Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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quinta-feira, 27 de abril de 2023

a das famílias - meditação

 

 

Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23, 34).

Ao longo de nossa existência sempre ouvimos falar que a mágoa, o ódio, o ressentimento são brasas que carregamos para jogar naqueles que nos ofenderam, mas que quem se queima é quem as carrega; venenos que tomamos esperando que os outros morram envenenados; fardos pesados que carregamos à exaustão sem nada obtermos em troca. Mochilas cheias daquilo que não nos faz bem; que tira nossa alegria de viver; que afugenta o sol de cada dia nos deixando nas trevas… longe da luz que é Jesus que a todos perdoa.

Foram muitas as vezes que Jesus ensinou seus discípulos a perdoarem. Tomemos como exemplos algumas passagens da Sagrada Escritura: A Oração do Pai Nosso (Mt 6, 14-15) “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens tampouco vosso Pai vos perdoará.”  Em  Mt 18, 21-22, Pedro pergunta ao Mestre:  “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?;  Respondeu-lhe Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”   Perdoar não é tarefa simples, especialmente quando temos que perdoar a nós mesmos, a nós mesmas. É uma atitude de amor. Amor grandioso que nos impulsiona a imitar o Mestre.  Requer fé e crescimento espiritual que nos façam enxergar nossa pequenez, fraquezas e limitações diante do amor incondicional do Criador para com todas as suas criaturas…

Pedir desculpas deveria ser algo tão natural quando dizer bom dia, boa tarde… mas não é assim… requer abertura da mente e do coração. Requer “mãos limpas e  coração puro…”, requer atitude cristã. No Ano Santo da Misericórdia, 2015/2016, exortou nosso querido Papa Francisco, “possa cada família cristã tornar-se um lugar privilegiado onde se experimenta a alegria do perdão. O perdão é a essência do amor, que sabe compreender o erro e remediá-lo. “Pobre de nós, se o Senhor não nos perdoasse”. É no seio da família, acrescentou, que as pessoas são educadas para o perdão, porque se tem a certeza de ser compreendidas e amparadas, não obstante os erros que se possam cometer.” Pratiquemos a conversão… A Quaresma, mais que os outros tempos litúrgicos,  é o  tempo ideal para retomarmos o caminho certo… Livremo-nos do que nos escraviza e maltrata… do que nos faz sofrer e adoecer… soltemos as correntes que nos impedem de caminhar… aprendamos a olhar para a frente… deixemos o passado com o passado e caminhemos livres rumo à santidade.  Que a prática do Jejum e da Oração nos fortaleçam  para a grandeza deste gesto de amor. Que o Espírito Santo nos impulsione aos confessionários e a  uma boa confissão.

Como o Pai Misericordioso da parábola do Filho Pródigo, Lc 15, 11-21, estejamos sempre de braços abertos para acolher, cheios de compaixão,  todos aqueles que esperam de nós apenas um gesto, um abraço.  E como o filho arrependido saibamos voltar para a casa do Pai: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.”

Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.

Família: Lugar de Perdão

Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Temos queixas uns dos outros. Decepcionamos uns aos outros. Por isso, não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas. Sem perdão a família adoece. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. É por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz alegria onde a mágoa produziu tristeza; cura, onde a mágoa causou doença.

Papa Francisco.

 

Família espaço de amor e perdão

  

Durante o Sínodo sobre a família (2015-2016), meditou-se profundamente sobre a vocação e a missão da família na vida da Igreja e da sociedade contemporânea.

Hoje gostaria de sublinhar este aspecto: que a família é uma grande escola de preparação para o dom e para o perdão recíproco,sem o qual nenhum amor pode ser duradouro. Sem se doar e sem se perdoar, o amor não subsiste, não perdura. Na oração que Ele mesmo nos ensinou — ou seja, o Pai-Nosso — Jesus leva-nos a pedir ao Pai: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». E no fim comenta: «Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, o vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco o vosso Pai vos perdoará» (Mt 6, 12.14-15). Não se pode viver sem se perdoar, ou pelo menos não se pode viver bem, especialmente em família. Todos os dias cometemos injustiças uns contra os outros. Devemos ter em consideração estas injustiças, devidas à nossa fragilidade e ao nosso egoísmo. No entanto, o que nos pedem é que curemos imediatamente as feridas que causamos uns aos outros, que voltemos a tecer imediatamente os fios que dilaceramos em família. Se esperarmos demais, tudo se tornará mais difícil. E existe um segredo simples para curar as feridas e para resolver as acusações. É este: não deixar que o dia termine sem pedir perdão, sem fazer as pazes entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs... entre nora e sogra! Se aprendermos imediatamente a pedir e a conceder o perdão recíproco, as feridas curam-se, o matrimónio fortalece-se e a família se torna um lar cada vez mais sólido, que resiste aos abalos das nossas pequenas e grandes maldades. E para isto não é necessário pronunciar um grande discurso, mas é suficiente uma carícia: uma carícia e tudo acaba e recomeça. Mas nunca termineis o dia em guerra!

Se aprendermos a viver assim em família, façamo-lo também fora, onde quer que nos encontremos. É fácil ser cépticos acerca disto. Muitos — inclusive entre os cristãos — pensam que é um exagero. Diz-se: sim, são palavras bonitas, mas é impossível pô-las em prática. Mas graças a Deus não é assim. De facto, é precisamente ao receber o perdão de Deus que. por nossa vez, somos capazes de perdão em relação aos outros. Por isso, Jesus faz-nos repetir estas palavras cada vez que recitamos a oração do Pai-Nosso, isto é, todos os dias. E é indispensável que, numa sociedade muitas vezes impiedosa, existam lugares, como a família, onde nós aprendemos a perdoar-nos uns aos outros.

Os ensinamentos da Igreja reavivam a nossa esperança também nisto: a capacidade de perdoar e de se perdoar faz parte da vocação e da missão da família. A prática do perdão não só salva as famílias da divisão, mas torna-as capazes de ajudar a sociedade a ser menos malvada e menos cruel. Sim, cada gesto de perdão repara a casa das fendas e solidifica as suas paredes. A Igreja, queridas famílias, está sempre ao vosso lado para vos ajudar a construir a vossa casa sobre a rocha da qual Jesus falou. E não nos esqueçamos estas palavras que precedem imediatamente a parábola da casa: «Não quem diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus mas aquele que faz a vontade do Pai». E acrescenta: «Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos o teu nome e exorcizamos demónios em teu nome? Eu porém declararei a eles: nunca vos conheci» (cfr Mt 7, 21-23). É uma palavra forte, sem dúvida, que tem a finalidade de nos chocar e nos chamar à conversão.

Garanto-vos, queridas famílias, que se fordes capazes de caminhar sempre cada vez mais decididamente na via das bem-aventuranças, aprendendo e ensinando a perdoar-vos reciprocamente, em toda a grande família da Igreja crescerá a capacidade de dar testemunho da força renovadora do perdão de Deus. Diversamente, fazemos pregações lindíssimas, e talvez até esmagamos algum diabo, mas no final o Senhor não nos reconhecerá como os seus discípulos, porque não tivemos a capacidade de perdoar e de nos fazer perdoar pelos outros!

Com esta intenção, rezemos juntos: «Pai nosso, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido».