Pasárgada

…Cheguei no momento da criação do mundo e resolvi não existir. Cheguei ao zero-espaço, ao nada-tempo, ao eu coincidente com vós-tudo, e conclui: No meio do nevoeiro é preciso conduzir o barco devagar.


Serei o que fui, logo que deixe de ser o que sou; porque quando fui forçado a ser o que sou, foi porque era o que fui.

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sexta-feira, 17 de novembro de 2017


MEMÓRIA DE SANTA ISABEL DA HUNGRIA
Lc 19, 11-28
Os dons que temos não nos pertencem, 
mas sim a Deus, que é o Senhor de tudo, 
de modo que os dons que recebemos de Deus devem ser ordenados para ele. 
Sendo assim, não podemos usar os nossos dons, 
nem mesmo os dons naturais,
somente em vista da nossa realização e da nossa promoção pessoal, 
mas devemos colocá-los a serviço de Deus e dos nossos irmãos e irmãs,
pois somente quando o dom se transforma em serviço
é que ele é capaz de multiplicar e de produzir frutos em abundância, 
contribuindo, assim, para que o Reino de Deus 
cresça cada vez mais no meio dos homens.

domingo, 12 de novembro de 2017

SER, EXISTÊNCIA, ESSÊNCIA, SUBSTÂNCIA
Em metafísica, a essência (do termo latino essentia) de uma coisa é constituída pelas propriedades imutáveis da mesma, que caracterizam sua natureza. O oposto da essência são os acidentes da coisa, isto é, aquelas propriedades mutáveis da coisa. Para o existencialismo, "a existência precede a essência", conceito formulado por Sartre, em que primeiro o ente existe e depois sua essência é introjetada durante o seu percurso como ser que existe no mundo.
Não há graus de existência; ou se é existente, ou não se é existente. O que há são graus de ser segundo a bondade ou nobreza, e tais graus fazem parte da quarta via tomista para provar a existência de Deus. Há, naturalmente, distintos modos de existir: fora da mente, na imaginação, etc. Mas não se pode dizer que o cão tem grau maior de existência que a erva, conquanto se deva dizer, sim, que o ser do cão é superior ao da erva. Em outras palavras, posso dizer que ser cão é ser mais que ser erva; mas não posso dizer que “existir [como] cão” é “existir” mais que “existir [como] erva”. Uma coisa, pois, é a distinção possível entre os modos de existência, outra a distinção entre os graus de ser. Ademais, existência é o ser em ato, mas é do ato de ser que decorre o ser em ato (e o ato de ser é participado por Deus a todas as coisas, incluídas as mesmas formas, que não dão o ser senão como causas segundas). – Por fim, a existência é o que responde à pergunta an sit (“se existe”), e só se distingue da essência segundo a razão; ao passo que o ser é a atualidade de todos os atos e o que há de mais íntimo às coisas: é o que há de mais próprio na Criação, e, nas criaturas, distingue-se realmente (in re) da essência (esta é uma das principais teses tomistas). Com efeito, nas criaturas a essência não é seu mesmo ser, senão que o tem por participação; ao passo que em Deus a Essência é o próprio Ser subsistente.
A loucura cartesiana (revelada na dúvida metódica) deve-se talvez em parte à mesma incapacidade de distinguir aqueles dois pares. A existência dos entes sensíveis é evidente (não assim a dos entes suprassensíveis: Deus, os anjos, a alma humana). Ora, o homem é sensível. Por conseguinte, a dúvida cartesiana é uma negação do evidente, razão por que se enquadra na fórmula segundo a qual “a filosofia moderna é um problema de psicopatologia” (É. Gilson). – E veja-se que, se a existência dos entes sensíveis é evidente, não assim seu ser como ato de ser e como realmente distinto de sua essência.
Qual a diferença então entre substância e essência?
A substância é, antes de tudo, o que subsiste em razão de si (o que subsiste em razão de outrem são os acidentes) e, depois, o que é sujeito ou suporte de acidentes. Toda e qualquer substância tem em si essência e ser, enquanto que os acidentes só os têm em outro, ou seja, na substância. A substância, pois, não “é” essência + ser; só em Deus se identificam substância, essência e ser. A substância, insista-se, tem em si essência e ser, e é esta a maneira mais própria de dizê-lo. – Por outro lado, essência = quiditas [quid (quididade)], ou seja, é aquilo que responde à pergunta “o que é”. Qual a essência ou quididade de homem? Ou seja, o que ele é? Animal racional, e esta é sua essência ou quididade (pelo gênero, animal, a essência do homem inclui carne e ossos [não esta carne e estes ossos], enquanto pela diferença específica, racional, a essência do homem inclui uma alma imaterial ou intelectiva). Vê-se assim que substância não é o mesmo que essência (embora, como dizem Aristóteles e S. Tomás, por vezes se use substância por essência e vice-versa).

Tomás de Aquino quase sempre usa o verbo esse (literalmente, “ser”) também com o sentido puro e simples de “existir”. Quando o nosso Doutor escreve utrum Deus sit, pode traduzir-se por “se Deus existe”. Veja-se a diferença, em português, entre o homem existe e o homem é animal racional; mas no latim de Tomás (o que também é possível em português), ainda que com sentido distinto, se usa em ambos os casos est (literalmente, “é”). Atente-se, ademais, a esta peculiaridade: antes de Tomás de Aquino sempre se usara existere para “existir”; e creio que, se ainda para o sentido existencial o Doutor Angélico usava o verbo esse, não é senão porque via a existentia justo como intimamente decorrente do esse ou actus essendi. – Note-se por fim que na pergunta tomista utrum Deus sit (em Suma Teológica, I, q. 2, a. 3) não se pergunta pelo modo do ser de Deus nem por seu grau, senão que simplesmente se pergunta se se pode afirmar a existência de Deus ou seu, digamos, “fato de ser” (se assim não fosse, não diria Tomás que o argumento idealista de Anselmo para provar a existência de Deus não explica o ateísmo).

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Dedicação da Basílica de Latrão
Celebramos nesta quinta-feira a Dedicação da Sacrossanta Basílica do Latrão. O que é a Basílica do Latrão? É a Sé Catedral da cidade de Roma, que foi construída entre os anos de 314 e 335 e fundada pelo Papa Melquíades na propriedade oferecida e doada para esse fim pelo imperador Constantino, ao lado do Palácio Lateranense. Mas, porque se chama Basílica do Latrão? Porque esta Basílica foi construída no terreno “dei Laterani”, ou seja, da família proprietária da chácara, herdada pela mulher de Constantino, o Imperador Romano, que a doou ao Papa.
Esta Basílica tem um significado muito especial para a cristandade: lá foram celebrados os cinco Concílios Ecumênicos. Diz a tradição da Santa Igreja que o aniversário de sua dedicação, celebrado originalmente só em Roma, comemora-se em todas as comunidades do rito romano com a finalidade maior de enaltecer o ministério petrino do Sumo Pontífice que de sua Basílica Patriarcal preside na caridade a única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo que congrega, por seu gesto primacial, todas as Igrejas de todo o orbe. A Basílica de Latrão, portanto, é a Mãe de todas as Igrejas de todo o mundo católico.
Até à construção do Vaticano o Santo Padre morava no Palácio Lateranense que é anexo a Basílica de mesmo nome. Portanto a Basílica do Latrão é a Catedral do Papa em Roma, é a Igreja que é a Mãe e cabeça de todas as Igrejas.
A Basílica do Latrão tem como padroeiro principal o Santíssimo Salvador. Tem como dois co-patronos, São João Batista, celebrado a 24 de Junho e São João Evangelista, celebrado a 27 de dezembro. Dois homens que caminharam nas estradas da salvação. João Batista, o precursor, aquele que preparou os caminhos para Jesus anunciando que Outro viria baptizar com o Espírito Santo, porque ele batizava com água. São João Evangelista, o apóstolo bem amado, o último apóstolo a morrer e com a sua morte se considera fechada às portas das revelações e dos ensinamentos bíblicos do Novo Testamento. Por isso mesmo o povo de Roma conhece a Basílica celebrada hoje como a Basílica de “São João do Latrão”.
DEO OPTIMO MAXIMO, ou seja, A DEUS ÓPTIMO E MÁXIMO celebramos a festa de hoje. Dedicada a Deus óptimo e máximo a Basílica de Latrão quer interpelar em cada um de nós um compromisso evangelizador renovado de profundo amor e seguimento a Nosso Senhor e Divino Salvador Jesus Cristo e a Sua Igreja. Não há Igreja no mundo que não seja dedicada a DEUS O SALVADOR. Todas as Igrejas, evidentemente são dedicadas a um Santo ou a uma Santa que viveram a radicalidade do Evangelho e servem-se como luzeiros na nossa caminhada de fé e de esperança cristã. Mas, estes santos viveram a sua vida, dedicaram a sua vida a DEUS ÓTIMO E MÁXIMO.
Todos nós participamos a cada domingo da celebração da liturgia eucarística que, via de regra, é celebrada dentro de uma Catedral, de uma Basílica, de uma Matriz, de uma Capela Filial, de um Oratório, de um Orago, de um centro comunitário, de uma praça ou no próprio logradouro público. A Igreja, esta Igreja como templo, dentro da qual estamos, é o edifício pelo qual todos nós nos reunimos para adorar a DEUS ÓTIMO E MÁXIMO, ao Divino Salvador.
Mas, graças a Deus, a Igreja transcende o templo de pedra. A Igreja é a comunidade viva de fiéis, é a reunião de todos os batizados que vem adorar ao Deus Salvador. Assim nos ensinou o Concílio Vaticano II: “A Igreja não se acha deveras consolidada, não vive plenamente, não é um perfeito sinal de Cristo entre os homens, se aí não existe um laicato de verdadeira expressão que trabalhe com a hierarquia. Porque o Evangelho não pode ser fixado na índole, na vida e no trabalho dum povo, sem a ativa presença dos leigos”(Cf. Decreto “Ad Gentes” n. 21). Continua o Concílio Ecumênico Vaticano II: “O principal dever dos homens e das mulheres é dar testemunho de Cristo pelo exemplo e pela palavra, na família, no seu ambiente social e no âmbito da profissão”(idem).
Vivemos todos dentro da grande comunidade de fiéis chamada Igreja ou “Ecclesía”, o que significa, assembléia ou comunidade de fiéis, comunidade do povo de Deus peregrino. São Paulo nos ensinou que a comunidade cristã é o templo de Deus, onde quer que esteja ou se que se reúna para o louvor do Deus Altíssimo e Onipotente. Todos os fiéis que fazem parte do corpo místico de Cristo constituem a comunidade orante, a comunidade militante e a comunidade padecente que formam a grande Igreja, Jerusalém celeste conforme celebramos há dois dias a Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus. O próprio fiel, pelo Batismo, é templo e morada do Espírito Santo. Todos nós somos membros da pedra viva, o “Corpo de Cristo”.
Assim, rezemos, pois, elevando nossos pensamentos ao Senhor da Vida para que a Igreja que peregrina no mundo, a partir do primado da Caridade de Bento XVI, que da Catedral Lateranense a todos abençõe a congrega na unidade, para que possamos todos cantar as alegrias eternas neste vale de lágrimas, aonde a justiça, a paz, a concórdia, a misericórdia e a acolhida fraternal sejam a nota de júbilo e louvor ao DEUS ÓTIMO E MÁXIMO que se consagra a Basílica do Latrão e que, diuturnamente, se consagra à vida de cada um dos cristãos. Amém!