Introdução
São várias as hipóteses sobre a origem dos
povos bantu, algumas versões rezam que saíram das férteis terras do sudeste sariano
ou do lago Chade. Outros afirmam que surgiram da região dos grandes lagos, na África
Central, ainda outros dizem que vieram da Ásia Menor e posteriormente se foram fixando
nas regiões dos grandes lagos, Sudão e a posterior emigrado para o sul. Ao passo
que outras teorias dizem que os bantu entraram na África pelo istmo do Suez ou através
do mar vermelho e forma se fixando na Abissínia e futuramente migraram para o Sul
e sudoeste.
Apesar desta polissemia de conceitos sobre
a origem dos bantu, a realidade é que os bantu em contínuo movimento migratório
a procura de melhores lugares e condições de sobrevivência se foram sedentarizando
e criando uma unidade étnica e cultural baseada nos sistemas de parentescos e grupos
de filiação na consangüinidade, criando pequenas aldeias geridas por representantes
masculinos de um único grupo.
É sobre este breve preâmbulo que, neste trabalho
abordaremos a situação temática da organização social dos bantu, onde no nosso repertório
trataremos comunidade bantu e sua hierarquia, a organização clãnica e tribal dos
bantu bem a divisão da sociedade em castas e classes, o casamento e a religião tradicional
bantu e tantos outros aspectos referentes aos bantu e sua organização social.
1 - Organização social dos bantu.
A forma de organização da sociedade bantu
assenta nos sistemas de parentescos e grupos de filiação baseadas na consangüinidade
real ou mística, da qual se exige uma transmissão, de herança e de preferência que
as liguem a uma das genealogias biológicas que toda pessoa recebe ou transmite:
paterna e/ou materna. As sociedades humanas adoptam um sistema de descendência,
cujo ponto de referência se situa num dos progenitores ou em ambos. Este sistema
de descendência ou de parentesco é unilateral e, verificando-se dois sistemas: o
patrilinear e o matrilinear. Assim, a descendência está ligada a uma só linhagem.
As relações entre pessoas que se consideram
aparentadas por consangüinidade real, fictícia ou putativa, são chamadas de “parentesco”. Pois os bantu primitivos já viviam em pequenas
aldeias geridas por representantes masculinos de um único grupo de parentesco; assim,
a aldeia era o lar e o centro espiritual de todos os membros da linhagem.
Uma das razões para se instaurar este sistema
de linhagens deve ter sido a divisão de trabalho por sexos (assunto que iremos abordar
mais adiante).
1.1 - A comunidade bantu.
Os verdadeiros protagonistas da existência
individual e social bantu são os grupos, as comunidades: família, clã, tribo e o
reino, império ou a confederação de reinos.
O bantu não pode viver sem família nem clã,
pois são dois grupos (primários, por sinal) fundamentais e vitais que dão sentido
e consistência à sua vida. A família e o clã são células iniciais, vivificantes
e essencialmente comunitárias que definem a cultura do indivíduo bantu. Desta feita,
não se pode conceber nem explicar o indivíduo bantu isolado de uma comunidade.
A parentela cria a capa irrenunciável, onde
se geram as estruturas sociais e o ambiente onde elas podem subsistir. A sua realidade
místico-participante constituitiva estabelece um amplo sistema operativo, fundamento
da organização social, ao situar todos os indivíduos dentro de um contexto de relações
vitais e mútuas e de comportamentos funcionais e decisivos para a subsistência individual
e comunitária.
Assim, a sociedade bantu se vai alargando
em círculos concêntricos escalonados, sobrepostos e cada vez mais amplos, apoiando-se
nas famílias, como núcleo e células-base. No entanto, ao conjunto de varias famílias
se forma um clã. Quando vários clãs sentem uma origem comum, irmanados pela
mesma língua, religião, tradições, costumes e espalhados por regiões contiguas,
dão origem a tribo. Ao conjunto de várias tribos, com afinidades lingüísticas,
geográficas ou interesses comuns, podem estruturar um reino. Assim aconteceu
com os grandes impérios negros pré-coloniais que se formaram a partir da integração,
conquista ou confederação de vários reinos.
Portanto, como já dissemos, a primeira célula
social bantu é a família elementar, conjugal, nuclear ou reduzida que compreende
pai, mãe e filho. Mas essa não é a verdadeira família bantu.
Por uma razão, as famílias nucleares, unidas
e integradas entre si, são o fundamento da solidariedade que dá origem às instituições
sócio-políticas as quais não são mais do que o alargamento do núcleo primário. Este,
como não se pode bastar a si mesmo, para ser amparado, precisa de se apoiar em grupos
mais amplos e organizados.
Esta família não forma um grupo autônomo.
Vive imersa e depende do sistema de parentesco, da família alargada e do clã. Contudo,
ela é o elemento básico das estruturas sociais e, pelas alianças matrimoniais, dá-se
origem às alianças políticas.
A família nuclear é o pilar da sociedade
bantu, embora não se possa conceber separada dos círculos mais amplos e fecundos:
família alargada, clã e tribo. A família isolada, individualizada, fechada sobre
si mesma e autônoma, não existe. O bantu não a concebe, pois os princípios de consangüinidade
e de participação vital não a admitem. Alem disso, as condições econômicas, climáticas
e geográficas impedem o seu isolamento. Por isso é que se disse que a verdadeira
família bantu não é a nuclear ou reduzida, mas sim a alargada. Pois o bantu precisa
de viver em conjunto, participar, sentir-se amparado e acolhido num grupo numeroso
e defender-se da magia ou do homem. A participação vital como núcleo e seiva da
cultura, impõe-lhe uma vida comunitária e acomodar-se no grupo, participando da
mesma corrente vital comunicada pelo sangue.
Somente no matrimonio, na família elementar,
o homem e a mulher realizam a mais profunda aspiração da sua existência: prolongar-se,
reviver, assegurar a sobrevivência. Da mesma forma satisfazem as esperanças das
suas comunidades: crescer, enriquecer-se e assegurar o patrimônio social, político
e religioso. «A verdadeira família serere (pode dizer-se também da bantu) é a família
maternal, “a família alargada”. Em sentido restrito, a família não é um grupo autônomo;
vive na “casa comunal” da família clãnica, no sentido da “gens”. Esta é a
verdadeira família negro-africana»[1].
O bantu goza de uma comunidade muito ampla
que lhe proporciona o deleite de viver sempre em família.
As diversas famílias alargadas formam uma
densa rede totalizante que, à base de comunidades e solidariedades, estrutura a
sociedade que se compraz em ser essencialmente comunitária. Assim, os membros se
tratam como parentes. Chamam“pai” ao tio e “irmão” ao primo. Sem se
importarem com a proximidade do parentesco, as designações de “pai” e “irmão”
vão-se alargando indefinidamente. Os bantu encontram pais e irmãos nos lugares mais
afastados.
1.1.1 - A chefia bantu.
Há um aspecto cultural muito relevante relativo
aos chefes bantu. Esta hierarquia baseia-se no direito ancestral e numa concepção
religiosa e profana simultaneamente e, participa da sacralidade que impregna esta
sociedade.
Entre os bantu, o chefe de família faz a
ligação directa com os antepassados, presentes na vida comunitária, cuja influência,
benéfica ou nefasta, deve ser cuidada. Pela sua proximidade com eles, qualidade,
poder e conhecimentos superiores, podem arrancar-lhes favores ou torná-los propícios.
Resolve os conflitos e responsabiliza-se
pelo bem-estar familiar. A sua autoridade estende-se ao campo social, político,
judicial e religioso. Quando a família cresce e de dilata, os velhos começam a substituí-los
em determinadas funções. Aparecem os subchefes de aldeias dependentes, “pater
famílias – chefe familiar” que, por sua delegação, cumprem idênticas funções.
A sua autoridade fica limitada e subordina
à dos chefes de organizações sociais e políticas superiores: clã, tribo e reino.
Os anciãos e o conselho familiar, embora gozem de grande prestígio, não o suplantam
em autoridade, a anão ser em situações extremas e flagrantes. A sua autoridade nunca
pode chegar ao despotismo porque a família forma uma comunidade democrática. O conselho
familiar, no qual actuam todos os maiores de idade, admite a sua autoridade suprema
porque lhe reconhece a superioridade de estirpe, mas controla as suas decisões e
opina em assuntos importantes.desta forma as decisões passam por uma consulta prévia
à comunidade.
O chefe desempenha uma função fundamental
no grupo. Como pessoa mais qualificada e vitalmente mais poderosa, é o guia necessário
da comunidade e o guarda das suas tradições e da sua coesão. As motivações religiosas,
como veremos, marcam o ritmo e caracterizam a sua mentalidade. Segundo esta concepção
sacral, o chefe é um carismático. Constitui, com os notáveis e os anciãos, o grupo
mais autorizado, o estrato social mais prestigiado e, como instituição presidida
por um “enviado carismático”, que dirige, pensa, solidariza, vigia e procura o bem
da comunidade. Quem vê o chefe contacta com a vida que arrancou do hipônimo, e contempla
este e os outros antepassados. O chefe é o canal de conexão directa com a corrente
vital ancestral. Por ele, a comunidade realiza a participação vital na fonte genuína.
Por isso, a chefia pertence à linhagem que a comunidade reconhece como autenticidade
de sangue e maior antiguidade. Só pode ser chefe quem prove, por sua ascendência,
que descende, em linha directa, do fundador do grupo. Só assim se reúne as condições
inatas que confirmam a sua predestinação para patriarca, sacerdote, juiz, protector
e condutor da comunidade.
Em resumo, o chefe é o sangue e o espírito
dos antepassados, prolongamento e deposito comunicante do dinamismo vital, pessoa
sagrada, responsável pela comunidade perante os antepassados, seu delegado por capacidade
e eleição e a sua encarnação, pois que, por intermédio dele, vivificam a comunidade
a comunidade.
1.1.2 – O clã e a tribo.
Um clã[2]
constitui-se num grupo de pessoas unidas por parentesco e linhagem e que é definido
pela descendência de um ancestral comum. Mesmo Clannad é uma forma
estendida da palavra clann, e que pode ser traduzida por "família”. Clannad é uma
forma estendida da palavra clann, e que pode ser traduzida por "família".
|
[1]
1. SENGHOR, L. S.: fundamentos de La Africanidad. ZYX,
Madrid, 1972, PP. 77; in ALTUNA, R. R. A.: Cultura tradicional bantu.
Paulinas Editora, Portugal, 2006, p. 117
[2]
. Clã é a forma em língua portuguesa da palavra gaélica clann, que significa "crianças". An
Chlann Aoidh, o nome em gaélico escocês para o Clã Mackay, significa
literalmente "As Crianças do Fogo" (sendo "fogo" uma
tradução literal do nome gaélico Aodh –; caso genitivo e vocativo, hAoidh
–; o qual pode ser traduzido foneticamente para o escocês e inglês como Eth, Y,
Hy, Heth, Huey e Hugh).nome gaélico Aodh –; caso genitivo e vocativo, hAoidh
–; o qual pode ser traduzido foneticamente para o escocês e inglês como Eth, Y,
Hy, Heth, Huey e Hugh).
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