Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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terça-feira, 11 de abril de 2017

Semana Santa - Quarta feira


QUARTA FEIRA SANTA

Nesta Quarta-feira maior, dia em que a Tradição reconhece ter ocorrido a traição de Judas, a Liturgia da Palavra nos oferece à reflexão o Evangelho em que São Mateus narra, pari passu, os preparativos para a Última Ceia e os derradeiros ajustes entre os príncipes dos sacerdotes e o traidor do Senhor. Essa mesma leitura, adiantando-se um pouco no tempo, coloca-nos à Mesa Santa junto de Cristo e seus discípulos. Logo ao sentar-se para celebrar a Páscoa dos judeus, o Senhor anuncia: "Em verdade Eu vos digo: um de vós me há trair." É curioso notar o tom algo genérico dessa declaração: "um de vós". Afinal de contas, por que razão Jesus declara com tanta imprecisão que um dentre os Doze o haverá de entregar aos chefes do povo? Não seria de esperar que o traidor fosse posto às claras, acusado e incriminado à vista de todos?
Ao comentarem esse episódio, muitos Santos Padres dizem que a intenção de Jesus não foi tanto a de denunciar Judas quanto a de lhe oferecer uma nova chance de arrependimento e perdão. Orígenes, porém, faz notar — com grande perspicácia — que o Senhor falou em geral não para repreender o pecado de um dos Doze, mas para manifestar as virtudes dos outros Onze. Isso fica claro ao observarmos a reação dos discípulos à revelação do Mestre: "Com uma profunda aflição, cada um começou a perguntar: 'Sou eu, Senhor?'" É admirável contemplar como os Apóstolos confiam aqui mais na palavra de Cristo do que no testemunho de suas próprias consciências: "Acaso serei eu, Senhor, o que vos há de trair?" Examinam-se a si mesmos, veem-se livres de dolos, de insídias, de armações; creem, porém, mais no que lhes diz Jesus do que no testemunho de suas pretensas boas intenções, de sua frágil fidelidade.
Esse exemplo singular de humildade nos deve trazer à memória que também nós somos feitos do mesmo barro que Judas: somos capazes da mesma traição, das mesmas negações, dos mesmos pecados, das mesmas covardias. Ao meditarmos ao longo desta Semana Santa a Paixão de Nosso Senhor, não nos coloquemos soberbamente ao lado dos justos, como se fôramos gente infalível, irrepreensível; enfileiremo-nos antes com Anás e Caifás, com Pilatos e seus guardas; saibamo-nos perdidos no meio daquela multidão que, desvairada, condenava à morte o Autor da vida: "Seja crucificado! Fora com ele! Crucifica-o!" (Mt 27, 23; Jo 19, 15). Depositemos a nossa confiança apenas na Graça e na bondade de Nosso Senhor: "Ainda bem", digamos hoje e sempre a Jesus, "que me tens sustentado com a tua mão, porque me sinto capaz de todas as infâmias... Não me largues, não me deixes" (São Josemaria Escrivá, É Cristo que Passa, n. 15). Ajuda-me, Senhor, a ser-vos fiel!


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