonia trinitária de que o pai quis fazer participar os homens no Filho e no Espírito Santo” .
Há uma convicção profunda na origem da condivisão e da vontade de condividir: é a convicção (quase uma concepção antropológica) de que o homem se realiza não somente no dom de si mesmo, mas graças ao dom do outro e a abertura a tal dom.
Não se trata de “comunicar-se sobre temas e problemas periféricos, mas de compartilhar sobre aquilo que é vital e central no caminho da consagração”. Dizer palavras que condividam a vida, partilhar coisas que ajudem no crescimento da comunidade.
A própria oração comunitária, ocasião privilegiada para o intercâmbio de experiências espirituais deve chegar a ser comunicativa para que possa atingir as próprias riquezas que devem ser transmitidas com simplicidade aos outros. As orações devem ser um render glórias a Deus “com uma só alma e uma só voz (cf Rm 12,5 e Ef 4,4).
A comunhão nasce justamente da partilha dos bens do Espírito, uma partilha da fé e na fé, na qual o vínculo de fraternidade é tanto mais forte quanto mais central e vital é o que se põe em comum (32).
De que adianta pôr em comum os bens materiais se isto não nos leva a condividir os bens do Espírito? E quando deixarmos de condividir os bens do Espírito, também não teremos condições de dividir entre nós os bens materiais.
A condivisão é uma exigência irrenunciável, mas tudo deverá acontecer dentro dos limites sugeridos pela prudência e pelo bom senso (…o que tu me falas por caridade, eu, por caridade, não to falo…). “O problema deve ser afrontado explicitamente com tacto e atenção, sem nenhum exagero mas também com coragem, transparência e criatividade, procurando formas e instrumentos que possam permitir a todos aprender progressivamente a partilhar, com simplicidade e fraternidade, os dons do Espírito, a fim de que se tornem realmente de todos e sirvam para a edificação de todos.
Realmente não é suficiente para quem escolheu uma vida de fraternidade e comparticipação, celebrar com cuidado o próprio pessoal e intimo relacionamento com Deus e aquele banquete de convivialidade da graça que é a oração comunitária.
As formas de comunicação dos dons espirituais podem ser diferentes. Cada comunidade deve encontrar as que mais se adaptam à sua realidade. O importante é que cada um aprenda a pôr ao serviço dos outros a própria experiência espiritual, para o crescimento de todos na comunidade “para a sua edificação e a sua missão no mundo”. Então, a comunidade será realmente aquele “lugar em que a gente se torna irmão”.
Vida Fraterna em Comunidade: comunhão e missão
A missão, para ser eficaz, pressupõe uma autêntica e forte vida fraterna. A comunidade religiosa, é lugar e sujeito da missão. A comunidade tem um papel explicitamente missionário, mas também a missão tem dimensão fortemente comunitária, estabelecendo uma relação de influxo recíproco entre as duas realidades (a comunidade e a missão).
Dilema equívoco
Toda comunidade religiosa é, segundo a natureza própria, apostólica; e logo em seguida: a comunhão representa a fonte e ao mesmo tempo o fruto da missão, a comunhão é missionária e a missão é para a comunhão.
a) Princípio inspirador
Na base da perspectiva sintético–harmónica está a afirmação de que toda a comunidade é apostólica por sua própria natureza. Existe, de fato, diversos tipos de comunidades religiosas que nos foram legadas através dos séculos (a comunidade monástica, a conventual e depois a ativa ou “diaconal”), cada um com legítimas diferenças no modo de entender a comunidade e o relacionamento com a missão, e, assim mesmo, cada uma chamada a fazer-se “anúncio”, diaconia e “testemunho evangélico” .
O que decide sobre o modo de realizar a projecção apostólica da fraternidade é o carisma. Por tanto, é a inspiração carismática que indica como conciliar comunhão e missão. De facto, conteúdos do carisma são também, além da experiência mística, o objectivo e estilo apostólico como o sentimento de pertença e o modo de ser comunitário. Cada instituto, e cada membro seu, encontra a sua identidade em torno destes componentes carismáticos. É necessário, portanto, defini-los com precisão, continuamente descobrindo e redescobrindo aspectos novos e inéditos de uma realidade por sua própria natureza, sempre ideal e rica de mistério. E defini-los não somente na regra de vida, mas também no programa formativo, inicial e permanente; não só nas grandes ideias ou nos projectos ideais, um pouco cansativamente repetidos (por exemplo: o serviço dos pobres), mas também evidenciando os passos, como pessoas e como grupo, ou as etapas intermediárias que levam a viver com originalidade aquele valor, porque exactamente este é o carisma, alguma coisa que abraça todo o aspecto e fragmento da vida, do relacionamento com Deus ao modo de fazer amizade do projecto apostólico ao estilo pessoal de vida.
E então, é necessário colher o mais possível a concretude e a razão de ser em seu lugar, em estreita relação com o conjunto, enquanto o todo exprime a especialidade e a beleza de um projecto que vem do Alto.
b) Dinamismo unificante
A primeira causa do equívoco ou do dilema, de que falávamos acima, é a indeterminação ou imprecisão com a qual um carisma é definido, no plano teórico e mais vezes ainda no plano prático e metodológico (temos de facto boas regras de vida, mas não acontece o mesmo com as Ratio formationis). Se o carisma não for concebido como método e estilo de vida, não será mais principio inspirador que possa levar à harmonia a comunidade e a missão. Mas, como realizar esta harmonia?
O dinamismo unificante é dúplice ou circular: da comunidade para a missão e da missão para a comunidade. E supõe a aplicação de dois princípios, o da condivisão e o da circularidade carismática.
Principio da condivisão: a comunhão é a fonte da missão
É uma afirmação bem conhecida. Nós interpretamos este princípio, por uma questão de coerência lógica, a partir do que foi dito no ponto precedente: numa fraternidade a comunhão é fruto da condivisão dos bens do Espírito. Certo, em si é um Dom já dado para nós merecido pela cruz do Filho, mas torna-se efectivo quando o dom do perdão, por exemplo, é condividido entre dois irmãos, ou quando a palavra é um dom que um faz ao outro e se cresce juntos.
Já, neste sentido, a comunhão gera missão e um adequado espírito missionário; de facto, uma condivisão “da fé e na fé” com os próprios irmãos, como diz o nosso texto, é útil também para aprender a pôr em acto o mesmo estilo da condivisão no apostolado, permitindo a cada um “confessar sua fé em termos fáceis e simples, para que todos possamos entender e saborear” (32). Resumindo, aprende-se a exprimir a própria fé em comunidade para depois saber condividir o dom da fé e da missão, porque ninguém pode pensar, improvisar “fora” algo que não aprendeu “dentro”, com estilo habitual de vida e de relacionamento. A ascese de um certo estilo comunitário, baseado sobre a condivisão dos bens espirituais, então habilita progressivamente para o anúncio apostólico.
E não é só. Esta condivisão da fé e na fé é também condivisão do carisma e no carisma, não é só questão de conteúdos a transmitir e explicar, mas de uma atitude a internalizar ou de uma sensibilidade em linha com o carisma. Por exemplo: se o projecto apostólico de um instituto é o serviço aos pobres, em comunidade, se deve aprender a condividir, sem realmente marginalizar ninguém, antes procurando fazer participar de seus próprios dons, de modo especial, o irmão “pobre”, como pode ser o ancião, o doente, o tipo difícil, aquele que tem mais dificuldade de entender, aquele que tem mais vontade de julgar… Ninguém deve alimentar a ilusão de amar sinceramente o pobre “de fora” se não tiver aprendido a amar o “pobre de casa”. Não difunde a caridade, a fraternidade, aquele que não sabe ser irmão dos irmãos que o Senhor colocou ao seu lado.
Também aqui se repete a mesma lógica, vista anteriormente, é a comunidade que se torna centro propulsor de precisas atitudes missionárias ou lugar de formação (permanente) para viver integralmente o carisma; é a vida comunitária que educa para um certo estilo “carismático” que cria depois uma natural e correspondente disposição apostólica. Se a missão não for “confirmada” é de certo modo recebida e sustentada pela comunhão com os irmãos, não será anúncio do Reino e pode mesmo perder sua credibilidade.
Podemos, então, dizer, em síntese, que a comunhão é fonte de missão quando nasce da condivisão da fé e na fé, do carisma e no carisma; e na medida em que o estilo de Vida Comunitária prepara e dispõe para um correspondente estilo apostólico. Então a comunidade torna-se realmente apostólica e o indivíduo é ajudado a viver a unidade da vida.
Mas, o dinamismo unificante vai também noutra direcção: da missão à comunidade. A missão nos faz uma coisa só.
2) Princípio da Circularidade Carismática: “a comunhão é fruto da missão”
É sempre o mesmo nexo, mas agora considerado a partir da outra vertente: da missão. Segundo este princípio, “ todo o carisma nasce na Igreja e para o mundo, deve ser constantemente reconduzido às suas origens e finalidades, e estará vivo na medida em que for fiel a elas. A Igreja e o mundo permitem (tornam possível) a sua interpretação, solicitam-no o estimulam a uma crescente actualidade e vitalidade” (60). Em síntese, existe apenas um modo de garantir o frescor de um carisma: conservá-lo bem fixo nas suas raízes, aquelas raízes que são a comunidade civil e eclesial e que representam de certo modo o seu lugar hermenêutico. Este manter radicado na “sua terra” não significa outra coisa do que viver plenamente a missão, “exportando” o dom recebido para ambientes novos e situações diferentes, cujas provações e solicitações inéditas possam de alguma maneira fazer “explodir” toda a sua riqueza e originalidade.
Um carisma tem necessidade de ar puro, de espaços abertos, de estimulações sempre novas; do contrário se achata, se empobrece; e nós também empobrecemos juntamente com as nossas comunidades. Por que? O porque é bastante claro e lógico. O carisma representa o elemento fundamental na arquitectura da comunidade religiosa, aquilo que está à base de um comum projecto de consagração. Então, se o carisma não “vive”, se não se renova em contacto com as suas raízes, é fatal que também a comunidade, que está construída sobre ele, perca sua vitalidade (elã), não tenha vínculo que a mantém unida.
É terrível, e não muito raro, ver como as incoerências ou reticências ou ainda o medo ou preguiça na missão se reflectem sobre a qualidade da vida comunitária, mortificando-a, deprimindo-a ou – ao contrário – carregando a vida comunitária de um sentido excessivo e artificial, porque quando não há nenhuma “saída” apostólica e a vida e os interesses são todos trancados aí dentro, quase forçosamente comprimidos, então a comunidade termina em si mesma e a vida comunitária torna-se praticamente impossível, quase um inferno. Infelizmente o critério da circularidade carismática funciona também ao contrário (negativo).
Há ainda um outro aspecto a ser lembrado, e que de certo modo liga o princípio da condivisão ao da circularidade carismática. Quando um instituto é fiel ao seu serviço aos pobres e de fato os seus membros vivem no meio deles e para eles, acontece um facto extraordinário que o documento não deixa de ressaltar: os pobres se tornam evangelizadores! Onde a inserção entre os pobres se tornou – para os pobres e para a própria comunidade – uma verdadeira experiência de Deus, provou-se a verdade da afirmação de que os pobres são evangelizados e de que os pobres evangelizam (63). Certamente nada de automático ou de sensacional; mas, de fato, quando se faz um sincero esforço de explicar e transmitir em termos fáceis e simples o próprio dom, ali nasce algo que é conduzido pelo Espírito; a condivisão gera condivisão, os carismas se aproximam e se iluminam entre eles, o dom de um evoca o dom do outro, e o evangelizador e a própria vida religiosa são evangelizados pela sabedoria e beatitude do pobre!
E assim o dom volta para o lugar de onde partira. O círculo se fecha e a comunhão se abre e se estende. A comunidade, em cujo interior se iniciara a comunhão dos bens, se reencontra enriquecida, de maneira imprevista, de um dom que a torna nova e sempre mais comunidade reunida e enviada pelo Senhor.
VIDA FRATERNA EM COMUNIDADE: BUSCAR JUNTOS A DEUS
Quando se condivide o que é central, isto é, a busca de Deus, nasce a comunidade: um abrir-se ao outro que é, ao mesmo tempo, percepção do mistério que o habita.
A “comunidade ideal”, perfeita, ainda não existe. O nosso é o tempo de edificação e de construção contínua: sempre é possível melhorar e caminhar juntos para uma comunidade que saiba viver o perdão e o amor. Em comunidade somos irmãos por um dom e uma escolha que vem do alto, e nos tornamos irmãos pelo dom de Deus e a nossa luta quotidiana.
Gostaríamos de compreender melhor o sentido desta fraternidade, para além (se possível) dos lugares comuns e, sobretudo, compreender melhor como realizá-la e construí-la. A partir daqui, concentraremos, então, as nossas reflexões sobre três temas que correspondem a outros tantos dinamismos essencialmente comunitários: o buscar a Deus, o servir ao irmão e o crescer e santificar-se juntos (conjuntamente). Partimos de dois pressupostos, quase hipóteses de trabalho:
a) A comunhão fraterna nasce da qualidade do relacionamento com Deus e leva à condivisão do próprio relacionamento.
b) A comunhão fraterna pressupõe a relação e a reconciliação consigo mesmo e conduz à condivisão dos próprios dons.
Veremos agora o primeiro destes dinamismos: Buscar juntos a Deus.
Peregrinos em busca de Deus
Escolhe-se a vida consagrada substancialmente porque se descobre num carisma uma via específica de experiência do divino. Esta experiência se torna comum àqueles que condividem o mesmo carisma, “peregrinos” de uma mesma peregrinação, mas é também o lugar em que o indivíduo, “buscador de Deus”, encontra aquele Deus que o revela a si mesmo. É o aspecto comunitário e, ao mesmo tempo, pessoal da dimensão mística do carisma.
Realizar esta síntese não é empresa fácil, mas é condição fundamental e elemento constitutivo da comunidade religiosa. E nos reenvia, como acenamos na primeira das hipóteses, à qualidade global do próprio relacionamento com Deus e a um aspecto particular dele, implícito na própria idéia de “peregrinação” e busca de Deus como caminho ininterrupto, olhar que perscruta o horizonte, mão colocada atrás da orelha para ouvir alguma voz que oriente, passo fatigante e, no entanto, já tornado sábio e prudente pelo caminho já feito, coração que recorda a estrada percorrida e, ao mesmo tempo, atento para o caminho que preciso fazer ainda.
É a “peregrinação da fé” da qual Maria é perfeita imagem. Como Maria, o peregrino é convidado a “conservar e meditar no coração” (Lc 2,19. 51) tudo o que vê e ouve. Sabe que o passado jamais passou de todo, mas que ainda está aí, a espera sempre e ainda de receber um sentido. Qualquer passado também e, sobretudo, aquele negativo que recorda um sofrimento ou que parece privado de qualquer sentido coerente.
À diferença dos “sábios e inteligentes”, o peregrino buscador do divino tem a percepção muito mais viva da transcendência e da alteridade de Deus, colhe em todas as coisas uma perspectiva ulterior, intui em cada acontecimento, também naquele que parece simples e imediatamente claro, um significado que o supera. Ele sempre respeita a “distância”, uma distância que não afasta nem separa, mas, ao contrário, é espaço fecundo do mistério que abre sempre novos horizontes.
Esta mesma distância, então, torna-se objecto de contemplação; a ausência de Deus se transforma em nova presença e em nova intimidade com ele, onde Deus se revela no “murmúrio da brisa ligeira” (1Rs 19,12); o silêncio de Deus torna possível encontrar uma palavra nova, palavra que pode ser dura, mas dá a vida, nutre e ilumina o caminho.
Mas, em que sentido tudo isto está relacionado com a vida de comunidade?
Transcendência de Deus e fraternidade humana
Aquela distância é também o espaço em que nasce e floresce a fraternidade na comunidade religiosa, espaço no qual nos encontramos e acolhemos reciprocamente. Na verdade não existe para nós outra fraternidade a não ser aquela que se desenvolve ao longo do tempo e na fadiga da peregrinação e por causa dela. “A perfeita comunhão dos santos é meta na Jerusalém celeste” (n.26). Mas há uma comunhão a construir já aqui em baixo, que talvez não será perfeita nem “só para os santos”, mas não deixa de ser comunhão e fraternidade verdadeira, vínculo que vem de Deus e da busca do seu rosto. É esta a típica comunhão da comunidade religiosa. Comunhão fraterna tanto mais intensa quanto mais intensa for a busca, tanto mais verdadeira quanto maior for o desejo de estar com o Senhor, tanto mais forte quanto mais sofrida for a experiência da alteridade de Deus. Isto ao menos por dois motivos:
a) Antes de tudo porque o tender autenticamente para Deus faz redescobrir a raiz comum, a origem da qual juntos viemos e que nos torna filhos seus e irmãos entre nós. E, quanto mais este caminho de convergência para o centro nos permitir entrar no espaço transcendente de Deus, aceitando a distância do seu silêncio, tanto mais estaremos em condições de perceber aquela semelhança radical entre nós, sempre mais forte do que tudo o que poderia nos dividir.
Em outras palavras: a experiência da alteridade – diversidade de Deus como lugar de uma nova intimidade com Ele – nos torna capazes de acolher o irmão na alteridade-diversidade, como um bem a ser valorizado.
Enquanto, ao contrário, a tentativa – embora subtil – de eliminar a distância que nos “separa” de Deus, quase a homologando à própria (minha) imagem do divino e aos próprios gostos, torna-nos incapazes de aceitar a diversidade do irmão ou torna imediatamente conflitual a própria diversidade como tal.
b) Segundo motivo: para o cristão o conhecer a Deus é um acto essencialmente intersubjectivo, acto que acontece no interior de uma série de mediações, das quais a primeira é a Palavra pronunciada por Deus e depois feita ressoar na comunicação fraterna. Segundo Basílio, o crente que se torna monge tem uma interioridade dialógica, ou seja, tem o máximo de cuidado para não pretender que a sua interpretação do divino seja exaustiva ou de fazer coincidir imediatamente a verdade com a sua ideia, e por isso decide entrar em diálogo como o irmão. Assim, a distância que o separa da compreensão plena da verdade torna-se também o espaço dentro do qual procura e acolhe o irmão e por ele se sente acolhido, e junto com ele busca a Deus.
É este o espaço de uma nova fraternidade, que não nasce da carne e do sangue, mas que nem por isso deixa de ser profundamente humana e contagiosa (e contagiante). A fraternidade possui raízes místicas e escondidas, mas o seu florescer é um dos sinais visíveis e atraentes do Reino que está para vir. Uma comunidade, na qual juntos se busca a Deus, é fraternidade que testemunha a beleza da consagração e exerce uma atracção violenta.
Sinais de comunhão na busca de Deus
Tentaremos perceber ao menos alguns sinais desta comunidade em que se busca juntos o rosto de Deus.
a) Experiência espiritual individual e comunitária.
O que faz de uma convivência de pessoas uma comunidade religiosa não é o caminho espiritual dos indivíduos, mas o pôr em comum destes caminhos até o ponto de formar deles idealmente um só caminho. No fundo, o carisma não é uma proposta de uma mesma experiência de Deus? O relacionamento com Deus deveria levar a descobrir sempre mais o sentido da fraternidade e, portanto, também procurar o irmão para condividir com ele o idêntico caminho evangélico e espiritual. Como poderia ser rico aquele depósito de sabedoria espiritual que é fruto da condivisão das experiências dos indivíduos em nossas comunidades! Como uma espécie de “banco comum de bens espirituais” com o qual todos contribuíram e do qual todos podem “sacar” para caminhar juntos com mais disposição em encontro do Senhor, nosso único bem.
b) Solidão e companhia
Viver em comunidade quer dizer, portanto, fundamentalmente condividir. É o significado etimológico da palavra “com-panhia”: condividir o pão a ser comido, nutrir-se do mesmo alimento durante a viagem. A amizade religiosa deriva deste tipo de “com-panhia”, é autêntica quando aquilo que une (liga) os dois amigos é o próprio movente essencial da sua consagração.
Quando se condivide aquilo que é central, isto é, o “pão” da busca de Deus, se faz contemporaneamente a experiência de “com-panhia” e de solidão como de duas realidades que entre elas se espelham e se completam, com as duas faces da mesma medalha: uma não pode existir (sobreviver) sem a outra, uma autentica a outra. Uma “com-panhia” que não respeita a solidão é um amizade entre dois consagrados que não põem no centro do seu relacionamento aquilo que é essencial e, portanto, não é verdadeira amizade, nem faz crescerem juntos. Por outro lado, uma solidão ou uma intimidade com Deus que não se abre para a “com-panhia” não é verdadeira espiritualidade nem autêntica solidão. É antes fechamento (isolamento) que empobrece o indivíduo e a própria comunidade. Ainda uma vez, trata-se de unir a busca solitária e a peregrinação comunitária para Deus, e fazer das duas uma coisa só.
c) Diálogo e silêncio
Já dissemos que o consagrado tem uma interioridade dialógica, o diálogo é parte essencial da sua identidade. Um diálogo ininterrupto se desenvolve no segredo e no silêncio de sua alma com a Palavra de Deus. Esta Palavra, o consagrado não pode guardá-la só para si, nem pode alimentar a pretensão de compreendê-la por si só. Então o diálogo passa do silêncio da interioridade para a partilha fraterna em comunidade. E, com um fruto talvez nem de todo calculável: a Palavra de Deus, enquanto ressoa na riqueza e variedade de interpretações suscitadas pelo mesmo Espírito, une os corações e as mentes no mesmo caminho de santidade. Do silêncio ao diálogo, do diálogo ao silêncio. O silêncio protege o diálogo com Deus, o diálogo com Deus protege o diálogo com os irmãos que – por sua vez – reenvia ao silêncio da intimidade divina. E a vida comunitária se torna intimidade divina. E a vida comunitária se torna cada vez mais busca e manifestação do rosto de Deus.
Vida fraterna em comunidade: juntos para uma missão comum
O serviço apostólico pode e deve nascer da escuta individual e comunitária da Palavra. O serviço não conhece a ‘ânsia e a angústia’ de quem anuncia a si mesmo. O serviço é prestado ao pobre, tanto dentro como fora da comunidade.
A missão, como sabemos, é uma das paredes que sustentam a estrutura (a arquitectura geral) comunitária. Mas, o que qualifica o apostolado é que este é feito comunitariamente, não é expressão de um indivíduo, muito menos se destina a sua afirmação pessoal, mas expressa a paixão de um grupo de irmãos que decidem condividir, também com aqueles que não fazem parte da família, aquilo que atraiu o seu coração e preencheu a sua vida.
Consideramos já, anteriormente, mas de maneira muito global, a relação que existe entre comunidade e missão. Gostaríamos agora de tentar individuar, com mais precisão, aquilo que abre o indivíduo a esta acção comunitária, quais são as condições indispensáveis, internas ao sujeito, para testemunhar servir não a título pessoal, mas em comunhão de obras e de intenções com os seus irmãos. Sabemos que tudo isto não acontece com muita naturalidade. Muitos religiosos sabem testemunhar, mas não colaborar (trabalhar com); são generosíssimos na dedicação pessoal, mas na mesma medida ciumentos daquilo que fazem. Estão dispostos a sacrificar-se no apostolado, mas retiram-se ressentidos quando não estão mais no centro das atenções; ou se doam totalmente, mas com a condição de fazê-lo segundo os seus projectos; eles são mais franco atiradores (batedores livres) do que ‘servos inúteis’.
Mas, ao contrário, que testemunho eficaz dá uma comunidade de irmãos concordes e unidos nas fadigas da missão, capazes de tornar visível, para além de tudo quanto poderia dividir, a força daquilo que os une.
Mas, afinal, o que há no coração desta experiência? Por que ela é tão difícil?
Para responder. Exploraremos aqueles dois pressupostos já indicados no artigo precedente, segundo os quais a comunhão fraterna nasce ao mesmo tempo da qualidade do relacionamento com Deus e consigo mesmo, e leva a condivisão dos próprios dons da natureza e da graça. É uma hipótese da qual partimos para esta reflexão.
Discípulos e apóstolos
O problema coloca-se em dois níveis
a) Num primeiro nível, interpessoal, trata-se de encontrar a síntese entre duas dimensões do ser consagrados: a dimensão do discípulo que escuta a Palavra e do apóstolo que serve o irmão. Muitas vezes não há realmente comunicação entre estas duas figuras ou símbolos ou maneiras de entender a própria vida consagrada. Por isso, haverá sempre quem a interpreta sublinhando, às vezes excessivamente, a vertente espiritual, e quem – ao contrário – vê só ou prevalentemente o trabalho a fazer. É uma antítese clássica, até ‘evangélica’ se nos dois tipos for lícito reconhecer a atitude de Marta e Maria (Lc 10, 38-42); antítese, sobretudo estéril e insolúvel, se não for reconhecida à raiz mais escondida e interna da pessoa.
b) E com isto chegamos ao segundo nível, o intrapsíquico, sem dúvida o mais decisivo, embora pareça estar longe do objecto da nossa análise, que é a comunhão fraterna no apostolado. O princípio é este: também a fraternidade na missão está ligada à qualidade do relacionamento com Deus e consigo mesmo.
Voltemos, por um momento, à cena de Betânia e tentemos ler o episódio como se Marta e Maria fossem dois aspectos de uma mesma pessoa, ou duas realidades que vivem dentro de cada um de nós, talvez se alternando em horários diferentes e às vezes contrapondo-se, como no Evangelho. No fundo, o que esta passagem quer sublinhar é exactamente a dificuldade de harmonizar estas duas dimensões. E, não é também esta uma expressão de qualidade dialéctica interna, profundamente radicada no íntimo do homem (ser humano) daquela fractura intrapsíquica, como uma isquemia subtensa (que tem a função de inibir, dificultar) ao coração humano que nos impede de comunicar-nos connosco mesmos, de tomar consciência de nosso mundo interior com seus sentimentos, tendências, desejos, monstros, feridas ainda abertas….?
De modo particular, o episódio evangélico assinala uma expressão específica desta ‘não comunicação’, ou dois níveis da nossa vida habitual, entre os quais, muitas vezes, não há suficiente relacionamento: o nível da acção (Marta) e o da motivação profunda (Maria).
Acção e motivação
Muitas vezes, estes dois planos se ignoram numa mesma pessoa: o comportamento vai numa direcção, mas o indivíduo não o sabe, e deixa assim que o contraste se radique em profundidade, criando inevitavelmente um conflito interno (agitação de Marta) e tensão externa (ausência de comunicação entre Marta e Maria, ou seja, entre os dois planos).
Kaquindas Dias

A VIDA RELIGIOSA NUMA COMUNIDADE FRATERNA


VIDA EM FRATERNIDADE E MISSÃO

A arquitectónica de vida em comunidade Fraterna – Condivisão (Rm 12,3-8; Ef 4,1-16)

A comunidade religiosa é o lugar de fraternidade. Mas com a condição de que estejam vivos e operantes os factores que constituem o seu fundamento: carisma, espiritualidade e missão.
O papel decisivo da comunicação.
A fraternidade na comunidade religiosa não é um facto automático, alguma coisa que vem da carne e do sangue ou da afinidade de gostos ou da mentalidade. É um DOM que vem de outra parte e que ao mesmo tempo se constrói pacientemente. É o mistério da origem divina de nossas convivências e do esforço humano necessário para edificá-las. Exactamente a síntese entre estes dois componentes, entre o dom e a tarefa, dá lugar àquela que podemos chamar de arquitectura da comunidade religiosa. Isto é, indica os componentes fundamentais, as estruturas portadoras desta obra divino-humana.
O fundamento da construção: o carisma
Na base de um projecto comum de uma consagração Religiosa há uma idêntica chamada da parte de Deus, idêntica porque ligada a um mesmo carisma, e por isso orientada para um mesmo modo de ser, de rezar, de fazer apostolado, de viver a própria fraternidade… enfim, para a mesma identidade. O carisma religioso é, de facto, a revelação do meu EU, o nome que Deus me deu, aquela especifica semelhança com Deus que eu sou chamado a exprimir e na qual consiste a minha pela realização. – Sentido de pertença.
Pois bem, numa comunidade se condivide o mesmo carisma, a mesma identidade. É exactamente daqui, da condivisão de algo fundamental como a identidade, que nasce a fraternidade.
É o carisma que nos une em comunidade, por um vínculo radical, mais forte do que a carne e o sangue, e tudo mais que se poderia condividir e que nos torna de certo modo semelhantes em nossas comunidades, por aquilo que somos e sobretudo por aquilo que somos chamados a ser.
Por isso, a aprofundada compreensão do CARISMA leva a uma clara visão da própria identidade, em torno da qual é mais fácil criar unidade e comunhão. É isto exactamente porque, em comunidade, se descobre que todos carregamos o mesmo nome, ou somos chamados a exprimir e realizar a idêntica semelhança com Deus (aquela continuidade na componente mística do carisma, e que nos reenvia àquela teofania que está na origem de todo carisma. Numa palavra, o carisma por sua própria natureza, cria comunhão; a fidelidade a ele gera fraternidade.
As paredes da construção: espiritualidade e missão
Se o carisma representa os fundamentos sobre os quais “é construída a comunidade, a espiritualidade e a missão são as paredes que sustentam a construção.
É normalmente aceite que a espiritualidade é um dos eixos da vida religiosa enquanto tal. Talvez não seja tão evidente que o seja também da fraternidade. A espiritualidade aparece, às vezes, como um problema do indivíduo, algo bastante privado. Muitos de nós fomos até habituados a cobrir com certa reserva, ou até com pudor, tudo o que se refere ao nosso relacionamento com Deus. Muitos dos momentos de espiritualidade eram vividos no segredo do próprio quarto, com as portas fechadas. No passado, a formação espiritual se dirigia à pessoa, tomada na sua estrita individualidade. O esforço ascético e toda a aparelhagem espiritual eram destinados à edificação e consolidação da estrutura sobrenatural pessoal.
Tudo isto era feito com boas razões e de boa fé; mas o resultado foi de privar muitas vezes a própria espiritualidade comum da contribuição preciosa de cada membro da comunidade, obscurecendo sempre mais a ligação natural entre espiritualidade e fraternidade.
Dissemos ligação natural porque a espiritualidade, no interior de uma comunidade religiosa, não só tem um novo imediato e intrínseco com a fraternidade, mas é por si mesma comunitária, porque essencialmente ligada ao carisma. Ora, se o carisma indica uma comum identidade, a espiritualidade exprime exactamente o conteúdo desta identidade comum, reconhecendo-o naquela particular experiência de Deus, típica do Instituto, que revela e contém também um correspondente projecto de vida e de realização do EU.
Por isso, a espiritualidade não é somente comum, mas a própria comunidade, e nela os irmãos são o caminho providencial através do qual nos vêm (chega até nós) os bens espirituais. Assim é ainda a comunidade, a fraternidade o lugar teológico e o destinatário último destes bens (eu sou feliz na comunidade é na comunidade que eu sou feliz). Podemos até dizer que, se não é comunitária, não é verdadeira espiritualidade, também porque ninguém pode presumir de possuir e compreender na sua totalidade o dom que vem do Alto e que pede necessariamente a relação com o dom da irmã: os dons de Deus procuram-se entre si e somente encontrando-se revelam toda a sua beleza e a plenitude de seu sentido. Quando, ao contrário, o indivíduo se apropria do dom de Deus, este permanece só e não serve mais para nada…(sonho que se sonha só pode ser uma ilusão, sonho que se sonha muitos é sinal de união, vamos pois, companheiro sonhar ligeiro, sonhar em mutirão) Daqui tiramos uma aplicação importante que diz respeito ao estilo, à modalidade de irmãs em comunidade.
A técnica (engenharia) da construção: a condivisão – Rm 12, 3-8; Ef 4,1-16
Propostas concretas, operativas: “comunicar para crescer juntos”.
Trata-se não de um comunicar qualquer, mas de uma condivisão.
A comunidade religiosa é “participação e testemunho qualificado da Igreja-Mistério, enquanto expressão viva e realização privilegiada de sua peculiar comunhão, da grande koinonia trinitária de que o pai quis fazer participar os homens no Filho e no Espírito Santo” .
Há uma convicção profunda na origem da condivisão e da vontade de condividir: é a convicção (quase uma concepção antropológica) de que o homem se realiza não somente no dom de si mesmo, mas graças ao dom do outro e a abertura a tal dom.
Não se trata de “comunicar-se sobre temas e problemas periféricos, mas de compartilhar sobre aquilo que é vital e central no caminho da consagração”. Dizer palavras que condividam a vida, partilhar coisas que ajudem no crescimento da comunidade.
A própria oração comunitária, ocasião privilegiada para o intercâmbio de experiências espirituais deve chegar a ser comunicativa para que possa atingir as próprias riquezas que devem ser transmitidas com simplicidade aos outros. As orações devem ser um render glórias a Deus “com uma só alma e uma só voz (cf Rm 12,5 e Ef 4,4).
A comunhão nasce justamente da partilha dos bens do Espírito, uma partilha da fé e na fé, na qual o vínculo de fraternidade é tanto mais forte quanto mais central e vital é o que se põe em comum (32).
De que adianta pôr em comum os bens materiais se isto não nos leva a condividir os bens do Espírito? E quando deixarmos de condividir os bens do Espírito, também não teremos condições de dividir entre nós os bens materiais.
A condivisão é uma exigência irrenunciável, mas tudo deverá acontecer dentro dos limites sugeridos pela prudência e pelo bom senso (…o que tu me falas por caridade, eu, por caridade, não to falo…). “O problema deve ser afrontado explicitamente com tacto e atenção, sem nenhum exagero mas também com coragem, transparência e criatividade, procurando formas e instrumentos que possam permitir a todos aprender progressivamente a partilhar, com simplicidade e fraternidade, os dons do Espírito, a fim de que se tornem realmente de todos e sirvam para a edificação de todos.
Realmente não é suficiente para quem escolheu uma vida de fraternidade e comparticipação, celebrar com cuidado o próprio pessoal e intimo relacionamento com Deus e aquele banquete de convivialidade da graça que é a oração comunitária.
As formas de comunicação dos dons espirituais podem ser diferentes. Cada comunidade deve encontrar as que mais se adaptam à sua realidade. O importante é que cada um aprenda a pôr ao serviço dos outros a própria experiência espiritual, para o crescimento de todos na comunidade “para a sua edificação e a sua missão no mundo”. Então, a comunidade será realmente aquele “lugar em que a gente se torna irmão”.
Vida Fraterna em Comunidade: comunhão e missão
A missão, para ser eficaz, pressupõe uma autêntica e forte vida fraterna. A comunidade religiosa, é lugar e sujeito da missão. A comunidade tem um papel explicitamente missionário, mas também a missão tem dimensão fortemente comunitária, estabelecendo uma relação de influxo recíproco entre as duas realidades (a comunidade e a missão).
Dilema equívoco
Toda comunidade religiosa é, segundo a natureza própria, apostólica; e logo em seguida: a comunhão representa a fonte e ao mesmo tempo o fruto da missão, a comunhão é missionária e a missão é para a comunhão.
a) Princípio inspirador
Na base da perspectiva sintético–harmónica está a afirmação de que toda a comunidade é apostólica por sua própria natureza. Existe, de fato, diversos tipos de comunidades religiosas que nos foram legadas através dos séculos (a comunidade monástica, a conventual e depois a ativa ou “diaconal”), cada um com legítimas diferenças no modo de entender a comunidade e o relacionamento com a missão, e, assim mesmo, cada uma chamada a fazer-se “anúncio”, diaconia e “testemunho evangélico” .
O que decide sobre o modo de realizar a projecção apostólica da fraternidade é o carisma. Por tanto, é a inspiração carismática que indica como conciliar comunhão e missão. De facto, conteúdos do carisma são também, além da experiência mística, o objectivo e estilo apostólico como o sentimento de pertença e o modo de ser comunitário. Cada instituto, e cada membro seu, encontra a sua identidade em torno destes componentes carismáticos. É necessário, portanto, defini-los com precisão, continuamente descobrindo e redescobrindo aspectos novos e inéditos de uma realidade por sua própria natureza, sempre ideal e rica de mistério. E defini-los não somente na regra de vida, mas também no programa formativo, inicial e permanente; não só nas grandes ideias ou nos projectos ideais, um pouco cansativamente repetidos (por exemplo: o serviço dos pobres), mas também evidenciando os passos, como pessoas e como grupo, ou as etapas intermediárias que levam a viver com originalidade aquele valor, porque exactamente este é o carisma, alguma coisa que abraça todo o aspecto e fragmento da vida, do relacionamento com Deus ao modo de fazer amizade do projecto apostólico ao estilo pessoal de vida.
E então, é necessário colher o mais possível a concretude e a razão de ser em seu lugar, em estreita relação com o conjunto, enquanto o todo exprime a especialidade e a beleza de um projecto que vem do Alto.
b) Dinamismo unificante
A primeira causa do equívoco ou do dilema, de que falávamos acima, é a indeterminação ou imprecisão com a qual um carisma é definido, no plano teórico e mais vezes ainda no plano prático e metodológico (temos de facto boas regras de vida, mas não acontece o mesmo com as Ratio formationis). Se o carisma não for concebido como método e estilo de vida, não será mais principio inspirador que possa levar à harmonia a comunidade e a missão. Mas, como realizar esta harmonia?
O dinamismo unificante é dúplice ou circular: da comunidade para a missão e da missão para a comunidade. E supõe a aplicação de dois princípios, o da condivisão e o da circularidade carismática.
Principio da condivisão: a comunhão é a fonte da missão
É uma afirmação bem conhecida. Nós interpretamos este princípio, por uma questão de coerência lógica, a partir do que foi dito no ponto precedente: numa fraternidade a comunhão é fruto da condivisão dos bens do Espírito. Certo, em si é um Dom já dado para nós merecido pela cruz do Filho, mas torna-se efectivo quando o dom do perdão, por exemplo, é condividido entre dois irmãos, ou quando a palavra é um dom que um faz ao outro e se cresce juntos.
Já, neste sentido, a comunhão gera missão e um adequado espírito missionário; de facto, uma condivisão “da fé e na fé” com os próprios irmãos, como diz o nosso texto, é útil também para aprender a pôr em acto o mesmo estilo da condivisão no apostolado, permitindo a cada um “confessar sua fé em termos fáceis e simples, para que todos possamos entender e saborear” (32). Resumindo, aprende-se a exprimir a própria fé em comunidade para depois saber condividir o dom da fé e da missão, porque ninguém pode pensar, improvisar “fora” algo que não aprendeu “dentro”, com estilo habitual de vida e de relacionamento. A ascese de um certo estilo comunitário, baseado sobre a condivisão dos bens espirituais, então habilita progressivamente para o anúncio apostólico.
E não é só. Esta condivisão da fé e na fé é também condivisão do carisma e no carisma, não é só questão de conteúdos a transmitir e explicar, mas de uma atitude a internalizar ou de uma sensibilidade em linha com o carisma. Por exemplo: se o projecto apostólico de um instituto é o serviço aos pobres, em comunidade, se deve aprender a condividir, sem realmente marginalizar ninguém, antes procurando fazer participar de seus próprios dons, de modo especial, o irmão “pobre”, como pode ser o ancião, o doente, o tipo difícil, aquele que tem mais dificuldade de entender, aquele que tem mais vontade de julgar… Ninguém deve alimentar a ilusão de amar sinceramente o pobre “de fora” se não tiver aprendido a amar o “pobre de casa”. Não difunde a caridade, a fraternidade, aquele que não sabe ser irmão dos irmãos que o Senhor colocou ao seu lado.
Também aqui se repete a mesma lógica, vista anteriormente, é a comunidade que se torna centro propulsor de precisas atitudes missionárias ou lugar de formação (permanente) para viver integralmente o carisma; é a vida comunitária que educa para um certo estilo “carismático” que cria depois uma natural e correspondente disposição apostólica. Se a missão não for “confirmada” é de certo modo recebida e sustentada pela comunhão com os irmãos, não será anúncio do Reino e pode mesmo perder sua credibilidade.
Podemos, então, dizer, em síntese, que a comunhão é fonte de missão quando nasce da condivisão da fé e na fé, do carisma e no carisma; e na medida em que o estilo de Vida Comunitária prepara e dispõe para um correspondente estilo apostólico. Então a comunidade torna-se realmente apostólica e o indivíduo é ajudado a viver a unidade da vida.
Mas, o dinamismo unificante vai também noutra direcção: da missão à comunidade. A missão nos faz uma coisa só.
2) Princípio da Circularidade Carismática: “a comunhão é fruto da missão”
É sempre o mesmo nexo, mas agora considerado a partir da outra vertente: da missão. Segundo este princípio, “ todo o carisma nasce na Igreja e para o mundo, deve ser constantemente reconduzido às suas origens e finalidades, e estará vivo na medida em que for fiel a elas. A Igreja e o mundo permitem (tornam possível) a sua interpretação, solicitam-no o estimulam a uma crescente actualidade e vitalidade” (60). Em síntese, existe apenas um modo de garantir o frescor de um carisma: conservá-lo bem fixo nas suas raízes, aquelas raízes que são a comunidade civil e eclesial e que representam de certo modo o seu lugar hermenêutico. Este manter radicado na “sua terra” não significa outra coisa do que viver plenamente a missão, “exportando” o dom recebido para ambientes novos e situações diferentes, cujas provações e solicitações inéditas possam de alguma maneira fazer “explodir” toda a sua riqueza e originalidade.
Um carisma tem necessidade de ar puro, de espaços abertos, de estimulações sempre novas; do contrário se achata, se empobrece; e nós também empobrecemos juntamente com as nossas comunidades. Por que? O porque é bastante claro e lógico. O carisma representa o elemento fundamental na arquitectura da comunidade religiosa, aquilo que está à base de um comum projecto de consagração. Então, se o carisma não “vive”, se não se renova em contacto com as suas raízes, é fatal que também a comunidade, que está construída sobre ele, perca sua vitalidade (elã), não tenha vínculo que a mantém unida.
É terrível, e não muito raro, ver como as incoerências ou reticências ou ainda o medo ou preguiça na missão se reflectem sobre a qualidade da vida comunitária, mortificando-a, deprimindo-a ou – ao contrário – carregando a vida comunitária de um sentido excessivo e artificial, porque quando não há nenhuma “saída” apostólica e a vida e os interesses são todos trancados aí dentro, quase forçosamente comprimidos, então a comunidade termina em si mesma e a vida comunitária torna-se praticamente impossível, quase um inferno. Infelizmente o critério da circularidade carismática funciona também ao contrário (negativo).
Há ainda um outro aspecto a ser lembrado, e que de certo modo liga o princípio da condivisão ao da circularidade carismática. Quando um instituto é fiel ao seu serviço aos pobres e de fato os seus membros vivem no meio deles e para eles, acontece um facto extraordinário que o documento não deixa de ressaltar: os pobres se tornam evangelizadores! Onde a inserção entre os pobres se tornou – para os pobres e para a própria comunidade – uma verdadeira experiência de Deus, provou-se a verdade da afirmação de que os pobres são evangelizados e de que os pobres evangelizam (63). Certamente nada de automático ou de sensacional; mas, de fato, quando se faz um sincero esforço de explicar e transmitir em termos fáceis e simples o próprio dom, ali nasce algo que é conduzido pelo Espírito; a condivisão gera condivisão, os carismas se aproximam e se iluminam entre eles, o dom de um evoca o dom do outro, e o evangelizador e a própria vida religiosa são evangelizados pela sabedoria e beatitude do pobre!
E assim o dom volta para o lugar de onde partira. O círculo se fecha e a comunhão se abre e se estende. A comunidade, em cujo interior se iniciara a comunhão dos bens, se reencontra enriquecida, de maneira imprevista, de um dom que a torna nova e sempre mais comunidade reunida e enviada pelo Senhor.
VIDA FRATERNA EM COMUNIDADE: BUSCAR JUNTOS A DEUS
Quando se condivide o que é central, isto é, a busca de Deus, nasce a comunidade: um abrir-se ao outro que é, ao mesmo tempo, percepção do mistério que o habita.
A “comunidade ideal”, perfeita, ainda não existe. O nosso é o tempo de edificação e de construção contínua: sempre é possível melhorar e caminhar juntos para uma comunidade que saiba viver o perdão e o amor. Em comunidade somos irmãos por um dom e uma escolha que vem do alto, e nos tornamos irmãos pelo dom de Deus e a nossa luta quotidiana.
Gostaríamos de compreender melhor o sentido desta fraternidade, para além (se possível) dos lugares comuns e, sobretudo, compreender melhor como realizá-la e construí-la. A partir daqui, concentraremos, então, as nossas reflexões sobre três temas que correspondem a outros tantos dinamismos essencialmente comunitários: o buscar a Deus, o servir ao irmão e o crescer e santificar-se juntos (conjuntamente). Partimos de dois pressupostos, quase hipóteses de trabalho:
a) A comunhão fraterna nasce da qualidade do relacionamento com Deus e leva à condivisão do próprio relacionamento.
b) A comunhão fraterna pressupõe a relação e a reconciliação consigo mesmo e conduz à condivisão dos próprios dons.
Veremos agora o primeiro destes dinamismos: Buscar juntos a Deus.
Peregrinos em busca de Deus
Escolhe-se a vida consagrada substancialmente porque se descobre num carisma uma via específica de experiência do divino. Esta experiência se torna comum àqueles que condividem o mesmo carisma, “peregrinos” de uma mesma peregrinação, mas é também o lugar em que o indivíduo, “buscador de Deus”, encontra aquele Deus que o revela a si mesmo. É o aspecto comunitário e, ao mesmo tempo, pessoal da dimensão mística do carisma.
Realizar esta síntese não é empresa fácil, mas é condição fundamental e elemento constitutivo da comunidade religiosa. E nos reenvia, como acenamos na primeira das hipóteses, à qualidade global do próprio relacionamento com Deus e a um aspecto particular dele, implícito na própria idéia de “peregrinação” e busca de Deus como caminho ininterrupto, olhar que perscruta o horizonte, mão colocada atrás da orelha para ouvir alguma voz que oriente, passo fatigante e, no entanto, já tornado sábio e prudente pelo caminho já feito, coração que recorda a estrada percorrida e, ao mesmo tempo, atento para o caminho que preciso fazer ainda.
É a “peregrinação da fé” da qual Maria é perfeita imagem. Como Maria, o peregrino é convidado a “conservar e meditar no coração” (Lc 2,19. 51) tudo o que vê e ouve. Sabe que o passado jamais passou de todo, mas que ainda está aí, a espera sempre e ainda de receber um sentido. Qualquer passado também e, sobretudo, aquele negativo que recorda um sofrimento ou que parece privado de qualquer sentido coerente.
À diferença dos “sábios e inteligentes”, o peregrino buscador do divino tem a percepção muito mais viva da transcendência e da alteridade de Deus, colhe em todas as coisas uma perspectiva ulterior, intui em cada acontecimento, também naquele que parece simples e imediatamente claro, um significado que o supera. Ele sempre respeita a “distância”, uma distância que não afasta nem separa, mas, ao contrário, é espaço fecundo do mistério que abre sempre novos horizontes.
Esta mesma distância, então, torna-se objecto de contemplação; a ausência de Deus se transforma em nova presença e em nova intimidade com ele, onde Deus se revela no “murmúrio da brisa ligeira” (1Rs 19,12); o silêncio de Deus torna possível encontrar uma palavra nova, palavra que pode ser dura, mas dá a vida, nutre e ilumina o caminho.
Mas, em que sentido tudo isto está relacionado com a vida de comunidade?
Transcendência de Deus e fraternidade humana
Aquela distância é também o espaço em que nasce e floresce a fraternidade na comunidade religiosa, espaço no qual nos encontramos e acolhemos reciprocamente. Na verdade não existe para nós outra fraternidade a não ser aquela que se desenvolve ao longo do tempo e na fadiga da peregrinação e por causa dela. “A perfeita comunhão dos santos é meta na Jerusalém celeste” (n.26). Mas há uma comunhão a construir já aqui em baixo, que talvez não será perfeita nem “só para os santos”, mas não deixa de ser comunhão e fraternidade verdadeira, vínculo que vem de Deus e da busca do seu rosto. É esta a típica comunhão da comunidade religiosa. Comunhão fraterna tanto mais intensa quanto mais intensa for a busca, tanto mais verdadeira quanto maior for o desejo de estar com o Senhor, tanto mais forte quanto mais sofrida for a experiência da alteridade de Deus. Isto ao menos por dois motivos:
a) Antes de tudo porque o tender autenticamente para Deus faz redescobrir a raiz comum, a origem da qual juntos viemos e que nos torna filhos seus e irmãos entre nós. E, quanto mais este caminho de convergência para o centro nos permitir entrar no espaço transcendente de Deus, aceitando a distância do seu silêncio, tanto mais estaremos em condições de perceber aquela semelhança radical entre nós, sempre mais forte do que tudo o que poderia nos dividir.
Em outras palavras: a experiência da alteridade – diversidade de Deus como lugar de uma nova intimidade com Ele – nos torna capazes de acolher o irmão na alteridade-diversidade, como um bem a ser valorizado.
Enquanto, ao contrário, a tentativa – embora subtil – de eliminar a distância que nos “separa” de Deus, quase a homologando à própria (minha) imagem do divino e aos próprios gostos, torna-nos incapazes de aceitar a diversidade do irmão ou torna imediatamente conflitual a própria diversidade como tal.
b) Segundo motivo: para o cristão o conhecer a Deus é um acto essencialmente intersubjectivo, acto que acontece no interior de uma série de mediações, das quais a primeira é a Palavra pronunciada por Deus e depois feita ressoar na comunicação fraterna. Segundo Basílio, o crente que se torna monge tem uma interioridade dialógica, ou seja, tem o máximo de cuidado para não pretender que a sua interpretação do divino seja exaustiva ou de fazer coincidir imediatamente a verdade com a sua ideia, e por isso decide entrar em diálogo como o irmão. Assim, a distância que o separa da compreensão plena da verdade torna-se também o espaço dentro do qual procura e acolhe o irmão e por ele se sente acolhido, e junto com ele busca a Deus.
É este o espaço de uma nova fraternidade, que não nasce da carne e do sangue, mas que nem por isso deixa de ser profundamente humana e contagiosa (e contagiante). A fraternidade possui raízes místicas e escondidas, mas o seu florescer é um dos sinais visíveis e atraentes do Reino que está para vir. Uma comunidade, na qual juntos se busca a Deus, é fraternidade que testemunha a beleza da consagração e exerce uma atracção violenta.
Sinais de comunhão na busca de Deus
Tentaremos perceber ao menos alguns sinais desta comunidade em que se busca juntos o rosto de Deus.
a) Experiência espiritual individual e comunitária.
O que faz de uma convivência de pessoas uma comunidade religiosa não é o caminho espiritual dos indivíduos, mas o pôr em comum destes caminhos até o ponto de formar deles idealmente um só caminho. No fundo, o carisma não é uma proposta de uma mesma experiência de Deus? O relacionamento com Deus deveria levar a descobrir sempre mais o sentido da fraternidade e, portanto, também procurar o irmão para condividir com ele o idêntico caminho evangélico e espiritual. Como poderia ser rico aquele depósito de sabedoria espiritual que é fruto da condivisão das experiências dos indivíduos em nossas comunidades! Como uma espécie de “banco comum de bens espirituais” com o qual todos contribuíram e do qual todos podem “sacar” para caminhar juntos com mais disposição em encontro do Senhor, nosso único bem.
b) Solidão e companhia
Viver em comunidade quer dizer, portanto, fundamentalmente condividir. É o significado etimológico da palavra “com-panhia”: condividir o pão a ser comido, nutrir-se do mesmo alimento durante a viagem. A amizade religiosa deriva deste tipo de “com-panhia”, é autêntica quando aquilo que une (liga) os dois amigos é o próprio movente essencial da sua consagração.
Quando se condivide aquilo que é central, isto é, o “pão” da busca de Deus, se faz contemporaneamente a experiência de “com-panhia” e de solidão como de duas realidades que entre elas se espelham e se completam, com as duas faces da mesma medalha: uma não pode existir (sobreviver) sem a outra, uma autentica a outra. Uma “com-panhia” que não respeita a solidão é um amizade entre dois consagrados que não põem no centro do seu relacionamento aquilo que é essencial e, portanto, não é verdadeira amizade, nem faz crescerem juntos. Por outro lado, uma solidão ou uma intimidade com Deus que não se abre para a “com-panhia” não é verdadeira espiritualidade nem autêntica solidão. É antes fechamento (isolamento) que empobrece o indivíduo e a própria comunidade. Ainda uma vez, trata-se de unir a busca solitária e a peregrinação comunitária para Deus, e fazer das duas uma coisa só.
c) Diálogo e silêncio
Já dissemos que o consagrado tem uma interioridade dialógica, o diálogo é parte essencial da sua identidade. Um diálogo ininterrupto se desenvolve no segredo e no silêncio de sua alma com a Palavra de Deus. Esta Palavra, o consagrado não pode guardá-la só para si, nem pode alimentar a pretensão de compreendê-la por si só. Então o diálogo passa do silêncio da interioridade para a partilha fraterna em comunidade. E, com um fruto talvez nem de todo calculável: a Palavra de Deus, enquanto ressoa na riqueza e variedade de interpretações suscitadas pelo mesmo Espírito, une os corações e as mentes no mesmo caminho de santidade. Do silêncio ao diálogo, do diálogo ao silêncio. O silêncio protege o diálogo com Deus, o diálogo com Deus protege o diálogo com os irmãos que – por sua vez – reenvia ao silêncio da intimidade divina. E a vida comunitária se torna intimidade divina. E a vida comunitária se torna cada vez mais busca e manifestação do rosto de Deus.
Vida fraterna em comunidade: juntos para uma missão comum
O serviço apostólico pode e deve nascer da escuta individual e comunitária da Palavra. O serviço não conhece a ‘ânsia e a angústia’ de quem anuncia a si mesmo. O serviço é prestado ao pobre, tanto dentro como fora da comunidade.
A missão, como sabemos, é uma das paredes que sustentam a estrutura (a arquitectura geral) comunitária. Mas, o que qualifica o apostolado é que este é feito comunitariamente, não é expressão de um indivíduo, muito menos se destina a sua afirmação pessoal, mas expressa a paixão de um grupo de irmãos que decidem condividir, também com aqueles que não fazem parte da família, aquilo que atraiu o seu coração e preencheu a sua vida.
Consideramos já, anteriormente, mas de maneira muito global, a relação que existe entre comunidade e missão. Gostaríamos agora de tentar individuar, com mais precisão, aquilo que abre o indivíduo a esta acção comunitária, quais são as condições indispensáveis, internas ao sujeito, para testemunhar servir não a título pessoal, mas em comunhão de obras e de intenções com os seus irmãos. Sabemos que tudo isto não acontece com muita naturalidade. Muitos religiosos sabem testemunhar, mas não colaborar (trabalhar com); são generosíssimos na dedicação pessoal, mas na mesma medida ciumentos daquilo que fazem. Estão dispostos a sacrificar-se no apostolado, mas retiram-se ressentidos quando não estão mais no centro das atenções; ou se doam totalmente, mas com a condição de fazê-lo segundo os seus projectos; eles são mais franco atiradores (batedores livres) do que ‘servos inúteis’.
Mas, ao contrário, que testemunho eficaz dá uma comunidade de irmãos concordes e unidos nas fadigas da missão, capazes de tornar visível, para além de tudo quanto poderia dividir, a força daquilo que os une.
Mas, afinal, o que há no coração desta experiência? Por que ela é tão difícil?
Para responder. Exploraremos aqueles dois pressupostos já indicados no artigo precedente, segundo os quais a comunhão fraterna nasce ao mesmo tempo da qualidade do relacionamento com Deus e consigo mesmo, e leva a condivisão dos próprios dons da natureza e da graça. É uma hipótese da qual partimos para esta reflexão.
Discípulos e apóstolos
O problema coloca-se em dois níveis
a) Num primeiro nível, interpessoal, trata-se de encontrar a síntese entre duas dimensões do ser consagrados: a dimensão do discípulo que escuta a Palavra e do apóstolo que serve o irmão. Muitas vezes não há realmente comunicação entre estas duas figuras ou símbolos ou maneiras de entender a própria vida consagrada. Por isso, haverá sempre quem a interpreta sublinhando, às vezes excessivamente, a vertente espiritual, e quem – ao contrário – vê só ou prevalentemente o trabalho a fazer. É uma antítese clássica, até ‘evangélica’ se nos dois tipos for lícito reconhecer a atitude de Marta e Maria (Lc 10, 38-42); antítese, sobretudo estéril e insolúvel, se não for reconhecida à raiz mais escondida e interna da pessoa.
b) E com isto chegamos ao segundo nível, o intrapsíquico, sem dúvida o mais decisivo, embora pareça estar longe do objecto da nossa análise, que é a comunhão fraterna no apostolado. O princípio é este: também a fraternidade na missão está ligada à qualidade do relacionamento com Deus e consigo mesmo.
Voltemos, por um momento, à cena de Betânia e tentemos ler o episódio como se Marta e Maria fossem dois aspectos de uma mesma pessoa, ou duas realidades que vivem dentro de cada um de nós, talvez se alternando em horários diferentes e às vezes contrapondo-se, como no Evangelho. No fundo, o que esta passagem quer sublinhar é exactamente a dificuldade de harmonizar estas duas dimensões. E, não é também esta uma expressão de qualidade dialéctica interna, profundamente radicada no íntimo do homem (ser humano) daquela fractura intrapsíquica, como uma isquemia subtensa (que tem a função de inibir, dificultar) ao coração humano que nos impede de comunicar-nos connosco mesmos, de tomar consciência de nosso mundo interior com seus sentimentos, tendências, desejos, monstros, feridas ainda abertas….?
De modo particular, o episódio evangélico assinala uma expressão específica desta ‘não comunicação’, ou dois níveis da nossa vida habitual, entre os quais, muitas vezes, não há suficiente relacionamento: o nível da acção (Marta) e o da motivação profunda (Maria).
Acção e motivação
Muitas vezes, estes dois planos se ignoram numa mesma pessoa: o comportamento vai numa direcção, mas o indivíduo não o sabe, e deixa assim que o contraste se radique em profundidade, criando inevitavelmente um conflito interno (agitação de Marta) e tensão externa (ausência de comunicação entre Marta e Maria, ou seja, entre os dois planos).
Kaquindas Dias

domingo, 6 de janeiro de 2019

MATURIDADE HUMANA E ESPIRITUAL NA VIDA RELIGIOSA

Maturidade humana es Espiritual na vida Religiosa 1

2 – AMADURECIMENTO HUMANO E ESPIRITUAL NA VIDA RELIGIOSA
PROCESSO DE AMADURECIMENTO
A maturidade afectiva vai sendo adquirida em um processo longo e paulatino, através das diferentes etapas da vida, é um caminho. Trata-se do autoconhecimento e controle dos próprios afectos, de uma maneira livre e constante. É a capacidade de amar intensamente e se deixar amar por Deus e pelos outros. Alguns elementos importantes neste processo para a maturidade pessoal são: atingir um sentido sadio de identidade pessoal, sentido de intimidade e sentido de transcendência pessoal.
Em cada uma das etapas da vida, a pessoa vive a maturidade afectiva de uma maneira específica e, conforme vai avançando neste processo vital, também está chamada a se identificar com os sentimentos de Cristo, através de um sentido de identidade, de intimidade e de transcendência.
Sentido de identidade pessoal: quando se é capaz de responder à pergunta “Quem sou?”, e através de uma adequada auto-estima, que – por sua vez – implica um autoconhecimento de aspectos positivos e negativos da personalidade, assim como auto-valorização, auto-confiança, auto-controle e auto-afirmação.
Sentido de intimidade pessoal: é a capacidade de se relacionar, de maneira íntima, com as demais pessoas, de dar e de receber afecto, assim como de viver relacionamentos amistosos com distinto grau de profundidade no equilíbrio e na harmonia. gerir as emoções.
Sentido de transcendência pessoal: quando se é capaz de responder à pergunta “Para que existo?”. Trata-se de encontrar um sentido para a própria existência.

Portanto, a pessoa madura é aquela que possui:

•Verdadeiro conhecimento de si mesma.

•Aceitação de si e das outras pessoas.

•Reconhecimento de qualidades e aptidões, assim como das próprias limitações.

•Reconhecimento de emoções e sentimentos.

•Capacidade de amar e ser amada.

•Independência nas relações pessoais.

•Capacidade de criar relacionamentos amistosos e profundos

• Autocontrole.

1-FASE DA INTIMIDADE X ISOLAMENTO ( 20-35 ANOS).
Toda pessoa precisa encontrar o significado de sua existência, porque – de outro modo – viverá um vazio existencial que a leva a experimentar uma sensação de desespero e de insatisfação em sua vida pessoal.
Para Erikson o jovem adulto passa pela fase da Intimidade X Isolamento, onde deseja um relacionamento afectivo íntimo, duradouro e continuo, através de relações profundas, buscando, também nessa fase, a construção de uma carreira profissional que lhe dê estabilidade e boa condição financeira.
MATURIDADE HUMANA E VIDA RELIGIOSA
Etapas em que se identifica a ação madura do ser humano
No caminho formativo da vida consagrada, cada pessoa é uma pessoa, como o escopo de, neste exercício, rever e ressignificar valores da vida em prol do amadurecimento e da correcção das atitudes através da aprendizagem com o passado, levando sempre o indivíduo a uma nova percepção de si. Esta nova percepção, que deveria resultar num homem novo, como fala Paulo, está, no processo formativo, directamente relacionado à dimensão humana do formando e que deve estar sempre presente à compreensão do formador. Querer fazer de um homem um santo desconsiderando sua intrínseca humanidade é no mínimo bobagem. Daí a necessidade de se resgatar a história do vocacionado (a).
Esta retomada da própria história deveria fazer com que “a própria vida se torne como uma contínua descoberta do sentido da presença e da acção de Deus nela. E é exactamente dessas descobertas que emerge uma certa maneira de conceber a maturidade da própria humanidade” (CENCINI, 2002). Nesta perspectiva, há quatro pontos ou etapas em que se identifica a acção madura do homem:
1 – Da sinceridade à verdade: 2- Força na fraqueza:  3 – Liberdade de projectar-se: 4 – Entrega da vida:
Vou aprofundar a 2ª etapa, força na fraqueza, como etapa central deste estudo.
2 – Força na fraqueza: neste ponto Amadeo toca numa ferida constante em muitos processos formativos, a idéia de maturidade como inabalabilidade. A maturidade considerada como um escudo inabalável, forte e perene. Ferida essa sempre remexida tanto por formandos como por formadores. O autor explica que existem jovens que atravessaram todas as fases formativas sem a ajuda de ninguém ou sem permitir que os ajudassem a decifrar sua própria inconsistência, e que, em muitos casos, depois da profissão perpétua e da ordenação, a crise explodiu pontualmente ou até com mais frequência.  (CENCINI, 2002 p. 144).
A valorização dos momentos de fraqueza nos ensinam a conviver com diversas situações de fraqueza dos outros e nos ensinam a humildade do rezar. “A sensação sofrida de vulnerabilidade e impotência coloca quem crê de joelhos diante de Deus, faz com que busque a ajuda e a força que não encontra dentro de si (...)” (CENCINI, 2002 p. 145).
Neste processo de amadurecimento o que importa é a necessidade de  fazer cada vez mas consciente nossa motivação primária, amar a Deus de todo coração . É um processo duplo de amar a Deus e ser profundamente amados por Ele. E saber que Ele vem ao nosso encontro sempre, e em resposta dirigimos o nosso amor a Ele. A pessoa que opta pela vida religiosa cria uma busca constante de colocar a Deus no centro de toda a sua capacidade de amar, e todas as demais pessoas, compromissos e coisas integradas nesse amor.
Idade é =maturidade?
Existe uma idade biológica e uma idade espiritual que não se correspondem necessariamente.
Há pessoas jovens que espiritualmente são adultos em Cristo, e há pessoas adultas que espiritualmente, são ainda crianças.
A vida espiritual normalmente não segue uma línea recta, mas sim ondulada. Ou seja, os esquemas do crescimento espiritual não são totalmente rígidos. Além disso, sabemos que a vida espiritual está sempre aberta ao extra-ordinário, já que o Espírito Santo sopra onde quer (João 3,8).
É muito importante, nos recorda a Conferência de Aparecida, a dimensão formativa que funda o ser cristão na experiência de Deus manifestado em Jesus e que o conduz pelo Espírito através dos cominhos de profundo amadurecimento ( Aparecida, n.280b).
Todos deveríamos deixar-nos plasmar dia a dia pelo Espírito Santo até chegar a ser “homens e mulheres perfeitos, na medida da plenitude de Cristo” ( Ef 4,13).
A nossa tarefa como formadores é ser instrumento nas mãos de Deus para ajudar as pessoas, a nós confiadas, a olhar para Cristo, deixar-se transformar pelo seu amor incondicional (fazer experiência) até chegar a essa plena transfiguração  que se realizará completamente na ressurreição. Entretanto temos a tarefa apaixonante de acompanhar os formandos neste caminho onde Cristo se revela como doador do amor e ao mesmo tempo como mendigo de amor.
O que mais dói para Deus è a falta de confiança no seu amor. Não confiar nele. É muito importante tirar as idéias falsas de Deus que a pessoa carrega. O coração de Deus é infinito, não podemos projetar a pequenez do nosso coração limitado, julgar com a nossa corta medida de amor. Deus ama a cada pessoa indistintamente e incondicionalmente  (cf Isaias 49,15).
Experimentar esse amor, pleno e incondicional levará a pessoa a sentir que é amada como ser único e irrepetível, sem depender de suas qualidades ou defeitos. O amor de Deus é o único que nos liberta totalmente. Viver no seu amor será a nossa eterna felicidade. (Jer 31,3)
Um novo jeito de relacionar-se
Jesus inaugura um novo jeito de se relacionar com seus discípulos. Um modo próprio de expressar afecto, de estabelecer relações e de gozar da companhia e do amor dos outros, procurando a sua companhia e deixando-se encontrar.
Jesus nos manda amar- nos uns aos outros ( Jo 15,2), amando a cada um com a mesma benevolência de Deus.
Assim a pessoa se vai libertando progressivamente da necessidade de colocar-se no centro de todos e aprende a  centrar todo afecto em Deus, tendo a certeza de ser amado como ser único, e de poder e dever amar. De tal modo que há certeza que amor recebido torna-se amor doado. De graça recebeste de graça deves dar ( Mt 10,8).
Não importa onde estamos nem o que fazemos, mas a mente sempre olhando para a vontade de Deus. Esta é a grande diferença entre a vida consagrada e o trabalhador numa obra social. A pessoa consagrada vive completamente entregue ao coração de Cristo, de tal forma que tudo contribui para se tornar Aquele que ama e procura Jesus. O amor, a misericórdia, a bondade, a compaixão, a verdade, vão transformando a pessoa até chegar a plena estatura de Cristo. “É o Deus que carrega em seu coração e que  encontra em suas orações, nas pessoas e na transubstanciação do planeta no reino de Deus que impulsiona a sua vida”.
A gratidão e alegria de viver por estar em comunhão com a Fonte da Vida, ajudarão a viver em intima comunhão com Cristo e a ter o momento da nossa plena comunhão com Ele.
Conclusão
A maturidade espiritual e a maturidade humana estão intimamente ligadas. Não há amadurecimento espiritual sem amadurecimento humano.
A nossa vida é um caminho no qual podemos, em cada etapa, ter certeza de que Deus caminha connosco, e de que seu amor nos envolve e nos acompanha. Quando nos abrimos ao Espírito de Deus, Ele penetra as nossas estruturas e opera em nós uma continua transformação chegando a “plena estatura de Cristo”, meta do nosso amadurecimento humano e espiritual.
Chegaremos assim a ser pessoas transparentes ao amor divino que quer transformar o mundo através de nós. Pessoas amorosas, pacificas, alegres, apaixonadas, que fazem da sua vida uma contínua doação, que sabem de suas fraquezas, mas confiam unicamente em Deus, pelo qual são continuamente modeladas.

Referência bibliográfica
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BIBLIA . Português.  Bíblia sagrada. Tradução  Ivo Storniolo . Paulos,, 2044. Edição Pastoral.
CENCINI, Amadeo.  Os sentimentos do Filho: Caminho formativo na vida consagrada, Paulinas 2002. O respiro das vida. Paulinas, 2004.
CHITTISTER,Joan. Fogo sob as  cinzas:  Uma espiritualidade  da vida religiosa contemporânea .Paulinas, 1998.
DOCUMENTO DE APARECIDA, Texto conclusivo da V Conferencia Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Paulinas-Paulos-CNNBB,13-31 de maio de 2007.
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 LORENZO, Flabio Marchasini, Ouro testado no fogo: Acompanhamento psicológico entre mistério e seguimento. Paulinas 2007
MELO,Teoria psicossocial de desenvolvimento em Erik Eriksom. Revista psicologada artigos. Disponível : http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/teoria-psicossocial-do-desenvolvimento-em-erik-erikson. Acesso em 27 mar. 2011