Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23, 34).
Ao longo de
nossa existência sempre ouvimos falar que a mágoa, o ódio, o ressentimento são
brasas que carregamos para jogar naqueles que nos ofenderam, mas que quem se
queima é quem as carrega; venenos que tomamos esperando que os outros morram
envenenados; fardos pesados que carregamos à exaustão sem nada obtermos em
troca. Mochilas cheias daquilo que não nos faz bem; que tira nossa alegria de
viver; que afugenta o sol de cada dia nos deixando nas trevas… longe da luz que
é Jesus que a todos perdoa.
Foram muitas
as vezes que Jesus ensinou seus discípulos a perdoarem. Tomemos como exemplos
algumas passagens da Sagrada Escritura: A Oração do Pai Nosso (Mt 6, 14-15)
“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos
perdoará. Mas se não perdoardes aos homens tampouco vosso Pai vos perdoará.”
Em Mt 18, 21-22, Pedro pergunta ao Mestre: “Senhor, quantas
vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?;
Respondeu-lhe Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes
sete.” Perdoar não é tarefa simples, especialmente quando temos que
perdoar a nós mesmos, a nós mesmas. É uma atitude de amor. Amor grandioso que
nos impulsiona a imitar o Mestre. Requer fé e crescimento espiritual que
nos façam enxergar nossa pequenez, fraquezas e limitações diante do amor
incondicional do Criador para com todas as suas criaturas…
Pedir
desculpas deveria ser algo tão natural quando dizer bom dia, boa tarde… mas não
é assim… requer abertura da mente e do coração. Requer “mãos limpas e
coração puro…”, requer atitude cristã. No Ano Santo da Misericórdia,
2015/2016, exortou nosso querido Papa Francisco, “possa cada família cristã
tornar-se um lugar privilegiado onde se experimenta a alegria do perdão. O
perdão é a essência do amor, que sabe compreender o erro e remediá-lo. “Pobre
de nós, se o Senhor não nos perdoasse”. É no seio da família, acrescentou, que
as pessoas são educadas para o perdão, porque se tem a certeza de ser
compreendidas e amparadas, não obstante os erros que se possam cometer.”
Pratiquemos a conversão… A Quaresma, mais que os outros tempos
litúrgicos, é o tempo ideal para retomarmos o caminho certo…
Livremo-nos do que nos escraviza e maltrata… do que nos faz sofrer e adoecer…
soltemos as correntes que nos impedem de caminhar… aprendamos a olhar para a
frente… deixemos o passado com o passado e caminhemos livres rumo à santidade.
Que a prática do Jejum e da Oração nos fortaleçam para a grandeza
deste gesto de amor. Que o Espírito Santo nos impulsione aos confessionários e
a uma boa confissão.
Como o Pai
Misericordioso da parábola do Filho Pródigo, Lc 15, 11-21, estejamos sempre de
braços abertos para acolher, cheios de compaixão, todos aqueles que
esperam de nós apenas um gesto, um abraço. E como o filho arrependido
saibamos voltar para a casa do Pai: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho.”
Santa Maria,
mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
Família:
Lugar de Perdão
Não existe
família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos
casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Temos queixas uns
dos outros. Decepcionamos uns aos outros. Por isso, não há casamento saudável
nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa
saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma
arena de conflitos e um reduto de mágoas. Sem perdão a família adoece. O perdão
é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. Quem não
perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que
intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É
autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente. É por isso
que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e
não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz alegria onde
a mágoa produziu tristeza; cura, onde a mágoa causou doença.
Papa Francisco.