Durante o Sínodo sobre a família (2015-2016), meditou-se
profundamente sobre a vocação e a missão da família na vida da Igreja e da sociedade
contemporânea.
Hoje gostaria de sublinhar este aspecto: que a família é uma grande
escola de preparação para o dom e
para o perdão recíproco,sem o qual nenhum amor pode ser duradouro. Sem
se doar e sem se perdoar, o amor não subsiste, não perdura. Na oração que Ele mesmo
nos ensinou — ou seja, o Pai-Nosso — Jesus leva-nos a pedir ao Pai: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido». E no fim comenta: «Porque se perdoardes
aos homens as suas ofensas, o vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não
perdoardes aos homens, tampouco o vosso Pai vos perdoará» (Mt 6, 12.14-15). Não se pode viver
sem se perdoar, ou pelo menos não se pode viver bem, especialmente em família. Todos
os dias cometemos injustiças uns contra os outros. Devemos ter em consideração estas
injustiças, devidas à nossa fragilidade e ao nosso egoísmo. No entanto, o que nos
pedem é que curemos imediatamente as feridas que causamos uns aos outros, que voltemos
a tecer imediatamente os fios que dilaceramos em família. Se esperarmos demais,
tudo se tornará mais difícil. E existe um segredo simples para curar as feridas
e para resolver as acusações. É este: não deixar que o dia termine sem pedir perdão,
sem fazer as pazes entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs...
entre nora e sogra! Se aprendermos imediatamente a pedir e a conceder o perdão recíproco,
as feridas curam-se, o matrimónio fortalece-se e a família se torna um lar cada
vez mais sólido, que resiste aos abalos das nossas pequenas e grandes maldades.
E para isto não é necessário pronunciar um grande discurso, mas é suficiente uma
carícia: uma carícia e tudo acaba e recomeça. Mas nunca termineis o dia em guerra!
Se aprendermos a viver assim em família, façamo-lo também fora, onde
quer que nos encontremos. É fácil ser cépticos acerca disto. Muitos — inclusive
entre os cristãos — pensam que é um exagero. Diz-se: sim, são palavras bonitas,
mas é impossível pô-las em prática. Mas graças a Deus não é assim. De facto, é precisamente
ao receber o perdão de Deus que. por nossa vez, somos capazes de perdão em relação
aos outros. Por isso, Jesus faz-nos repetir estas palavras cada vez que recitamos
a oração do Pai-Nosso, isto é, todos os dias. E é indispensável que, numa sociedade
muitas vezes impiedosa, existam lugares, como a família, onde nós aprendemos a perdoar-nos
uns aos outros.
Os ensinamentos da Igreja reavivam a nossa esperança também nisto: a capacidade de
perdoar e de se perdoar faz parte da vocação e da missão da família. A prática do
perdão não só salva as famílias da divisão, mas torna-as capazes de ajudar a sociedade
a ser menos malvada e menos cruel. Sim, cada gesto de perdão repara a casa das fendas
e solidifica as suas paredes. A Igreja, queridas famílias, está sempre ao vosso
lado para vos ajudar a construir a vossa casa sobre a rocha da qual Jesus falou.
E não nos esqueçamos estas palavras que precedem imediatamente a parábola da casa:
«Não quem diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus mas aquele que faz a vontade
do Pai». E acrescenta: «Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos
o teu nome e exorcizamos demónios em teu nome? Eu porém declararei a eles: nunca
vos conheci» (cfr Mt 7,
21-23). É uma palavra forte, sem dúvida, que tem a finalidade de nos chocar e nos
chamar à conversão.
Garanto-vos, queridas famílias, que se fordes capazes de caminhar
sempre cada vez mais decididamente na via das bem-aventuranças, aprendendo e ensinando
a perdoar-vos reciprocamente, em toda a grande família da Igreja crescerá a capacidade
de dar testemunho da força renovadora do perdão de Deus. Diversamente, fazemos pregações
lindíssimas, e talvez até esmagamos algum diabo, mas no final o Senhor não nos reconhecerá
como os seus discípulos, porque não tivemos a capacidade de perdoar e de nos fazer
perdoar pelos outros!
Com esta intenção, rezemos juntos: «Pai nosso, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido».
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