Perdoai e sereis perdoados.
Neste Evangelho, Jesus nos
pede para sermos misericordiosos. E explica o que isso significa: Não julgar
ninguém, não condenar ninguém, perdoar a todos que nos ofendem e partilhar os
nossos bens com os que precisam.
O exemplo ou modelo que ele
nos apresenta é o próprio Deus Pai, que nos perdoa, nos ajuda e é
misericordioso conosco.
Misericórdia é a compaixão
suscitada pela miséria alheia. Vem do latim: “mittere + cor” = Jogar o coração.
Misericórdia é mais que simples sentimento de compaixão. É a compaixão levada à
ação; é fazer alguma coisa para ajudar a pessoa da qual sentimos compaixão.
A pessoa misericordiosa
“tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Sempre descobre o lado bom das pessoas.
Afinal, todos nós, mesmo os maiores criminosos, no fundo, somos bons, pois
fomos criados por Deus e ele só faz coisas boas.
No catecismo, as crianças
decoram as catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais. As
corporais são: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede,
vestir os nus, dar abrigo aos peregrinos, visitar os doentes e encarcerados,
libertar os escravizados e sepultar os mortos. Elas seguem, quase literalmente,
Mt 25,31-46, onde Jesus nos diz o que vai cobrar de nós no Juízo Final.
Portanto, se trata de coisa séria, pois está em jogo a nossa salvação.
As espirituais são: dar bom
conselho, ensinar os que não sabem, corrigir os que erram, consolar os aflitos,
perdoar as ofensas, suportar as fraquezas do próximo e orar pelos vivos e
falecidos.
A pessoa misericordiosa tem
um amor compreensivo. É muito comum essas pessoas usarem a expressão:
“Coitado!”
“Perdoai e sereis
perdoados.” É o que rezamos no Pai Nosso: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Todos nós somos pecadores e temos
dívidas com Deus. Só entraremos no céu se ele nos perdoar. Acontece que o
perdão de Deus a nós é do tamanho do nosso perdão aos nossos irmãos.
O perdão faz feliz não só
quem é perdoado, mas também quem perdoa. Quanto mais reconhecemos que somos
pecadores, mais sentimos a necessidade de perdoar os outros, a fim de sermos
também perdoados por Deus. Temos dois caminhos: ou abrimos o nosso coração à
generosidade e à misericórdia, ou nos fechamos na nossa própria mesquinhez e
intransigência.
“Dai e vos será dado. Uma
medida calcada, sacudida e transbordante será colocada no vosso colo.” Jesus
usa como comparação a medida de grãos, usada nos armazéns antigos. Por exemplo,
se uma pessoa queria comprar cinco litros de feijão, o balconista enchia a
vasilha de cinco litros, depois sacudia (abaixava um pouco), socava (abaixava
mais), em seguida punha mais feijão até derramar. Isso é generosidade! É assim
que Deus faz para recompensar as nossas obras de misericórdia.
Jesus, quando estava na
cruz, deu-nos um belo exemplo de amor misericordioso, quando rezou: “Pai,
perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!” Também quando disse ao bom ladrão:
“Ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Que exemplo para nós!
Não temos outra opção: ou
aceitamos os outros com as suas limitações humanas, ou nos fechamos na nossa
pequenez e egoísmo. Está aí uma grande oportunidade de conversão nesta
quaresma.
E não vale o “perdoo mas não esqueço”, porque seria perdão pela metade.
Se a fraqueza cometida por nosso irmão chegar à nossa memória, que seja
rebatida com a virtude da misericórdia.
Sobre a Campanha da
Fraternidade – economia e vida – lembramos que justiça não é “dar a cada um o
que lhe pertence” ou “pagar pelo trabalho que fez”, mas é dar a cada um o
necessário para viver dignamente. Que os bens que vêm de Deus sejam
distribuídos para todos os seus filhos e filhas, sem excluir ninguém. Economia
significa, literalmente, administração da casa. Que esta grande casa de Deus, o
planeta terra, seja bem administrado, colocando a vida em primeiro lugar. Há
cidades que estão usando, em vez do conhecido saquinho de supermercado, sacolas
de papel, que são biodegradáveis e não poluem a natureza. Que a economia esteja
a serviço da vida, não o contrário, a vida a serviço da economia.
Havia, certa vez, um
operário de construção que todos os dias comia a mesma coisa: sanduíche de
queijo. Os outros operários esperavam com alegria o toque da sirene para o
almoço, quando se dirigiam ao galpão, onde haviam guardado suas refeições. Uns
esquentavam, outros não. Quase sempre feijão, arroz e um pedaço de carne. Todos
comiam com visível prazer. Mas aquele trabalhador comia seu sanduíche de queijo
reclamando. Todos os dias ele dizia: “Detesto sanduíche de queijo”. Comia
silenciosamente e no final amassava o papel, jogava-o no lixo e repetia a
ladainha: “Detesto sanduíche de queijo”.
Um dia, um dos colegas
sugeriu: “Por que você não pede a sua esposa que faça um sanduíche diferente?”
Ele respondeu: “Quem disse que é a minha esposa quem prepara o sanduíche? Sou
eu mesmo que o preparo”.
Já pensou? Cada um colhe
aquilo que planta; cada um come o sanduíche que preparou. À semelhança desse
caso, muitas vezes as nossas desavenças nascem de nós mesmos. Somos nós que
fazemos uma imagem do outro, que não corresponde à realidade. Depois começamos
a nos desentender com o próximo, baseados numa imagem dele que nós mesmos
criamos.
Maria Santíssima, no
Magnificat, cantou a misericórdia de Deus: “A sua misericórdia de estende de
geração em geração”. “Salve Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e
esperança nossa, salve!”
Perdoai e sereis perdoados.
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