A CONSTRUÇÃO SUBJETIVA INFANTIL NA PERSPECTIVA DE MELANIE
KLEIN
Como ocorre o desenvolvimento infantil segundo
Melanie Klein? Na psicanálise construída por Melanie Klein encontramos o conceito
de posição, tal conceito remete a forma de como se constitui a subjectividade do
bebé, e para Klein existem duas formas de constituição da subjectividade ou duas
posições, que acontecem de forma processual. Tais posições podem ser denominadas
de posição esquizo-paranóide e posição depressiva.
A posição esquizo-paranóide inicia no nascimento
e vai até os seis meses de idade. Na posição esquizo-paranóide o desenvolvimento
do eu é determinado pelos processos de introjecção e projecção. A primeira relação
objectal do bebé ocorre com o chamado seio amado e odiado – seio bom ou seio mau.
Os impulsos destrutivos e a angústia persecutória encontram-se no seu apogeu, assim
como os processos de divisão, onipotência, idealização, negação e controle dos objetos
internos e externos.
Segundo Melanie Klein a defesa primordial
é a clivagem, o seio é o objeto primordial e será dividido em seio bom e seio mau,
ou num bom objeto que o bebé possui e num mau objeto que está ausente, como mãe
nunca está sempre presente na vida do bebé para amamentá-lo ela se torna ausente
e o bebé com isso inaugura o processo de clivagem em sua subjetividade. Ele percebe
o seio como “bom” porque o amamenta e como “mau” porque se ausenta.
Como se percebeu, o bebé nessa fase se relaciona
com objetos parciais, o seio bom e mau, um objeto ideal e outro persecutório. Porém,
o objeto mau é projetado para fora do bebé como sendo perseguidores e destruidores
do objeto bom. Nessa fase vemos a existência de uma angústia persecutória, então
a meta da criança nessa fase é de possuir o objeto bom e introjetá-lo e também de
projetar o objeto mau para fora e assim evitar os impulsos destrutivos.
Num segundo momento, se desenvolve a posição
depressiva, ela inicia aos seis meses de idade, nesse momento a relação do bebé
com o mundo externo se torna mais diferenciada, aumentando sua capacidade de expressar
emoções de se comunicar com as outras pessoas.
Nesse momento, o bebé reconhece a mãe como
um único objeto, ou seja, o bebé começa a reconhecer a mãe como uma pessoa total
com existência própria e independente, fonte de experiências boas e más. A criança
compreende pouco a pouco que é ela quem ama e odeia a mesma pessoa, sua mãe, e assim
inaugura a experiência do chamado sentimento de ambivalência.
Agora o bebé percebe que antes temia a destruição
do seu objeto amado por perseguidores e agora ele teme que essa sua agressão possa
destruir o objeto ambivalentemente amado e odiado. Sua angústia deixa de ser paranóide
pra ser depressiva. E assim começa a se originar sentimentos de culpa e luto, como
afirma Melanie Klein.
Com isso se inicia um processo de reparação
dessa relação objetal ambivalente. Esse processo de reparação desse luto e culpa
é que será a melhor saída da posição depressiva. Esse processo se dá com a aceitação
da perda de parte do objeto, ocorrendo essa condição o bebé poderá restaurar o objeto
amado, porque somente assim ele poderá reparar o desastre ocorrido e assim preservar
o objeto amado de outros ataques dos objetos maus, esse processo de superação e
reparação, segundo Melanie Klein, é o chamado de trabalho de luto.
Através da aceitação da perda é que o bebé
passa a trabalhar saudavelmente a construção de sua subjetividade.
E de acordo com Melanie Klein, nós sempre
estaremos vivendo as posições esquizo-paranóide e depressiva ao decorrer de nossas
vidas, sempre de forma alternada, segundo a psicanálise kleiniana, essas são as
únicas formas de se viver a angustiante e terrível vida humana.
Fontes: 7.
NASIO, J. –D. Introdução às Obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1995.
COSTA, Teresinha. Psicanálise com crianças.
Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2007
NASIO, J. –D. Introdução às Obras
de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Ed.
Jorge Zahar, 1995.