Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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terça-feira, 31 de outubro de 2023

Obras de misericórdia

 

 

Obras da Misericórdia

(Mt 25,31-46)

As Obras de misericórdia corporais:

São Mateus apresenta a narração do Juízo Final (Mt 25, 31-36). Naquele tempo Jesus disse aos seus discípulos: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo. Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes. Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me. Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer”. Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.”

As obras de misericórdia são as ações caridosas pelas quais vamos em ajuda do nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais. Instruir, aconselhar, consolar, confortar, são obras de misericórdia espirituais, como perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia corporais consistem nomeadamente em dar de comer a quem tem fome, albergar quem não tem teto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos. Entre estes gestos, a esmola dada aos pobres é um dos principais testemunhos da caridade fraterna e também uma prática de justiça que agrada a Deus.

Catecismo da Igreja Católica, 2447.

As 14 Obras da Misericórdia

Obras Corporais:
1ª Dar de comer a quem tem fome;
2ª Dar de beber a quem tem sede;
3ª Vestir os nús;
4ª Dar pousada aos peregrinos;
5ª Assistir aos enfermos;
6ª Visitar os presos;
7ª Enterrar os mortos.

Obras de Misericórdia Corporais

Disse Jesus, de quem nos esforçamos para sermos discípulos: “Sede misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso” (Lc 6, 36). Ainda, em outro momento reafirmou citando o Profeta Oséias:”Quero misericórdia e não sacrifícios” (Mt 9, 13); e, mais uma vez insistiu nas bem-aventuranças: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7).

Vejamos o que é ser misericordioso, e em que consiste fazer obras de misericórdia.

Ter misericórdia não é ter pena de alguém. Longe disto, ter e exercitar a misericórdia é ter compaixão, e solidariedade para com a necessidade do outro. Mais do que só dar esmola, é descer até à carência física, espiritual e material da outra pessoa envolvendo-a com nosso ser e elevando-a à dignidade e à vida.

As obras de misericórdia corporais são:

– Dar de comer a quem tem fome.

1) Dar de comer a quem tem fome e 2) dar de beber a quem tem sede.

Estas duas complementam-se e referem-se à ajuda que devemos disponibilizar em alimentos e outros bens aos mais necessitados, àqueles que não têm o indispensável para comer em cada dia.
Jesus, segundo o Evangelho de São Lucas , recomenda: “Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem mantimentos faça o mesmo” (Lc 3, 11).

DAR DE COMER A QUEM TEM FOME

O povo bíblico sempre deu grande atenção aos pobres, mas será a partir de Cristo que tal atenção se torna central e a obra primordial. De tal modo é essencial que Bento XVI escreveu na Encíclica Caritas in veritate: «Os direitos à alimentação e à água revestem um papel importante para a consecução de outros direitos, a começar pelo direito primário à vida.» (N.º 27) Trata-se do inviolável direito à vida.

DAR DE BEBER A QUEM TEM SEDE

Jesus disse: «Quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.» (Mt 10,42) Por um lado, a água é imprescindível à vida, como diz o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si: «O acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos.» (N.º 30) Por outro lado, também é o consolo e o novo alento daqueles que estão cansados, daqueles que trabalham. Quem amparamos e consolamos ao nosso redor? Somos capazes de dar um simples copo de água a todo aquele que nos pede?

Várias vezes, Nosso Senhor Jesus Cristo se preocupou com a fome dos que O seguiam (Lc 9, 10-17). Seu mandato ecoa até hoje:”Daí-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9, 13).

Pe. Zezinho expressa muito bem isto na letra de sua canção: ”somos a Igreja do pão, do pão repartido, do abraço e da paz.” É bem verdade que nossas cestas básicas, missas do quilo e “sopões”, servidos nas madrugadas frias, não resolvem os problemas sociais, mas é uma solução imediata que sacia quem sente o desespero da fome.

É urgente e necessário que avancemos em políticas sociais que atinjam a causa da fome, mas enquanto não chegamos ao ideal, exercitemos a partilha no real. “Quem tiver muita roupa partilhe com quem não tem, e faça o mesmo quem tiver alimentos (Lc 3, 11).”

– Dar de beber ao sedento

Nosso Mestre Jesus disse: “Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10, 42). Em nossos tempos esta obra de misericórdia parece sem sentido, quando cada um tem água encanada, com facilidade em seus lares. Pensa desta forma quem tem o privilégio de viver longe da seca, e dos desafios de andar, em pleno Século XXI, muitos quilômetros para buscar água em açudes, e em carros pipas.

A consciência cristã e ecológica impele a “copos d’água” que são dados quando exercitamos o uso responsável da água potável. O uso correto, consciente, e sem desperdício da água é um desmembrar desta obra de misericórdia.

Não obstante, Jesus Cristo, nas bem-aventuranças, fala da sede, porém de uma “sede de justiça” (Mt 5, 6). A sede saciada de justiça não seria o saciar a sede real de água, de dignidade e de solidariedade?

– Dar abrigo aos peregrinos.

3) Dar pousada aos peregrinos.

Em tempos antigos dar pousada aos viajantes era um assunto de vida ou de morte, pelas dificuldades e riscos das caminhadas e viagens. Não é o normal hoje em dia. Mas, mesmo assim, poderia acontecer recebermos alguém em nossa casa, não por pura hospitalidade de amizade ou família, mas por alguma verdadeira necessidade.

DAR POUSADA AOS PEREGRINOS

Na maior parte da sua História, os israelitas foram um povo estrangeiro, peregrino, de tal modo que a hospitalidade é muito valorizada. Na parábola do bom samaritano, Jesus ironiza com os seus ao apresentar um samaritano, um estrangeiro, como exemplo de quem acolhe, cuida e de quem oferece um teto para aquele que está em necessidade. O problema dos refugiados é uma realidade premente e que necessita da ajuda de todos. Além disso, é sempre necessário auxiliar as instituições que diariamente combatem os problemas da vida dos sem-abrigo. Também destacamos aqui as instituições que acolhem os órfãos. Como poderemos contribuir mais e melhor para auxiliar a resolução possível destes problemas?

Jesus foi um desabrigado já em seu nascimento, quando negaram a José e Maria que estava para dar à luz, um lugar na hospedaria (Lc 2,7).

Tendo em vista que a realidade dos tempos de Jesus era muito diferente da realidade dos tempos atuais, torna-se complicado, perigoso e é até ingenuidade de nossa parte querer acolher em nossas casas, pedintes ou moradores de rua. Porém, Deus suscita obras de acolhimento na Igreja, através dos padres, religiosos (as), e leigos (as), que nos permite praticar esta obra de misericórdia, com nossa ajuda concreta.

Como cidadãos, cristãos, ou enquanto comunidade, somos chamados a contribuir economicamente e voluntariamente nos serviços desta obra.

Não podemos eximir o poder público de uma política habitacional, ao contrário, é nosso dever como cristãos, estar atentos a isto, como obra de misericórdia.

Sem querer forçar a natureza desta obra de misericórdia, não se poderia entendê-la de uma forma mais ampla, como por exemplo, simplesmente “acolher” na vida familiar, na convivência, no afeto, no dedicar algum tempo?

– Vestir os nus

4) Vestir os nus.

Esta obra de misericórdia dirige-se a aliviar outra necessidade básica: o vestuário. Muitas vezes é-nos proporcionada com as recolhas de roupa que se fazem nas paróquias e noutros centros. Ao entregar a nossa roupa é bom pensar que podemos dar o que nos sobra ou já não nos serve, mas também podemos dar do que ainda nos é útil.

A carta de São Tiago propõe-nos sermos generosos: “Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?” (St 2, 15-16).

VESTIR OS NUS

O padre e teólogo Pie Ninot recorda o gesto de São Martinho de Tours, que ofereceu metade da sua capa ao mendigo que se cruzou no seu caminho. «Na noite seguinte,» conta o autor, «Cristo apareceu-lhe vestido com a metade da capa dada para lhe agradecer o seu gesto.» É significativo como esta história antiga representa as palavras de Jesus: «Cada vez que o fizeste a um destes pequeninos, foi a Mim que o fizeste.» (Mt 25,40) São diversas as instituições que recolhem, tratam e redistribuem roupa em segunda mão. As lojas sociais vendem roupa a preços simbólicos. Precisamos identificar as necessidades da população que vive no território da sua comunidade?

Chamados somos nós, a sermos discípulos de um Mestre que os Evangelhos relatam, exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a)

O apóstolo Tiago escreveu à comunidade que lhe foi confiada pastorear: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se não tiver obras, é morta em si mesma. (Tg 2, 15-17).

Pe. Pepe dizia: se passas três meses sem usar uma peça de roupa, essa peça não é tua coloque-a no corredor.

– Assistir os enfermos:

5) Visitar os enfermos

Trata-se de uma verdadeira atenção para com os doentes e idosos, tanto no aspeto físico, como em lhes proporcionar um pouco de companhia.

O melhor exemplo da Sagrada Escritura é o da parábola do Bom Samaritano que curou o ferido e, ao não poder continuar a cuidar dele diretamente, confiou os cuidados que necessitava a outro em troca de pagamento (ver Lc 10, 30-37).

ASSISTIR OS ENFERMOS

A doença faz parte da condição humana, de tal modo que mais cedo ou mais tarde cada um de nós se depara com ela. Nesses momentos é muito importante o apoio e o auxílio daqueles que nos são próximos. Na obra acima referida, P. Ninot cita Luciano Manicardi, monge italiano, afirmando que «o enfermo tem uma sacramentalidade crística que o converte em sacramento de Cristo», ou seja, assim como um sacramento cada doente é um outro Cristo. Não vêm de novo à nossa mente as palavras de Jesus: «A Mim o fizeste»? Mais, a visita aos doentes deve atender também à família deste, acolhendo-a e apoiando-a. Será que atendemos a todos os doentes da nossa comunidade e as suas famílias?

Os Evangelhos relatam abundantemente, momentos em que Jesus acolhe, atende, socorre e cura os doentes. As vezes eram levados a Ele no entardecer (Mc 1,32-34); em outras pediam que Ele fosse até a casa do enfermo, como fez o oficial que pediu a cura do filho que estava morrendo (Jo, 4, 46-53). Vale lembrar a ação de Jesus, quando na casa de Pedro, cura sua sogra (Mt 8, 14-15). Jesus se desdobrou em misericórdia para com os doentes.

Maria, mesmo grávida, andou quilômetros para ajudar e pôr-se a serviço da idosa Isabel, sua prima, grávida de seis meses.

A obra de misericórdia: assistir os doentes começa na família quando se lida com doenças prolongadas e, às vezes irreversíveis. Seja em qualquer idade, e por qualquer problema de saúde, que podem ser, entre tantos: o câncer, as paralisias, a anencefalia, e socorrer sem preconceito os portadores do vírus HIV.

Trata-se também de um trabalho voluntário em hospitais, asilos, e casas de recuperação terapêutica. Estende-se a uma pastoral urbana que visite e acompanhe aqueles que, nos grandes centros urbanos vivem a dor de sua enfermidade na solidão, e no esquecimento.

De forma profética esta obra de misericórdia questiona a ausência de uma pastoral de saúde, tanto em nossas comunidades paróquias, como nos hospitais, que efetivamente possam marcar presença nestes momentos de fragilidade, e vulnerabilidade do ser humano.

Muitos se perguntam: o que fazer para um doente gravemente enfermo?

A resposta é simples, às vezes nada, apenas “estar” presente junto ao que sofre. Misericórdia e solidariedade é estar perto de quem sofre, mesmo sem entender a extensão do sofrimento, pois o pulsar e o latejar da dor é próprio só de quem está machucado.

Assistir os doentes até o fim é uma obra de misericórdia conflitante a toda e qualquer idéia de eutanásia e similares.

Implica inclusive em oferecer, além de recursos físicos, e terapêuticos necessários, a assistência religiosa e espiritual. Fato este que familiares estão se esquecendo e negligenciando.

– Socorrer os prisioneiros

6) Visitar os presos

Consiste em visitar os presos e prestar-lhes não só ajuda material, mas também assistência espiritual que lhes sirva para melhorar como pessoas, emendar-se, aprender a desenvolver um trabalho que lhes possa ser útil quando terminarem o tempo que lhes foi imposto pela justiça, etc.
Significa também resgatar os inocentes e sequestrados. Em tempos antigos os cristãos pagavam para libertar escravos ou se trocavam por prisioneiros inocentes.

VISITAR OS PRESOS

Quando Jesus é crucificado, São Lucas refere outros dois malfeitores, sem mencionar que um é bom e outro mau, como tradicionalmente interpretamos. Facto é que um deles (não sabemos se o da esquerda ou da direita) se considera culpado, e todavia, nesse mesmo dia, ele estará com Jesus no Paraíso. Ao visitar a prisão de Palmasola, Bolívia, o Papa disse que «quando Jesus entra na sua vida, uma pessoa não fica detida no seu passado, mas começa a olhar o presente de outra forma, com outra esperança». A visita aos presos deve ter presente não só o preso mas a sua família, cuja punição também atinge. Conheço as condições das prisões mais próximas de mim? Apoio as instituições que assistem os presos?

Ficará à direita de Deus, no grupo dos bem-aventurados, aquele que visitou os que estavam na prisão (Mt 25, 36).

Hoje o acesso nos presídios não é livre, há um certo rigor e triagem para visitas a presidiários. Porém, nossas dioceses ainda são deficientes em se tratando de uma pastoral carcerária efetiva, e dinâmica. Est’a começando um trabalho em relação com isso.

A obra de misericórdia socorrer os prisioneiros, também se estende ao socorro às famílias dos presidiários (as); auxiliando economicamente as que necessitam, e ajudando-as a superarem os preconceitos.

– Enterrar os mortos

7) Enterrar os mortos

Cristo não tinha lugar onde repousar. Foi um amigo, José de Arimateia, que lhe cedeu o seu túmulo. Mas, não apenas isso, teve a valentia para se apresentar ante Pilatos e pedir-lhe o corpo de Jesus. Nicodemos também participou e ajudou a sepultá-lo. (Jo 19, 38-42)

Enterrar os mortos parece um mandato supérfluo, porque, de facto, todos são enterrados. Mas, por exemplo, em tempo de guerra, pode ser um mandato muito exigente. Por que é importante dar sepultura digna ao corpo humano? Porque o corpo humano foi morada do Espírito Santo. Somos templos do Espírito Santo (1 Cor 6. 19).

ENTERRAR OS MORTOS

Esta é a única obra de misericórdia que Jesus não menciona nos evangelhos. Porém, era uma prática comum no judaísmo, assim como na transversalidade das culturas e religiões. Defendem os sociólogos que os rituais religiosos mais ancestrais da humanidade são os ritos fúnebres, pois é nesses momentos que este mundo toca o outro, que a vida toca a morte. Sepultar não é apenas consolação dos vivos, mas homenagem aos mortos, um último gesto por aquele que partiu e que não se destruiu. Ns ritos fúnebres nas nossas comunidades, auxiliamos os nossos irmãos a atravessar a dor e o luto?

Crer na ressurreição da carne, na vida eterna, faz parte da oração pela qual professamos nossa fé.

No Livro de Tobias encontramos o seguinte: Tobit com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos (Tb 1, 20).

O Novo Catecismo da Igreja Católica, assim diz: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300).

Cada pessoa é templo do Espírito Santo e mesmo depois de morta, seu corpo merece respeito.

O velório, ou guarda do corpo é muito válido, importante e edificante, tanto para o morto, como para os familiares.

Da parte do falecido pelas orações feitas em seu favor, da parte dos familiares pela oportunidade de perdão, conversão e reflexão. Sobre isto aprenderemos mais nas obras espirituais.

3. Qual o efeito das Obras de misericórdia em quem as pratica?
O exercício das Obras de misericórdia comunica graças a quem as exerce. No evangelho de São Lucas Jesus diz: ‘Dai, e ser-vos-á dado’. Por isso, com as Obras de misericórdia fazemos a vontade de Deus, damos algo que é nosso aos outros e o Senhor promete que nos dará também a nós aquilo de que necessitamos.
Por outro lado, um modo de ir apagando a pena que fica na alma pelos nossos pecados já perdoados é mediante as boas obras. Boas obras são, obviamente as Obras de misericórdia. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7), é uma das Bem-Aventuranças.

As Obras de misericórdia também nos vão tornando mais parecidos com Jesus, nosso modelo, que nos ensinou como deve ser a nossa atitude para com os outros. No evangelho de São Mateus encontramos as seguintes palavras de Cristo: “Não entesoureis tesouros na terra, onde a traça os corrói, e onde os ladrões os roubam, mas amontoai tesouros no céu, onde a traça os não corrói, onde os ladrões não os roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Seguindo este ensinamento do Senhor trocamos os bens temporais pelos eternos, que são os que valem de verdade.

*****

 

As Obras de misericórdia espirituais: breve explicação

1) Ensinar os ignorantes

Consiste em ensinar os ignorantes em qualquer matéria: também sobre temas religiosos. Este ensino pode ser levado a cabo através de escritos ou da palavra, por qualquer meio de comunicação ou diretamente.

Como diz o Livro de Daniel, “os que ensinam a justiça ao povo, brilharão como as estrelas pela eternidade sem fim” (Dan 12, 3b).

2) Dar bom conselho

Um dos dons do Espírito Santo é o dom do conselho. Por isso, quem desejar um bom conselho deve, primeiramente, estar em sintonia com Deus, pois não se trata de dar opiniões pessoais, mas de aconselhar bem a quem necessita de um guia.

3) Corrigir os que erram

Esta obra de misericórdia refere-se acima de tudo ao pecado. De facto, outra maneira de formular esta obra é: Corrigir o pecador.

A correção fraterna é explicada pelo próprio Jesus no evangelho de São Mateus: “Se o teu irmão pecar, fala com ele a sós para o corrigir. Se te escutar, ganhaste o teu irmão” (Mt 19, 15-17).

Devemos corrigir o nosso próximo com mansidão e humildade. Muitas vezes será difícil fazê-lo, mas, nesses momentos, podemos lembrar-nos do que diz o apóstolo S. Tiago no final da sua Carta: “aquele que converte um pecador do seu erro salvará da morte a sua alma e obterá o perdão de muitos pecados.” (St 5, 20)

4) Perdoar as injúrias

No Pai Nosso dizemos: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, e o mesmo Senhor esclarece: “se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas” (Mt 6, 14-16).

Perdoar as ofensas superar a vingança e o ressentimento. Significa tratar amavelmente a quem nos ofendeu.
O melhor exemplo de perdão no Antigo Testamento é o de José, que perdoou aos irmãos o terem tentado matá-lo e depois vendê-lo. “Não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós próprios, por me terdes vendido para este país; porque foi para podermos conservar a vida que Deus me mandou para aqui à vossa frente” (Gen 45, 5).

E o maior perdão do Novo Testamento é o de Cristo na Cruz, que nos ensina que devemos perdoar tudo e sempre: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).

5) Consolar os tristes

O consolo para o triste, para aquele que passa por alguma dificuldade é outra obra de misericórdia espiritual.
Muitas vezes, irá a par com dar algum bom conselho que ajude a superar essas situações de dor ou tristeza. Acompanhar os nossos irmãos em todos os momentos, mas principalmente nos mais difíceis, é pôr em prática o comportamento de Jesus que se compadecia com a dor alheia. Um exemplo vem no evangelho de S. Lucas. Trata-se da ressurreição do filho da viúva de Naim: “Quando estavam perto da porta da cidade, viram que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que era viúva; e, a acompanhá-la, vinha muita gente da cidade. Vendo-a, o Senhor compadeceu-se dela e disse-lhe: «Não chores.» Aproximando-se, tocou no caixão, e os que o transportavam pararam. Disse então: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!». O morto sentou-se e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe” (Lc 7, 12-16).

6) Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo

A paciência face aos defeitos dos outros é virtude e é uma obra de misericórdia. No entanto, há um conselho muito útil: quando suportar esses defeitos causa mais dano que bem, com muita caridade e suavidade, deverá fazer-se uma advertência.

7) Rezar a Deus por vivos e defuntos

S. Paulo recomenda rezar por todos sem distinção, também por governantes e autoridades, pois “Ele quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (ver 1 Tm 2, 2-3).

Os falecidos que estão no Purgatório dependem das nossas orações. É uma boa obra rezar por eles, para que sejam libertados dos seus pecados (ver 2 Mac 12, 46).

 

Enquanto cristãos, é de grande importância colocarmos em prática as catorze obras de misericórdia, tanto estas Sete Obras de Misericórdia Corporais, quanto espirituais.

Através delas, reafirmamos a nossa fé em Deus e demonstramos que a nossa crença não se limita apenas às palavras, mas também está nas nossas ações.


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