Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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sábado, 25 de março de 2017



Teorias de Freud, Erikson e Piaget
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Sigmund Freud
Nasceu em 1856 em Freiberg, na Áustria, numa família judia de classe média que, três anos depois, se mudaria para Viena, onde Freud se formou em medicina. Seu interesse pela pesquisa o levou a estudar neuropatologia em Paris. Casou-se com Martha Bernays, com quem teve seis filhos. Experiências clínicas e pessoais, como a morte do pai, foram elaboradas por Freud como teoria psicanalítica e apresentadas pela primeira vez de modo sistemático no livro A Interpretação dos Sonhos (1900), ao qual se seguiram Psicopatologia da Vida Cotidiana (1904) e Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905).

Desenvolvimento psicossexual - Freud
1ª concepção tópica
Inconsciente: representante dos instintos e das pulsões, onde ficam depositados os conteúdos mentais censurados. Pode aparecer nos sonhos, atos falhos, esquecimentos, etc.
Pré-consciente: está ligado ao inconsciente e à realidade. Funciona como um mediador, que autoriza a passagem do conteúdo inconsciente de forma disfarçada.
Consciente: localiza-se no limite entre os mundos externo e interno, cuja função é recepcionar as informações deles provenientes.

2ª concepção tópica
Id: instância pulsional do psiquismo e seu conteúdo é totalmente inconsciente. É o grande reservatório de impulsos e instintos, é irracional, ilógico e amoral. Está presidido pelo princípio do prazer.
Ego: conjunto de reações que tenta conciliar os esforços e as demandas do id com as exigências da realidade interna e externa. Apresenta conteúdos do inconsciente, consciente e pré-consciente. Tem função adaptativa e está presidido pelo princípio da realidade.
Superego: é a expressão da interiorização das interdições e exigências da cultura e da moralidade, representada pelos pais. É quase totalmente inconsciente, com uma pequena parte consciente. Tem função de cuidado e proteção, mostrando ao ego o que é moralmente inaceitável ou perigoso à integridade da vida.

Estágios do desenvolvimento psicossexual - Freud
Fase Oral
1º ano de vida
Zona erógena: boca e lábios
Dependência do mundo adulto, especialmente da mãe
Prazer em sugar o seio da mãe.
O adulto com fixação nesta fase pode regredir e buscar alívio na comida, no sono, ou de forma mais patológica, na droga.

Estágios do desenvolvimento psicossexual - Freud
Fase Anal
Início do 2º ano até o 3º ano de vida
Zona erógena: processos de eliminação ou retenção.
Prazer em eliminar ou reter as próprias fezes e à importância que os pais dão a essas funções.
Desenvolvimento das faculdades mentais (limpeza, ordem e outros hábitos)
O adulto com fixação nesta fase pode dar origem a rejeição ou expulsão hostil para com outras pessoas, o que também se transfere ao dinheiro, podendo reverter em sintomas como avareza.

Estágios do desenvolvimento psicossexual - Freud
Fases Fálica
Início do 4º ano de vida até o final da puberdade
Zona erógena: zonas genitais.
Desenvolvimento do Complexo de Édipo
O adulto com fixação nesta fase pode dar origem a dificuldades de crescimento emocional, sofrimento e prejuízos à qualidade de vida.


Estágios do desenvolvimento psicossexual - Freud
Período de Latência
Fase contida na fase genital
Inicia-se por volta dos 6 anos e vai até 12 ou 14 anos.
Enfrentamento da sexualidade, onde ocorrem sentimentos de insegurança, ambivalência e culpa inconsciente.
A repressão do instinto pode estar relacionado à dificuldades de aprendizagem, comportamento de reserva e distanciamento.

O Estágio Genital
§        Faixa etária: Puberdade à Morte
§       Zona erógena: Amadurecendo de Interesses Sexuais
Durante a fase final de desenvolvimento psicossexual, o indivíduo desenvolve um forte interesse sexual no sexo oposto. Esta fase começa durante a puberdade, mas passa por todo o resto da vida de uma pessoa.
Em fases anteriores, o foco foi exclusivamente nas necessidades individuais, porém o interesse pelo bem estar dos outros cresce durante esta fase. Se as outras etapas foram concluídas com êxito, o indivíduo deve agora ser bem equilibrado, tenro e carinhoso. O objetivo desta etapa é estabelecer um equilíbrio entre as diversas áreas da vida.

ERICK ERIKSON
Nasceu em 1902 na Alemanha. Era parte do círculo íntimo de Freud em Viena até fugir da ameaça do nazismo e ir para os EUA em 1933. Sua ampla experiência pessoal e profissional levou-o a modificar e estender a teoria freudiana, enfatizando a influência da sociedade sobre o desenvolvimento da personalidade. Faleceu em 1994.

Desenvolvimento Psicossocial - Erikson
Abrange oito estágios durante o ciclo vital. Cada estágio envolve uma “crise” na personalidade, que surge de acordo com um cronograma de maturação, deve ser satisfatoriamente resolvida para um saudável desenvolvimento do ego.
O êxito na resolução de cada uma das oito crises exige que um traço positivo seja equilibrado por um traço negativo correspondente. Embora a qualidade positiva deva predominar um traço negativo é igualmente necessário.

Estágios do desenvolvimento psicossocial - Erikson
1. Confiança x desconfiança básica (nascimento aos 12-18 meses)
As pessoas precisam acreditar no mundo e nas pessoas, mas elas também precisam adquirir certa desconfiança para se protegerem do perigo.
Virtude: “Esperança”

Estágios do desenvolvimento psicossocial - Erikson
2. Autonomia x vergonha e dúvida (12-18 meses aos 3 anos)
A criança desenvolve um equilíbrio entre independência e auto-suficiência, e vergonha e dúvida.
Ela percebe que há limitações, obrigações, etc., estabelecidas para ela.
Há uma dupla exigência para a criança: a necessidade de auto-controle e a necessidade de aceitação do controle exercido por outros no seu ambiente
Virtude: “Vontade”

Estágios do desenvolvimento psicossocial - Erikson
3. Iniciativa x culpa (3 aos 6 anos)
A criança desenvolve iniciativa quando experimenta novas atividades e não é dominada pela culpa.
A iniciativa combina-se com a autonomia para dar às crianças as condições de busca, planejamento e determinação na consecução de tarefas e de objetivos.
Virtude: “Propósito”

Estágios do desenvolvimento psicossocial - Erikson
4. Produtividade x inferioridade (6 anos à puberdade)
A criança deve aprender habilidades da cultura ou enfrentar sentimentos de incompetência.
Virtude: “Habilidade”
5. Identidade x confusão de identidade (puberdade ao início da idade adulta)
O adolescente deve determinar seu sentido pessoal de identidade (“Quem sou eu?”) ou sentir confusão sobre papéis.
Virtude: “Fidelidade”

Estágios do desenvolvimento psicossocial - Erikson
6. Intimidade x isolamento (início da idade adulta jovem)
A pessoa procura formar compromissos com os outros; em caso de fracasso, pode sofrer de isolamento e auto-absorção.
Virtude: “Amor”
7. Geratividade x estagnação (idade adulta)
Adulto maduro preocupa-se em estabelecer e orientar a nova geração, ou então sente empobrecimento pessoal.
Virtude: “Consideração”

Estágios do desenvolvimento psicossocial - Erikson
8. Integridade x desespero (idade adulta tardia)
O idoso alcança a aceitação da própria vida, o que lhe permite aceitar a morte, ou então se desespera pela incapacidade de reviver a vida
Virtude: “Sabedoria”

JEAN PIAGET
Jean Piaget nasceu em 1896 na Suíça e foi precursor da “revolução cognitiva” da atualidade com sua ênfase em processos mentais.
Piaget tinha uma visão organísmica das crianças, considerando-as seres ativos em crescimento, com seus próprios impulsos internos e padrões de desenvolvimento.
Morreu em 1980.

Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência - Piaget
a hereditariedade: herdamos um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente, uma série de estruturas biológicas que favorecem o aparecimento das estruturas mentais. Como conseqüência inferimos que a qualidade da estimulação interferirá no processo de desenvolvimento da inteligência.

Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência - Piaget
a adaptação: possibilita ao indivíduo responder aos desafios do ambiente físico e social. Dois processos compõem a adaptação, ou seja,  a assimilação (uso de uma estrutura mental já formada) e a acomodação (processo que implica a modificação de estruturas já desenvolvidas para resolver uma nova situação).

Conceitos fundamentais no desenvolvimento da inteligência - Piaget
os esquemas: constituem a nossa estrutura básica. Podem ser simples, como por exemplo, uma resposta específica a um estímulo-sugar o dedo quando ele encosta nos lábios, ou, complexos, como o modo de solucionarmos problemas matemáticos. Os esquemas estão em constante desenvolvimento


Com colaboração de Larissa. 

sábado, 18 de março de 2017


MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2017

A Palavra é um dom. O outro é um dom
Amados irmãos e irmãs!
A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.
  1. O outro é um dom
A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.
A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.
  1. O pecado cega-nos
A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De facto, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).
O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.
Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).
O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.
Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).
  1. A Palavra é um dom
O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar». De facto, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).
Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27), dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.
Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.
Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).
Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.
Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.
Vaticano, 18 de outubro – Festa do Evangelista São Lucas – de 2016.
Francisco


Resgate da Sagrada Eucaristia por Seminarista no Iraque

(do Blog da Arquidiocese de Campo Grande - MS)

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Segue abaixo o texto de John Pontifix, postado no site ACI DIGITAL, sobre o resgate ad Sagrada Eucaristia, feito pelo Seminarista Martin Baani.

* * *

Bombas caiam e o som da explosão enchia os corações do povo de choque e medo. Ao som de choro e atividade frenética, as pessoas arrumavam os pertences que conseguiam carregar para fugir à noite.

Em meio a tudo isso estava Martin Baani, um seminarista de 24 anos de idade. Ele começava a perceber que esta seria a última vez em Karamlesh.

Por 1.800 anos, o cristianismo teve um lar nos corações e nas mentes das pessoas desta aldeia, cheia de resquícios da antiguidade. Mas agora estava prestes a ser dominada pelo Estado Islâmico que avança em sua direção.

O celular de Martin toca: um amigo que gagueja a notícia de que a cidade vizinha de Telkaif foi dominada pelo "Da'ash" - o nome árabe para Estado Islâmico. Karamlesh certamente será a próxima.

Martin corre para fora da casa de sua tia, onde está hospedado, e segue para a igreja de Santo Addai, próxima dali. Ele leva o Santíssimo, um pacote de papéis oficiais e caminha para fora da igreja. Do lado de fora um carro o espera - o padre de sua paróquia, o padre Thabet, e três outros sacerdotes.

Ele entra e o carro acelera. Eles deixam Karamlesh e os últimos vestígios da presença cristã da aldeia vão com eles.

Falando com Martin na calma do Seminário de São Pedro, em Ankawa, é difícil imaginar que ele descreve algo além de um sonho ruim. Mas não há nada de sonhador na expressão de Martin. "Até o último minuto, o Pashmerga [as forças armadas curdas que protegem as aldeias] estavam nos dizendo que era seguro”.

“Mas depois soubemos que eles estavam montando grandes armas no monte de Santa Bárbara [na borda da aldeia] e compreendemos então que a situação era muito perigosa."

Fazendo um balanço daquela terrível noite de 06 de agosto, a confiança de Martin é reforçada pela presença de outros 27 seminaristas em São Pedro, muitos deles com suas próprias histórias de fuga das garras dos militantes islâmicos.

Martin e seus colegas de sacerdócio sabem que o futuro é sombrio no que diz respeito ao cristianismo no Iraque. A comunidade de 1,5 milhão de cristãos antes de 2003 caiu para menos de 300 mil e, daqueles que permanecem, mais de um terço estão foragidos. Muitos, se não a maioria, buscam uma nova vida em um novo país.

Martin, no entanto, não é um deles. "Eu poderia facilmente ir", ele explica calmamente. "Minha família vive agora na Califórnia. Já me foi dado um visto para ir para os Estados Unidos pra visitá-los”.

“Mas eu quero ficar. Eu não quero fugir do problema". Martin já fez a escolha que marca os sacerdotes que decidiram permanecer no Iraque: sua vocação é para servir o povo, venha o que vier.

"Temos que lutar por nossos direitos, não devemos ter medo", explica. Descrevendo em detalhes o trabalho de socorro de emergência, que tem ocupado muito de seu tempo, é fácil ver que ele sente que seu lugar é lá com as pessoas.

Martin já é um diácono. Agora, em seu último ano de teologia, a ordenação ao sacerdócio é - se Deus quiser – daqui a alguns meses.

"Agradeço por suas orações", diz Martin, ao se despedir de mim. "Contamos com o vosso apoio."

John Pontifex é jornalista principal da Ajuda à Igreja que Sofre, uma fundação pontifícia de caridade internacional que fica aos cuidados da Santa sé e que provê assistência à Igreja Católica que está em dificuldades e sofre perseguição em mais de 140 países.

____________
Postado originalmente em: ACI DIGITAL

sexta-feira, 3 de março de 2017

A DOR DA CURA EMOCIONAL
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     No processo de resolvermos os conflitos emocionais pessoais geralmente precisamos passar pela dor da tomada de consciência do que nos aflige. Muitas situações na vida nos fazem sofrer emocionalmente. Situações devido a perdas, reais ou imaginárias, de alguém que você amava, perda do amor idealizado, perda do sentido para a vida quando você a colocava no material e vê que ele não preencheu tudo, perda porque você pode ter se anulado na vida, tendo perdido, muito ou pouco, da sua personalidade, etc.
     Diante de dores emocionais o ser humano em geral procura esconder o sofrimento de si mesmo. Pode suprimi-lo, o que significa que sabe que o tem, mas evita pensar nele e lidar com ele conscientemente. Pode reprimi-lo, o que significa que o joga para o inconsciente e não tem mais acesso ao mesmo quando deseja, mas quando pode.
     Quando há a repressão do sofrimento, ele pode permanecer muito tempo (anos até) num espaço virtual da mente, e vai tentar sair em alguns momentos da vida da pessoa, seja através do físico (reações psicossomáticas) ou através de distúrbios do comportamento como agressividade “imotivada”, desânimo, fobias, depressão, etc.
     Uma pessoa pode se isolar dentro de si mesma, perder uma parte de si mesma para manter-se na realidade com o que pode ou sobra. Ela reduz o que é para manter-se na realidade. Se torna, muitas vezes, por exemplo, submissa mais do que devia, menos ativa, mais passiva. Isto é uma proteção porque ela não sabe como funcionar com mais atividade. E também é uma expressão do sofrimento, porque está encolhida como indivíduo.
     A cura dói porque para obtermos a cura precisamos tomar consciência de certas dores que havíamos enterrado muito bem em nossa mente, para não sofrer. Mas para não sofrer, é preciso aprender a lidar com a dor, e não evitá-la. Quando você vai percebendo que havia partes encolhidas do seu ser que agora se tornam conscientes, isso pode doer. Mas será uma dor do crescimento e não mais do encolhimento que vinha assim. Temos que enfrentar esta dor, crendo que as condições para sobreviver psiquicamente estão também surgindo ao mesmo tempo. A percepção de nossos problemas pessoais vêem à nossa mente somente quando há resistência interna para lidarmos com ela. Se não, ela não surgiria na consciência.
     A cura dói porque vamos compreendendo que, de certa maneira, estamos sós para viver a pessoa que somos. E melhora quando recebemos ajuda de uma pessoa compreensiva e que nos pode dar um “colo” no sentido de ter empatia para com nossa dor. Melhora quando podemos desabafar, chorar… Melhora quando esta percepção de certa solidão deixa, aos poucos, de nos apavorar. Melhora quando encontramos sentido espiritual na vida.
     Precisamos de conexões afetivas com algumas pessoas, com quem podemos abrir nosso coração e, quem sabe, ouvir algumas palavras reconfortantes, ou algum toque físico de afeto inocente e puro que também produz algum conforto. Também de uma fé, uma confiança num Ser Superior, que eu chamo de Deus Criador, que nos assiste na dor e nos conduz a momentos de refrigério.


Kaquinda Dias
A DOR DA CURA EMOCIONAL
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     No processo de resolvermos os conflitos emocionais pessoais geralmente precisamos passar pela dor da tomada de consciência do que nos aflige. Muitas situações na vida nos fazem sofrer emocionalmente. Situações devido a perdas, reais ou imaginárias, de alguém que você amava, perda do amor idealizado, perda do sentido para a vida quando você a colocava no material e vê que ele não preencheu tudo, perda porque você pode ter se anulado na vida, tendo perdido, muito ou pouco, da sua personalidade, etc.
     Diante de dores emocionais o ser humano em geral procura esconder o sofrimento de si mesmo. Pode suprimi-lo, o que significa que sabe que o tem, mas evita pensar nele e lidar com ele conscientemente. Pode reprimi-lo, o que significa que o joga para o inconsciente e não tem mais acesso ao mesmo quando deseja, mas quando pode.
     Quando há a repressão do sofrimento, ele pode permanecer muito tempo (anos até) num espaço virtual da mente, e vai tentar sair em alguns momentos da vida da pessoa, seja através do físico (reações psicossomáticas) ou através de distúrbios do comportamento como agressividade “imotivada”, desânimo, fobias, depressão, etc.
     Uma pessoa pode se isolar dentro de si mesma, perder uma parte de si mesma para manter-se na realidade com o que pode ou sobra. Ela reduz o que é para manter-se na realidade. Se torna, muitas vezes, por exemplo, submissa mais do que devia, menos ativa, mais passiva. Isto é uma proteção porque ela não sabe como funcionar com mais atividade. E também é uma expressão do sofrimento, porque está encolhida como indivíduo.
     A cura dói porque para obtermos a cura precisamos tomar consciência de certas dores que havíamos enterrado muito bem em nossa mente, para não sofrer. Mas para não sofrer, é preciso aprender a lidar com a dor, e não evitá-la. Quando você vai percebendo que havia partes encolhidas do seu ser que agora se tornam conscientes, isso pode doer. Mas será uma dor do crescimento e não mais do encolhimento que vinha assim. Temos que enfrentar esta dor, crendo que as condições para sobreviver psiquicamente estão também surgindo ao mesmo tempo. A percepção de nossos problemas pessoais vêem à nossa mente somente quando há resistência interna para lidarmos com ela. Se não, ela não surgiria na consciência.
     A cura dói porque vamos compreendendo que, de certa maneira, estamos sós para viver a pessoa que somos. E melhora quando recebemos ajuda de uma pessoa compreensiva e que nos pode dar um “colo” no sentido de ter empatia para com nossa dor. Melhora quando podemos desabafar, chorar… Melhora quando esta percepção de certa solidão deixa, aos poucos, de nos apavorar. Melhora quando encontramos sentido espiritual na vida.
     Precisamos de conexões afetivas com algumas pessoas, com quem podemos abrir nosso coração e, quem sabe, ouvir algumas palavras reconfortantes, ou algum toque físico de afeto inocente e puro que também produz algum conforto. Também de uma fé, uma confiança num Ser Superior, que eu chamo de Deus Criador, que nos assiste na dor e nos conduz a momentos de refrigério.


Kaquinda Dias