Tríduo Pascal:
Doação – Paixão – Vida
Mergulhados na infinita bondade de Deus, buscando a conversão do coração
como proposta de vida, tentando mudar nossas atitudes e anseios, chegamos mais
uma vez às celebrações da Semana Santa, a semana dos cristãos, a semana
especial, enfim, a mais significativa das semanas. E toda a liturgia parece nos
querer falar de um amor insondável, de um mistério infinito, de uma bondade sem
limites. Por que será que toca tanto nossa alma quando relembramos e revivemos
os mistérios dos últimos dias do Senhor em nosso meio? Por que a paixão, a dor,
o abandono, a solidão, a morte, parecem dizer tanto a nós cristãos? Por que
corremos ao encontro daquele que é a Luz que destrói as trevas e elimina o
poder da morte?
Gostaria de destacar, aqui, os passos do
mistério que vamos celebrar juntos a partir da quinta feira santa, com a missa
vespertina, ou seja, a grande celebração da Páscoa dos cristãos, no que
chamamos de “Tríduo Pascal”. Entender bem, estes três momentos fortes como uma
única e grande celebração da vida é poder entrar definitivamente na comunhão
com o Cristo, única e verdadeira Páscoa. Trata-se, portanto, de uma celebração
com três momentos distintos, mas integrados. Três faces de um mesmo mistério: a
Páscoa.
QUINTA-FEIRA SANTA
Dia do mandamento novo;do ministério da doação; do Lava-pés
Ele, o Mestre, deu testemunho do que dizia, manda amar a todos, ensina que
é no lavar os pés: sujos, descalços, pobres, que se identificam os seus
seguidores. Que amar aqueles que lhe amam é fácil, mas amar os inimigos,
aqueles que comem na mesma mesa sem ser dignos dela, é ser diferente.
Na missa desta tarde-noite, antecipa-se a entrega total na doação
eucarística (Última Ceia). Celebramos o amor que se doa, na cruz e na glória.
Mergulhamos, portanto, na sublimidade pascal. Tudo nesta Ceia-doação nos leva à
descoberta do amor. É nesta missa que se inicia o Tríduo Pascal.
SEXTA-FEIRA SANTA - Amor levado ao extremo; entrega; sofrimento; morte
Nossas igrejas se enchem, choramos aquele que morre na cruz, caminhamos
lado a lado com o Senhor Morto. É a sexta feira da Paixão. Aquele que ontem
havia celebrado a Ceia com os seus, mas que havia sido na mesma noite entregue
aos “homens deste mundo”, agora jaz no madeiro.
Contudo, e aqui está a beleza da
liturgia integrada como única celebração de vida, adoramos o madeiro e o
beijamos porque ele, o madeiro da dor, é sinal de glória. Nele adoramos aquele
que viverá, que ressurgirá da morte e nos libertará a todos. Identificamo-nos
tanto com Ele neste dia que até entendemos que nossas cruzes diárias são parte
de nossa humanidade, e que aceitá-las e tentar entendê-las talvez seja um
primeiro passo para a vida nova, que todos buscamos. A cruz lembra dor, mas reforça
a certeza da vitória.
SÁBADO SANTO - Saudade; esperança; vigília; luz; Vitória; Vida Nova
Começamos o Sábado lembrando aquele que jaz no sepulcro. A manhã deste dia
ainda é de recolhimento. Mas, fica sempre aquela cepa de certeza, aquele
gostinho de esperança que brota do mais profundo da alma.
A tarde chega, a noite cai. É hora da
Vigília das Vigílias, como dizia Santo Agostinho, da luz das luzes, do poder da
vida sobre a morte. Afinal, ressuscitado e vivo é o nosso Deus. É por isso que
esta noite é tão cheia de significados e de símbolos: Liturgia do fogo e da
luz; Liturgia da Palavra; Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. Somos, com
Cristo, ressuscitados para uma vida nova; somos banhados na pia batismal
como homens novos, porque “ele vive e podemos crer no amanhã”; somos povo que
caminha rumo, não mais a terra prometida, mas rumo ao Reino dos céus; enfim,
comungamos aquele que é o Senhor ressuscitado, nossa Páscoa.
Tudo deveria refletir em nós a alegria
que estamos sentindo. A Igreja, toda, iluminada pela luz do Filho do Deus Vivo,
mergulhada no abismo de tão profundo mistério e envolvida com a missão de seu
Divino Mestre, deveria cantar a uma só voz o “Aleluia”, guardado para este
momento tão sublime. E lembrar que a partir deste momento, somos com Ele,
ressuscitados para um mundo novo, alicerçado na paz, na justiça, no amor, na
concórdia e na fraternidade, onde a Eucaristia brilha mais intensamente como
lugar de partilha, de comunhão verdadeira e de ação. Não podemos esquecer que
somos sinais, do Cristo ressuscitado.
O tríduo termina com a oração das vésperas (tarde) do Domingo de
Páscoa, que é o domingo dos domingos, como afirma Santo Atanásio, mas não a
culminação de um tríduo preparatório, e sim a reafirmação da Vitória, já
celebrada na grande Vigília do dia anterior.
O maior tesouro da liturgia está nestes
três dias, nos quais recordamos a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso
Senhor. O tríduo pascal é a celebração mais importante na vida da Igreja, nção
há celebração, em ordem de grandeza que se possa colocar em seu nível. Assim,
estes três dias são o centro não só do ciclo da Páscoa como tal, mas também de
toda a liturgia e de toda a Igreja.
Que possamos celebrar bem estes dias e
que a certeza do Senhor que Vive e Reina, seja a maior das certezas de nossa
vida cristã. O mistério pascal que celebramos nos dias do sagrado tríduo é a
pauta e o programa que devemos seguir em nossas vidas.
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