Abordagem psicológica do Envelhecimento e
da velhice
O interesse da
psicologia sobre a velhice é relativamente recente, visto que a expansão sistemática
da Gerontologia só ocorre no final da década de 1950, principalmente em função
do rápido crescimento no número de pessoas idosas. Começam em 1928 as primeiras
pesquisas experimentais sobre a velhice, a respeito de tópicos tais como:
aprendizagem, memória e tempo de reação aos estímulos. No entanto, até 1940,
pouco se pesquisou sobre a vida adulta e a velhice, considerando que até então
esta foi a época de expansão e consolidação da psicologia da infância e da
adolescência (Baltes, 1995).
Um possível motivo para
o planejamento e a execução de um grande número de estudos empíricos acerca do
envelhecimento, deve-se ao fato de que os pesquisadores não encontravam na
psicologia do desenvolvimento uma resposta satisfatória para a realidade
pessoal de envelhecimento, nem para a velhice como fato social, fenômeno sem
precedentes na experiência da humanidade (Neri, 1995).
Ainda é enfatizado por
esta autora que, por muito tempo, a velhice foi estudada apenas dentro da
psicologia de desenvolvimento e com importância inferior ao estudo da
psicologia infantil.
O envelhecimento era
tratado como uma fase em que existem perdas, havendo perdas gradativas das
capacidades tanto físicas quanto psíquicas.
Segundo Baltes (1995), a
evolução do campo da psicologia do envelhecimento, no século XX, acarretou
mudanças também na natureza da psicologia do desenvolvimento que, em vários países,
especialmente nos EUA, era um campo sobreposto ao da psicologia infantil.
Basicamente, a rápida
emergência da psicologia do envelhecimento foi uma consequência da confluência
dessas duas correntes de interesses, originadas a partir da psicologia do desenvolvimento.
Primeiro: houve uma curiosidade acerca da repercussão da infância sobre o desenvolvimento
ulterior, ou seja, que consequências trariam, para a velhice, as experiências
de desenvolvimento ocorridas na infância e na adolescência. Segundo: os
psicólogos que trabalhavam com a vida adulta e a velhice passaram a estender o
âmbito de seus conceitos e de seus estudos para a direção oposta do curso de
vida (Baltes, 1995).
Erik Erikson um dos
pioneiros nos estudos sobre o desenvolvimento humano, com a formulação da
Teoria do Desenvolvimento durante toda a vida (1963,1964), explicitava que o desenvolvimento
se processa ao longo da vida e que o sentido da identidade de uma pessoa se desenvolve
através de uma série de estágios psicossociais durante toda a vida (Bee &
Mitchell, 1984).
Esta teoria compõe-se de
oito estágios, sendo o período da vida adulta (considerado após 41 anos)
denominado de integridade do ego versus desespero, sendo que a integridade do
ego é caracterizada por fatores intrínsecos à velhice como: dignidade,
prudência, sabedoria prática e aceitação do modo de viver, e desespero seriam
possivelmente medo da morte. Erikson, através destes estudos, contribuiu
significativamente para a compreensão das transformações ocorridas na velhice,
salientando-se que, até então, nenhum outro autor na psicologia havia dado
ênfase ao estágio do desenvolvimento humano contemplando a vida adulta.
Como apontam Bee e
Mitchell (1984), a teoria de Erikson colabora no sentido de oferecer sínteses
sobre o desenvolvimento cognitivo e da personalidade, sobretudo na vida adulta.
Após o desenvolvimento desta teoria, passaram-se décadas na psicologia sem a
formulação de uma outra teoria do desenvolvimento da vida adulta.
Outra teoria,
desenvolvida por Gould (1978), enfatiza os processos do desenvolvimento da velhice,
seguindo uma abordagem similar a de Erikson, propondo também estágios de desenvolvimento.
Estas teorias desencadearam, dentro da Psicologia do Desenvolvimento, relevância
a este estágio do desenvolvimento humano, pois neste período já era despertado,
em várias áreas do conhecimento, sobretudo Gerontologia, o interesse em
conhecer melhor os fenômenos peculiares ao processo de envelhecimento e à
velhice.
Denota-se, com os
avanços dos estudos da Psicologia do Envelhecimento, a busca da velhice
bem-sucedida, para isto alia-se a experiência de vida que os idosos possuem e
os fatores da personalidade para que estes possam desenvolver mecanismos que
contribuam para uma boa saúde física e mental, autonomia e envolvimento ativo
com a vida pessoal, a família, os amigos, o ócio, o tempo livre e as relações
interpessoais (Neri, 2004).
Na medida em que esta
nova área da psicologia toma corpo, vão ocorrendo também mudanças nos enfoques
do desenvolvimento humano, visto que este território foi ampliado, incluindo-se
novos contextos da vida e novos fenômenos evolutivos. Áreas como a psicologia clínica,
a psicologia organizacional e a psicologia do trabalho, também tiveram que se
adaptar a essas mudanças e novas perspectivas.
Segundo Neri (1995), a
psicologia do envelhecimento é hoje a área que se dedica à investigação das
alterações comportamentais que acompanham o gradual declínio na funcionalidade
dos vários domínios do comportamento psicológico, nos anos mais avançados da
vida adulta (p.13).
Um dos desafios
enfrentados pela psicologia do envelhecimento a priori foi conciliar os conceitos
de desenvolvimento e envelhecimento, tradicionalmente tratados como
antagônicos, tanto pelos cientistas, quanto pela sociedade civil e a família,
tendo em vista que se considerava a velhice como um período sem
desenvolvimento. Essa questão poderia ser amenizada com a ajuda da sociedade,
se esta providenciasse uma maior focalização em torno da longevidade, da saúde física
e da adequação do ambiente às peculiaridades da velhice.
Por fim, a velhice
constitui um estudo recente no âmbito da Psicologia de um modo geral, e na
Psicologia Social, em particular, no entanto, ao longo das últimas décadas têm
crescido significativamente as pesquisas e intervenções junto a este grupo
social, demonstrando a importância da compreensão deste objeto a partir da
ótica biopsicossocial.
Bibliografia
Baltes, P. B. (1995). Prefácio. Em: Neri,
A. L. (org) Psicologia do
Envelhecimento: uma área emergente. (pp.09-12). Campinas: Papirus.
Chauí, M. (1994). Os trabalhos da Memória.
Em: Bosi, E. Memória e Sociedade:
lembranças de velhos (pp. 17-36). São Paulo-SP: Companhia das Letras.
Peixoto, C. (1998). Entre o estigma e a
compaixão e os termos classificatórios: velho velhote, idoso terceira idade.
Em: Barros, M. L. de (org.), Velhice ou Terceira Idade?(p.15-17). Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas