Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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sábado, 26 de abril de 2014

3.3. Descobrindo o inconsciente
Introduzimos nas páginas precedentes formulações essenciais à psicanálise. No tocante à teoria estabelecemos a relação do inconsciente com o recalque. No tocante à técnica estabelecemos o seu ordenamento no campo da palavra. Contudo, essas são formulações que têm longo percurso histórico na psicanálise. Procederemos agora à abordagem do percurso histórico que conduziu Freud à descoberta fundamental da psicanálise – o inconsciente – abordando, na sequência, os desenvolvimentos a que esta descoberta deu lugar.
No período histórico relativo aos Estudos Sobre a Histeria a técnica presente na sugestão hipnótica consistia em tornar consciente o inconsciente. Contudo, não levará muito tempo para que Freud perceba que a sugestão hipnótica mais ocultava do que revelava o inconsciente. O objetivo técnico de tornar consciente o inconsciente faz parte, portanto, do período histórico da psicanálise.
Nos anos de 1893-1900, primórdios da psicanálise, o método da sugestão hipnótica, que objetivava a catarse através da ab-reação, “[...] consistia em focalizar diretamente o momento em que o sintoma se formava [...]” (Freud, 1980 [1914b], p. 193). O manejo técnico, neste período, consistia em “[...] colocar em foco um momento ou problema específico” (p. 193). O objetivo técnico consistia, portanto, essencialmente em se descobrir a causa desencadeante dos sintomas. Freud percebe, neste mesmo período, que havia uma resistência no paciente que se opunha a que as idéias inconscientes se tornassem conscientes, isto é, que havia uma resistência a ser superada e que tornava necessário o recurso à sugestão hipnótica.


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De fato, nestes anos iniciais, a técnica psicanalítica consistia em tornar consciente o inconsciente, compreendido, neste mesmo período, como um estado de segunda consciência onde as lembranças não ab-reagidas se alojavam. Sabemos que essa noção de inconsciente compreendido como estado de dupla consciência ou estado de consciência dividida sofrerá, posteriormente, da parte do próprio Freud severas críticas, ocorrendo o mesmo com o método da sugestão hipnótica. Sublinhemos, portanto, que o método da sugestão hipnótica utilizada na origem da história da psicanálise se apoiava nas elaborações teóricas produzidas naquele período, e que tornar consciente o inconsciente significava, nestes tempos idos, tornar manifesto, conhecido à consciência o fator traumático causal que se encontrava subjacente aos sintomas histéricos. Neste período Freud (1980 [1893-1895a]) relata que “[...] cada sintoma histérico individual desaparecia imediatamente e permanentemente quando conseguíamos evocar, nitidamente, a lembrança do fato que o provocou e despertar a emoção que o acompanhava, e quando o paciente havia descrito aquele fato com maiores detalhes possíveis e traduzirá a emoção em palavras” (p. 47).
Freud observava que os sintomas histéricos desapareciam quando ab-reagidos, isto é, que os sintomas desapareciam quando ocorria a descarga das emoções que estavam ligadas aos acontecimentos traumáticos através do recurso à palavra. Os acontecimentos traumáticos deveriam receber expressão verbal por parte do sujeito, meio através do qual haveria uma catarse. Lacan, no Seminário Livro 7 (1991), assinala que na antiga Grécia, com Hipócrates, o termo catarse traduzia-se habitualmente como “purgação” e estava relacionado à noção de eliminação das tensões, aludindo também a idéia de uma “purificação” (p. 297). No ponto de elaboração teórica em que nos encontramos hoje sabemos que a ab-reação consistia essencialmente em dar nome, simbolizar, pelo recurso à linguagem, um real vivido não integrado ao sistema simbólico do sujeito.
No período em que Freud utilizava-se do método da sugestão hipnótica o objetivo da psicoterapia era o de percorrer os caminhos que haviam conduzido à formação dos sintomas, isto é, partia-se dos sintomas manifestos até chegar-se à localização das causas que o haviam determinado. Encontrar a causa que estava na origem dos sintomas era de capital importância neste período, posto que a lembrança do trauma que não havia sido ab-reagido permanecia no

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aparelho psíquico funcionando como um “corpo estranho”. Nesta época Freud relatou ficar deveras impressionado com o fato de que a lembrança do trauma permanecia, muito tempo após a sua ocorrência, eficaz, vivo enquanto agente etiológico dos sintomas atuais do sujeito.
Freud observava ainda que havia uma desproporção no tempo entre o surgimento dos sintomas e o evento traumático desencadeante, constatando que, por um lado, o sintoma não aparecia logo após a ocorrência do fator traumático e que, por outro, este permanecia presente no psíquico como se fosse uma força atual e em constante atividade. Devemos ainda acrescentar que, neste mesmo período, Freud elabora que uma cena só se torna traumática quando transformada em lembrança a partir de sua evocação por meio da repetição de uma cena análoga. “Neste sentido, o caso Katharina é típico. Em todo caso de análise de histeria baseada em traumas sexuais, verificamos que as impressões do período pré-sexual que não produziram nenhum efeito na criança atingem seu poder traumático num dado posterior como lembrança” (Freud, 1980 [1983-1895c], p. 182).
Alguns pontos de elaboração efetuados por Freud no período de 1893 a 1900 são dignos de nota e merecem, portanto, destaque, posto constituírem-se nos germens da futura teoria do inconsciente e do método da livre associação a ele intimamente relacionado. Neste mesmo período Freud destacava, como fato marcante, que nas neuroses traumáticas não havia um trauma principal isolado, mas, sim, uma série de traumas parciais agrupados, formando um grupo de causas desencadeantes. Freud observou que a conexão entre esses grupos causais e os sintomas dele decorrente obedecia, no mais das vezes, a uma conexão causal de ordem simbólica e não cronológica ou factual. A conexão simbólica determinava que o evento traumático, ou grupos de eventos traumáticos, que despertavam uma emoção penosa, do tipo náusea moral, poderia manifestar-se sob a forma de um sintoma histérico de vômito, por exemplo. Freud observou, portanto, que se estabelecia uma associação por laços de semelhança simbólica entre o sintoma e o que funciona como sua causa precipitante (Freud, 1980 [1893-1895a], p. 45). A noção de conexão simbólica elaborada por Freud neste período evoca a noção lacaniana da metáfora, elaborada com base na lei de condensação, como mecanismo constitutivo dos sintomas neuróticos.

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Evocamos a noção de relações causais simbólicas estabelecendo sua relação com a metáfora no intuito de apontarmos o quanto estava presente, nos primórdios da psicanálise e no espírito de Freud que a originou – ainda que de forma incipiente e embora haja toda uma distância de ordem conceptual e cronológica a ser percorrida –, a noção de relações analógicas de cunho simbólico e de como esta noção, ao longo da obra freudiana e lacaniana, foi ganhando em vigor conceptual.
Freud destaca, portanto, a possibilidade de relações causais de ordem simbólica na etiologia dos sintomas. Outro ponto destacado por Freud, e de não menor importância, refere-se ao fato de que havia, por parte do paciente, uma perda de memória no que concerne a estas relações simbólicas. A lembrança do evento traumático permanecia engramada no psíquico, mas, quanto à sua ação eficaz na produção dos sintomas, o paciente nada relacionava. É a este propósito que Freud chega à conclusão de que “os histéricos sofrem principalmente de reminiscências.” (p. 48). Sabemos hoje o quanto devemos a essa elaboração o conceito, elaborado posteriormente, de fantasma.
Freud observava que os eventos traumáticos, que não haviam sido ab-reagidos no momento oportuno, despertavam emoções penosas que permaneciam vinculadas à lembrança traumática. A cura requeria uma liberação da emoção “estrangulada” por meio da fala, na medida em que, para Freud “[...] a linguagem serve de substituto para a ação” (p. 49). “Cura pela palavra”, assim denominou Ana O, a mais famosa das histéricas, o tratamento pela psicanálise Verificamos, guardadas as devidas proporções, e que de fato não são poucas, de ordem tanto teóricas quanto técnicas, que a catarse em Freud consistia numa purificação pela via liberadora da palavra. De acordo com o que se elaborava neste período, tornar algo consciente consistia precisamente em restabelecer as conexões causais simbólicas perdidas, fato que se torna tão mais marcante quando lembramos que em A Psicoterapia da Histeria (1980 [1893-1895b]) o pressuposto teórico de estados de dupla consciência cede lugar à teoria da defesa implicada no mecanismo do recalque. Como vemos, o conceito de recalque, conceito chave da teoria do inconsciente, tem longo percurso histórico na psicanálise.
Com a introdução da teoria da defesa, Freud não estava recusando a teoria dos “estados hipnóides” presentes na histeria, mas, sim, afirmando-os como estados adquiridos
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por meio da defesa, e já não mais, portanto, como o resultado de uma pré-disposição constitucional herdada. Freud não recusava, neste período, a existência de “estados hipnóides”, mas afirmava que os mesmos dependiam inteiramente do mecanismo psíquico da defesa compreendido como “fator primário”. Freud desejava sustentar um achado: o mecanismo psíquico da defesa posta em jogo no recalque. O recalque foi definido neste período como o processo através do qual determinados grupos de idéias eram dissociados da cadeia consciente, vindo formar uma cadeia inconsciente. A “histeria hipnóide”, juntamente com a teoria que a sustentava, cedeu terreno à nova designação clínica – “a histeria da defesa”. Fato que, aliado a uma série de outros, fez com que Freud já não se mostrasse mais tão otimista quanto aos alcances terapêuticos obtidos através da utilização da técnica da sugestão hipnótica. De todos os modos, a prática da sugestão hipnótica, e a experiência obtida através da mesma por Freud, constituiu-se num valioso subsídio para a posterior elaboração do fenômeno da sugestão implicado na transferência, de tal forma que, em Freud, o manejo da transferência constitui-se no fundamento ético[1] da prática psicanalítica.
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Desenvolvíamos acima que a noção de fios de associações lógicas simbólicas, cuja relação fora esquecida pelo paciente, foi ganhando vulto em relação à noção de eventos traumáticos isolados como causa desencadeante de sintomas. Nesta mesma ocasião, Freud elabora que não havia uma única lembrança, uma única idéia patogênica, mas uma sucessão de “traumas parciais”, formando uma verdadeira concatenação de idéias patogênicas múltiplas.
O material psíquico patogênico, de acordo com Freud, encontrava-se organizado sob a forma de uma estrutura relacional estratificada segundo três ordens diversas. Dito de outra maneira, havia um certo número de lembranças ou de “sequência de pensamentos” (Freud, 1980 [1893-1895b], p. 345) que se dispunha a partir de um núcleo traumático até sua manifestação nos sintomas, onde o núcleo traumático culminava. Em torno deste núcleo, como que envelopando-o, encontrava-se um abundante material disposto de acordo com três ordens de organização.
Havia, em primeiro lugar, uma disposição cronológica sequencial, um ordenamento linear do material mnêmico; uma espécie de arquivo bem ordenado de lembranças dispostas segundo uma ordem cronológica invertida, onde as lembranças mais recentes eram as que surgiam em primeiro lugar, e, no fina,l encontrava-se a lembrança traumática em torno da qual as demais lembranças se encontravam ligadas. Havia, portanto, um arquivo mnêmico que conduzia dos sintomas manifestos até o núcleo traumático Em segundo lugar, havia um arranjo temático, já não mais cronológico. Neste, uma série de temas encontravam-se ligados entre si e ordenados em torno do tema principal numa ordem de estratificação temática na qual em cada estrato encontrava-se uma resistência que aumentava a medida em que se aproximava do núcleo patogênico.
Por fim, a terceira e mais importante forma de organização do material psíquico, uma forma de arranjo que não obedecia à cronologia e nem à semelhança temática. A terceira

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forma de organização do material psíquico ordenava-se de acordo com o “conteúdo do pensamento”, no qual a concatenação das idéias ocorre de acordo com certos fios lógicos que as ligavam entre si. Essa forma de organização, diversamente da ordem temática, não era concêntrica, mas sim em forma de “ziguezague”. Uma forma de associação segundo uma certa ordem lógica que evoca a imagem de uma ramificação arbórea.
Essas formas de estratificações do material psíquico conduziram Freud a conclusão de que “[...] é notável como muitas vezes um sintoma é determinado de várias maneiras, é ‘superdeterminado’” (p. 347).
Na Psicologia do Ego o conceito de sobredeterminação foi compreendido como constituindo a multiplicidade de fatores implicados no processo de maturação e de desenvolvimento dos comportamentos rumo à adaptação. A sobredeterminação, nesta teoria, refere-se ao fato de que cada conduta levada a cabo pelo ego é “multideterminada”, isto é, ao fato de que são vários os fatores determinantes que participam das ações efetuadas pelo ego, de modo que o comportamento humano pode ser explicado à luz de seus fatores de determinações múltiplas: a determinação dos instintos, o papel do meio ambiente físico e social; as leis que determinam os processos de funcionamento básico do organismo, o papel desempenhado pelas “experiências acumuladas” (Rapaport, 1982, p. 31).
Hartmann (1969), referindo-se ao fato de que a experiência analítica demonstrou que a conduta humana é superdeterminada, foi levado a identificar o conceito de sobredeterminação freudiana ao conceito de “princípio de função múltipla” (Hartmann, 1969, p. 48). Com o princípio de função múltipla, Hartmann desenvolve a teoria de que cada função ativada no ego é o resultado de complexos processos desenvolvidos em diferentes estratos da personalidade e que fornecem como resultado final uma variedade de tipos de ações levadas a efeito pelo ego.
Dizendo de outro modo, de acordo com Hartmann, a diversidade de ações de que é capaz o ego deve-se ao princípio de função múltipla. Para Hartmann, toda ação é conduzida e dirigida voluntariamente pelo ego consciente, isto é, toda ação obedece ao comando do ego, contudo, as características imprimidas às ações são co-determinadas por fatores que se

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desenvolvem no id, no superego, na realidade externa, assim como também pelo número de funções mobilizadas pelo ego em cada ação. Esta multiplicidade de fatores envolvidos em cada ação levada a efeito pelo ego é responsável pela diversidade das condutas.
Para Lacan, a sobredeterminação concerne às múltiplas determinações simbólicas aos quais o sujeito está, enquanto sujeito do inconsciente, referido. A sobredeterminação responde, pois, em Lacan, ao princípio segundo o qual o sujeito é um efeito do significante e de que este é regido pelas leis da lógica combinatória da metonímia e da metáfora.
Retomemos o que vínhamos desenvolvendo a propósito da teoria da defesa elaborada por Freud no período dos Estudos Sobre a Histeria. Neste período, ao qual já fizemos referência, Freud não se encontrava muito entusiasmado com o método da sugestão hipnótica, passando a fazer uso de uma técnica denominada de “método coercitivo”. Esse método consistia em fazer pressão com as mãos sobre a cabeça do paciente, insistindo para que ele rememorasse os fatos traumáticos. Através deste método, Freud constata que com insistência surgia uma lembrança, e que, reforçando-se a insistência, surgia uma nova lembrança em estreita conexão com a primeira, e assim sucessivamente. Freud constatava ainda que o surgimento das lembranças dependia de uma certa quantidade de esforço terapêutico, constatando, deste modo, que havia uma força que se opunha à rememoração, Freud a denominou de resistência. A resistência era a força que se opunha aos esforços do tratamento, sendo a mesma força que de início se havia oposto à penetração da idéia patogênica na consciência, ou seja, que se encontrava na base do recalque e que, portanto, “devia ser a mesma força psíquica que desempenhava um papel na geração da histeria e que impedia na ocasião que a idéia patogênica se tornasse consciente” (Freud, 1980 [1893-1895b], p. 325).
O trabalho clínico com pacientes neuróticos conduziu Freud a desenvolver a teoria da divisão psíquica, descrita sob a forma de um conflito psíquico determinado pelo antagonismo do eu (moi) em relação ao grupo de idéias a ele “antitéticas”. As idéias “irreconciliáveis” com o eu, são, pelo processo de recalque, expulsas de seu campo, vindo a formar um grupo de idéias em relação as quais o eu experimenta estranhamento, razão pela qual ele defende-se contra as mesmas, recusando-se a assumi-las como lhe pertencendo. Freud constata que havia uma “aversão”, “repulsão” por parte do eu em relação às idéias contrárias a sua precária
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consistência imaginária. A incompatibilidade do eu em relação a tais idéias provoca uma força que se colocava contra a sua penetração na consciência. “O ego do paciente fora abordado por uma idéia que se mostrou incompatível, que provocou por parte do ego uma força de repulsão com a finalidade de defender-se da idéia incompatível” (Freud, 1980 [1893-1895b], p. 325).
O processo por meio do qual o eu se divorcia das idéias incompatíveis, expulsando-as de seu campo, conduz ao processo de divisão psíquica. As idéias de caráter aflitivo ao eu passam, desde então, a formar um grupo associativo separado da consciência. O material patogênico expulso passa a organizar-se segundo uma lógica associativa de coerência diversa da organização do eu, e dele independente. Com efeito, por meio do recalque “a idéia não é aniquilada por tal repúdio, mas simplesmente reprimida para o inconsciente. [...] o que se desejava era eliminar uma idéia, como se jamais ela tivesse surgido, mas tudo o que se conseguia fazer é isola-la psiquicamente” (Freud, 1980 [1892-1893], p. 171).
O abandono do método hipnótico conduziu à importante descoberta de forças resistenciais atuantes no paciente. A hipnose ocultava as resistências do eu, razão pela qual Freud se torna ainda mais cético quanto à eficácia terapêutica da sugestão hipnótica. Vemos, neste período inicial da psicanálise, a presença de muitas e de importantes idéias que se constituíram em ponto de partida para as futuras linhas de desenvolvimento da teoria do inconsciente e do método da livre associação. Encontramo-nos, neste período, diante de um momento incipiente do desenvolvimento da futura teoria do inconsciente, tal como se encontra elaborada na primeira tópica freudiana. Passo a passo, a noção de fatos reais traumáticos, como causa subjacente aos sintomas, cede lugar à teoria do fantasma inconsciente, permitindo a Freud elaborar que as associações que unem as representações inconscientes entre si ocorrem à revelia da vontade do eu e que as articulações estabelecidas pelo inconsciente não se perdem pela ação do recalcamento. Essas noções conceptuais são atuais e se encontram presentes em germe neste período histórico dos Estudos sobre a Histeria. Sabemos hoje, pautados pelos desenvolvimentos teóricos posteriores, o que a noção de lembranças traumáticas deve à noção de representações fantasmáticas. Dizendo de outro modo, sabemos hoje sobre o caráter fantasmático destas lembranças. Sabemos também que a

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noção de um trauma insuportável, a presença de um núcleo traumático primário, causa originária dos sintomas, responde à noção de pulsão e de sua inscrição no registro psíquico, isto é, à noção de “[...] ‘recalque primário’ da primeira tópica, ‘isso’ freudiano da segunda, ‘Real’ lacaniano” (Pommier, 1990, p. 25), o que nos conduz, por seu turno, à noção de uma causa primária vazia como núcleo no qual se enraíza toda manifestação sintomática. O que é irreconciliável, traumático ao “ego coerente”, e contra o qual ele se defende, é o desejo indeterminado do Outro e a montagem fantasmática que dele se deriva e que serve ao propósito de encobri-lo.
No inconsciente, onde está a causa? Sabemos onde ela está: um e outro pensamento não fazem senão aproximá-lo marcando seu caráter inatingível. A causa no inconsciente é o que é aproximado e falho. O que é que faz causar o inconsciente? É o que Freud chamava de seu famoso umbigo do sonho: isso quer dizer que é possível sempre tentar chegar ao âmago da análise de um sonho, mas jamais se chegará ao âmago, quaisquer que sejam as interpretações tremendamente notáveis que se faça (Melman, 1994, p. 31).
É verdade que num período imediatamente anterior à elaboração da teoria da defesa as noções teóricas avançadas a propósito da divisão psíquica eram colocadas em termos de “estados de cisão da consciência”, postulando-se que havia uma “consciência normal” e uma“segunda consciência”, onde se encontravam as lembranças de caráter penoso. É verdade também que a técnica consistia em torná-las conscientes, ou seja, integrá-las à cadeia de associações conscientes, daí o recurso à hipnose ou ao método coercitivo. De fato, isto conduz à noção de que o inconsciente, aqui entendido como um estado de cisão da própria consciência, deveria ser integrado à “consciência normal”. Entretanto, a noção de que a consciência poderia dividir-se a si própria, gerando como consequência dois estados de consciência, na qual uma consciência nada poderia saber sobre a outra, é de fato uma concepção filosófica à qual Freud não apenas não se detém por muito tempo, mas em relação a qual lançará severas críticas posteriormente. Assim é que, já em 1892-1893, no texto Um Caso de Cura Pelo Hipnotismo Freud propõe como modelo da divisão psíquica a noção de “vontade e contra-vontade”, apontando que para além da vontade consciente manifestada pelo paciente existe algo que não apenas se contrapõe a mesma mas que, de forma mais determinante, se apresenta como soberana sobre a vontade. A contra-vontade é, neste período, concebida por Freud como soberana no psíquico, impondo-se sob a forma de manifestações sintomáticas. Contra-vontade é o nome dado por Freud, em 1892, ao desejo inconsciente, tal

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como o compreendemos hoje. Logo em seguida ao modelo da divisão psíquica sob a forma de “vontade e contra-vontade”, Freud elabora e propõe um novo modelo sobre o processo de divisão psíquica: o modelo da incompatibilidade do eu com certas idéias de caráter penoso, ou seja, o modelo da dissociação psíquica presente entre o eu e um grupo de ideais incompatíveis e inaceitáveis por este eu.
Vimos como imediatamente após estas elaborações conceituais, ou mesmo a elas paralelas, tem lugar a noção de associações regidas por laços de coerência lógica simbólicos. O material esquecido vai sendo relacionado, de forma cada vez mais sistemática, à concepção de que o que de fato o paciente esquecia não eram os eventos penosos, mas, sim os fios de concatenação lógica que se estabeleciam entre os sintomas manifestos e o núcleo traumático, e que formavam uma verdadeira cadeia associativa de pensamentos.
Portanto, não se trata de rememoração de lembranças inconscientes por parte do analisando, mas sim deste abandonar-se, deixando-se conduzir por estes fios lógicos que ligam as representações inconscientes entre si. É do inconsciente concebido como um processo dinâmico articulatório que o método da livre associação se sustenta. A noção de cadeias de representações de desejo inconsciente retira o inconsciente freudiano do marco de uma concepção psicológica substancialista que conduz a identificá-lo a conteúdos afetivos, emoções e sentimentos. Retira igualmente o inconsciente da noção biológica de “tendências instintuais primitivas” (Hartmann, 1969, p 45) que, permanecendo à margem do processo de desenvolvimento, amadurecimento e aprendizagem, manifestar-se-iam como tendências antisociais que escapam ao processo de socialização, ajuste e adaptação do eu. Este foi o modo pelo qual o inconsciente, para os teóricos do ego, ficou identificado ao isso e este, por sua vez, identificado ao irracional desadaptado, e sobre o qual convém pôr as rédeas da via corretora do princípio da realidade.
Mas o que vem a ser o princípio da realidade para os psicólogos do ego? “Trata-se da realidade cotidiana, imediata, social? Do conformismo às categorias estabelecidas, aos costumes admitidos? Da realidade descoberta pela ciência?” (Lacan, 1991, p. 32). Na Psicologia do Ego todas estas questões convergem, recebendo formulação positiva. O princípio de realidade, definido como princípio de adaptação, deve ser aceito pelo indivíduo
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uma vez que se traduz como guia para todo bom comportamento. Quanto a nós, partícipes do ponto de vista freudiano, acreditamos que a vida em grupo, uma das fontes de mal-estar assinalada por Freud, pode cobrar ao sujeito um tributo alto demais: o de render-se aos “ideais de multidão” (Freud, 1980 [1930], p. [81]). Os ideais sociais coletivos impõem-se ao homem como um conjunto de valores, crenças e ordenamentos morais que, ao se apresentarem como portadores de um saber sobre a verdade, são colocados na posição de servir de guias para a vida, comandando, deste modo, processos e fenômenos específicos de alienação ao imaginário social dominante. O fascínio que estes ideais coletivos exercem sobre cada sujeito que a ele se submete deriva-se do fato de que “[...] sua aceitação da neurose universal poupa-lhes o trabalho de elaborar uma neurose pessoal” (Freud, 1980 [1927], p. 58), preço que o neurótico, pela sua “servidão mental”, parece nunca achar alto demais, na medida em que lhe permite permanecer no desconhecimento de seu próprio desejo, Ao nosso ver, para a Psicologia do Ego, uma ação é tida como adaptada na medida em que o sujeito abre mão de seu desejo inconsciente, em nome do guia de adaptação suposto presente no princípio de realidade, definido, pela referida escola, como princípio de adaptação. Contudo, onde o indivíduo encontra o modelo para conduzir-se adequadamente em relação à realidade? Onde encontra a certeza de que está processando a leitura correta da realidade circundante? De acordo com os teóricos do ego encontra-o no modelo identificatório presente na figura do analista, talhado como medida padrão de todo bom ajuste. Ao nosso ver, cabe aqui a advertência de Freud de que “por mais que um analista possa ficar tentado a transformar-se num professor, modelo e ideal para outras pessoas, e criar homens à sua própria imagem e semelhança, não deve esquecer que esta não é a sua tarefa no relacionamento analítico e que, na verdade, será desleal a essa tarefa se permitir ser levado por suas inclinações” (Freud 1980 [ 1940a], p. 202).
A questão: existe uma realidade idêntica para todos? recebe na Psicologia do Ego formulação afirmativa, conduzindo a conclusão de que a lei a qual convém seguir e pautar-se, tomando-a como guia mestre, são as leis das normas e regras morais sociais convencionais e não a Lei do desejo inconsciente. O que não deixa de eximir, na ocasião, o sujeito da dor de existir, ainda que ao preço de abrir mão daquilo que, por habitá-lo, encontra-se no fundamento que o sustenta enquanto sujeito – o desejo inconsciente. Foi justamente a sugestão, concebida

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como fenômeno amoroso que dispõe o analisando a uma posição de servidão a um lugar suposto saber, passível de vir encarnar-se na pessoa do analista, que Freud apontou os riscos implicados em todo tratamento que se paute no recurso à sugestão, definida como técnica de convencimento. Ocasião propícia para lembrarmos que a idéia, o conceito que um analista faz do que seja o inconsciente, a direção do tratamento, a ética no qual ele deve pautar-se e, por fim, o que ele entende por finitude de uma análise, dirigirá seus atos analíticos.
Já nos referimos anteriormente à problemática de tornar consciente o inconsciente. Que devemos entender por tornar consciente o inconsciente? Quais são os limites e os alcances que podemos depreender desta expressão frequente na obra freudiana? Tratar-se-ia de fazer uma compreensão psicológica da mesma, e que consistiria em tornar sabido à consciência o saber-insabido do inconsciente? Seria o caso de supor como possível, viável e até mesmo desejável um progressivo apossamento, e consequente conhecimento, pela consciência do que é inconsciente?
A questão de como algo inconsciente se torna consciente não nos parece de modo algum banal, não somente devido ao fato de que está sujeita a equívocos e mal entendidos, mas, sobretudo, porque no texto metapsicológico O Inconsciente (1915a), texto canônico sobre o tema do inconsciente, o próprio Freud dedica uma particular atenção a este tema. A questão levantada por Freud nesse texto é quanto ao modo em que se dá a transposição, isto é, a passagem das idéias do sistema inconsciente para o sistema consciente. Questão levantada a propósito de razões de ordem tópica. Nesta ocasião Freud aventa três hipóteses.
A primeira hipótese, dita tópica, aventa sobre a possibilidade de um duplo registro dos materiais mnêmicos inconscientes. Essa hipótese é proposta nos seguintes termos por Freud: quando uma idéia (no sentido de uma representação) passa de um registro inconsciente para um registro consciente, com a mudança de localização tópica aí operada, a idéia passa a existir em dois lugares diversos, isto é, a idéia continua a ter existência psíquica inconsciente, acrescida agora de uma existência paralela no sistema consciente? (Freud, 1989, [1915a], p. 200). Com relação a esta hipótese Freud levanta a objeção de que quando comunicamos ao paciente o conteúdo de um material submetido ao processo de recalcamento podemos dizer que este material passa a ter existência em dois lugares psíquicos diversos. Contudo, o que se
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constata clinicamente é que com este procedimento não produzimos qualquer espécie de alteração psíquica, não removemos o recalque e nem anulamos os seus efeitos. A este propósito Freud (1980 [1910b]) assevera que
Se o conhecimento acerca do inconsciente fosse tão importante para o paciente, como as pessoas sem experiência de psicanálise imaginam, ouvir conferências ou ler livros seria suficiente para curá-los. Tais medidas, porém, têm tanta influência sobre os sintomas da doença nervosa, como a distribuição de cardápios numa época de escassez de víveres tem sobre a fome. A analogia vai mesmo além de sua aplicação imediata; pois, informar ao paciente sobre seu inconsciente redunda, em regra, numa intensificação do conflito nele e numa exacerbação de seus distúrbios” ( p. 211).
Estamos devidamente advertidos do fato de que revelar ao paciente sobre o seu inconsciente recalcado resulta, no melhor dos casos, numa medida inócua, no pior e no mais frequente, no fortalecimento da barreira levantada pela resistência. Tornar consciente o inconsciente, por meio de uma técnica que consista em comunicar o recalcado, tornando-o conhecido à consciência, não faz parte pois do manejo técnico psicanalítico, que conduz ao cumprimento da regra fundamental da livre associação. Sabemos, pelo legado de ensinamentos que Freud deixou, que um manejo técnico assim conduzido não é senão manifestação de “uma ambição terapêutica” (Freud, 1980 [1912a], p.153) por parte do analista, e que Freud não vacila em considerar como o “[...] sentimento mais perigoso para um psicanalista” (p. 153). Ao proceder deste modo, o analista não estará fazendo nada mais do que inculcar no paciente as suas próprias aspirações e desejos, fazendo um uso abusivo do laço transferencial e colocando-o ao serviço da sugestão. A via técnica de tornar consciente o inconsciente, pautando-se no pressuposto da transmissão de um conhecimento está, por razões de eficácia técnica e de ordem ética, fechada.
A segunda hipótese, denominada por Freud de funcional, aventa a possibilidade de que a passagem de uma idéia inconsciente para o consciente implicaria numa mudança de estado da mesma. Essa hipótese é abandona por Freud que a considerou a mais grosseira das três. A terceira hipótese formulada por Freud põe um ponto de basta em torno das celeumas travadas em torno da questão de como algo inconsciente se faz consciente. Ela consiste, primeiramente, numa recusa das duas hipóteses anteriores. A passagem do inconsciente para o consciente não se dá por meio de uma mudança de registro, tampouco por diferenças produzidas no estado funcional. A terceira hipótese formulada por Freud introduz a distinção
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entre “representação de coisa” (Sachvorstellung) e “representação de palavra” (Wortvorstellung). Hipótese segundo a qual no inconsciente subsistem as “representações de coisa” sem a “representação de palavra” que lhe corresponde. Doravante, ligar a “representação de coisa” a uma “representação de palavra” não é garantia, mas, possibilidade de que o inconsciente alcance à consciência. “Como uma coisa se torna consciente? Seria assim mais vantajosamente enunciada: Como uma coisa se torna pré-consciente? E a resposta seria: Vinculando-se às representações verbais que lhe são correspondentes” (Freud, 1980 [1923], p. 33).
No Seminário livro 7 (1991), Lacan adianta que a oposição Wortvorstellung e Sachvorstellung responde em Freud às dificuldades e impasses por ele encontradas no tocante ao estado da linguística de sua época, e de que esta oposição, introduzida por Freud, mostra admiravelmente o quanto ele compreendeu bem a distinção entre a linguagem como função, isto é, do papel que a linguagem cumpre no nível do pré-consciente, da linguagem enquanto estrutura. Lacan sublinha ainda que Freud fala de Sachvorstellung e não de Dingvorstellung e de que, portanto não é em vão que “[...] as Sachvorstellung estejam ligadas a Wortvorstellung, mostrando-nos assim que há uma relação entre coisa e palavra” (p. 60).
A tradução em palavras é o recurso onde repousa a possibilidade de tornar o inconsciente acessível à consciência. Freud, quando distingue no inconsciente a representação de coisa e de palavra, está nos assinalando uma dimensão da representação inconsciente - a de coisa - que jamais chega à consciência, a não ser pelo seu enlace a uma representação de palavra. Se quiséssemos precisar de modo rigoroso o que está contido no inconsciente diríamos então: as representações simbólicas de coisas (Sachvorstellung) produzidas no campo da palavra. E, se quiséssemos, também de modo rigoroso, definir em que consiste tornar consciente o inconsciente, diríamos, de acordo com Kehl, (2002), que “a passagem do inconsciente à consciência só é possível por intermédio das palavras, podemos deduzir que nessa passagem algo se perde, algo da verdade das representações de coisa as ‘primeiras e verdadeiras cargas de objeto’” (p. 123). “[...] estamos em condições de declarar precisamente o que é que a repressão nega à apresentação rejeitada nas neuroses de transferência: o que ela nega à apresentação é a tradução em palavras que permanece ligada ao objeto” (Freud, 1980

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[1915a], p. 230). De acordo com elaborações efetuadas por Freud, tornar consciente o inconsciente consiste num ato de reconhecimento e elaboração do material submetido ao processo de recalcamento, e de que isso ocorre através do ato da fala. Falando o sujeito encontra recursos na palavra para elaborar o material psíquico inconsciente, integrando-o ao seu sistema simbólico. Cremos ter respondido a questão de como se faz possível o inconsciente tornar-se consciente: pelo recurso à tradução em palavras. As palavras, e somente elas, permitem a simbolização de um real vivido, causa permanente de angústia. Daí que o desejo eticamente legítimo do analista é de que o analisante fale. De que ele associe livremente. Mas, poderíamos perguntar, livre de quê? “Livre da pregnâcia imaginária do excesso de sentido. Livre do subjugamento do sujeito ao saber imaginário, dos excessos de certeza nos quais o sujeito se sustenta como ser e que o fazem adoecer” (Baratto, 1988, p. 77).



[1] Podemos dar como definição geral que a ética consiste no conjunto de princípios que regem as ações humanas. Neste sentido, pode-se afirmar que a ética encontra-se presente num vasto número de campos teóricos, epistemológicos e de práticas. Entretanto, pode-se afirmar também que a questão relativa à ética tem na psicanálise uma abordagem específica. Na psicanálise encontramos uma concepção particular sobre a ética  que ligaremos à especificidade de sua concepção de sujeito. A “ética tradicional” (Lacan, 1998, p. 776) se fundamenta e se dirige ao ser, preconizando uma série de princípios e de leis que, ao serem colocadas como referências para as ações humanas, fazem com que esta se dirija ao bem. Para a psicanálise, contudo, a ética não se endereça ao ser, mas a falta a ser fundada no desejo e na castração A obra freudiana inaugura uma ética própria da psicanálise e que se encontra intimamente ligada à noção de sujeito do inconsciente. O sujeito do inconsciente é determinado e, como tal, assujeitado à lei do desejo inconsciente. Tal concepção de sujeito coloca-se nas antípodas de uma concepção que defende a autonomia do indivíduo. Com efeito, a “[...] a marca do significante sobre o falante” (Larousse, s.d., p. 42) faz dele um sujeito submetido às determinações do desejo inconsciente e a castração a qual ele dá lugar. Deste modo, no percurso de uma análise o sujeito é conduzido a confrontar-se com a lei do desejo e com a castração que ele porta. De acordo com Birman (1955), “[...] a análise é a possibilidade de produção de um estilo que se calca na lei da proibição do incesto e na experiência de castração...” (p. 29). Para a psicanálise freudiana não se trata, tal como na Psicologia do Ego, de harmonizar o sujeito com as leis morais sociais, mas, sim de ordenar o sujeito na lei do desejo. Goldemberg (1944), aponta que “[...] a moral seria relativa aos ideais que constituem o eu, enquanto que a ética diria respeito às relações do sujeito com seu desejo inconsciente” (p. 11).
Por outro lado, a ética da psicanálise, no que tange ao analista, consiste em dar voz e escuta ao sujeito do inconsciente. Os princípios técnicos postos em curso na direção do tratamento são princípios éticos que “[...] visam dar lugar à palavra do sujeito do inconsciente e, como não há inconsciente fora do laço transferencial, o manejo da transferência situa-se no âmbito da ética, visando a livre associação” (Baratto, 201, p. 52). Deste modo, a ética do psicanalista consiste em implicar, pelo recurso à palavra, o sujeito com seu desejo, fazendo tombar a ilusão de autonomia do eu. Há, portanto, “[..] uma ética da psicanálise, no sentido de uma ética profissional [..]. Esta abordagem diz respeito à proteção dos ‘clientes’ submetidos ao tratamento psicanalítico contra eventuais abusos cometidos pelos analistas em sua posição privilegiada em função do amor de transferência” ( Kehl, 202, p. 7), e há uma ética que se deriva do percurso de uma análise por parte do analisando. A sustentação de uma posição ética , fundada no desejo, tanto por parte do analista quanto por parte do analisando passa, por seu turno, pelas vicissitudes particulares de uma análise.

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